O tempo, dizem, é o melhor remédio. Mas às vezes ele parece mais um analgésico fraco — alivia por um tempo, mas a dor continua lá, quieta, pulsando quando a mente se distrai. Depois de tudo, eu me fechei. Não foi de propósito, não foi vingança nem orgulho. Foi cansaço. Eu só queria viver sem que o passado me puxasse pelo colarinho toda vez que eu respirava fundo. As manhãs começaram a ganhar um padrão quase automático: acordar antes do despertador, ouvir a vó Cida tossindo na cozinha, o cheiro do café espalhando pela casa. Ela fazia questão de assobiar enquanto passava o pano na pia — um jeito de avisar que o dia já tava começando. Eu tomava banho, vestia a camisa da loja, e ela já vinha com a garrafinha de café pronta, como uma mãe de soldado. — Come alguma coisa, menino. Trabalha

