A madrugada cheirava a eletricidade. Dormia com o celular no criado mudo — costume feio, mas necessário — e quando o aparelho vibrou no escuro eu quase derrubei ele, de tanta pressa. Olhei no visor e vi: número da casa da Clara. O coração já subiu pra garganta sem eu entender por quê. Atendi, e do outro lado veio um soluço que me quebrou o peito inteiro: era o Theo, chocado, com a voz fina, tremendo. — Beto… — ele falou, chorando. — O Daniel quebrou o meu videogame. Ele disse que eu passo muito tempo nele e que eu tenho que gostar dele do mesmo jeito que eu gosto de você. Ele bateu… bateu no videogame e jogou os controles no chão. A Alice tá chorando. A mamãe saiu pra um jantar e deixou a gente com ele. Eu tô com medo, Beto. Pode buscar a gente? Por favor… As palavras dele foram socos.

