O dia começou como qualquer outro. Cheguei na loja de carros ainda com o gosto do café da vó na boca — forte, doce e com aquele toque de canela que só ela sabia acertar. O sol batia nas vitrines da concessionária, refletindo o brilho dos carros recém-polidos. O cheiro de cera automotiva e couro novo preenchia o ambiente. Era o tipo de manhã que me fazia esquecer dos problemas, pelo menos por algumas horas. — Fala, Betão! — gritou o Zé, meu colega de vendas, passando com uma prancheta na mão. — Hoje tem cliente de peso chegando, hein? Fica ligado. Dei uma risada curta. — Cliente de peso é o que a gente precisa mesmo, Zé. As metas tão puxadas. O movimento estava normal. Casais olhando SUVs, senhores negociando sedãs, jovens babando nos carros esportivos. Eu estava no balcão, atualizando

