Peso do Amanhã

931 Words

A noite já tinha engolido a cidade inteira. As luzes amareladas dos postes jogavam sombras compridas no chão irregular da calçada, e o carrinho de lanches começava a desmontar sua estrutura, recolhendo bandejas e lavando a chapa. Eu e Clara ainda estávamos ali, cada um com uma latinha quase vazia na mão, olhando pro nada e, ao mesmo tempo, pro tudo. Foi ela quem quebrou o silêncio: — Engraçado… eu nem te conheço direito, mas me sinto mais à vontade pra falar com você do que com muita gente que faz parte da minha vida há anos. Soltei um riso baixo. — É porque eu sou vendedor de carro. A gente ouve história de cliente o dia todo. Já virou terapia. Ela riu junto, aquela risada leve, quase infantil, que parecia iluminar o rosto cansado. Mas logo ficou séria de novo. — Obrigada por me ouvi

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