Eu já tinha esquecido da agitação do dia em que Clara entrou pela primeira vez na loja. Ou melhor… esquecido é modo de dizer, porque uma mulher como aquela não saía da cabeça de ninguém assim tão fácil. Ainda assim, eu tinha enterrado a lembrança debaixo de pilhas de orçamentos, propostas de financiamento e aquele jogo diário de encantar clientes. Estava justamente organizando uns contratos quando vi a porta de vidro se abrir e, como num filme em câmera lenta, ela entrou novamente. Clara. A elegância vinha junto com ela, como se fosse um vestido invisível. O salto firme batendo no piso, a postura ereta, os olhos atentos… parecia que cada detalhe do ambiente tinha que se curvar à presença dela. — Bom dia, Beto. — A voz doce, firme, mas carregada de simpatia, chegou até mim antes mesmo do

