Soberana

A Verdade no Olhar Errado

Desmaiei na rua.

O sol forte, o cansaço, a dor no corpo e talvez, o peso da mentira que crescia em mim, acordei nos braços de Rodrigo.

— “Calma, você tá bem. Já chamei ajuda.”

— “Não… não chama ninguém. Só me leva… pra casa.”

Ele hesitou, mas concordou, no caminho, silêncio, mas os olhos dele… gritavam.

— “Julieta… posso te fazer uma pergunta?”

— “Claro.”

— “Você sabe quem é o Gustavo?”

O mundo parou, meu estômago se revirou.

— “O quê?”

— “O homem com quem você vive. O nome dele não é Mateo. É Gustavo, eu…fui amigo dele, de vocês,do Thiago seu irmão, e Pablo, você é a Milena, não é?”

Minha cabeça girava, meu corpo suava frio,mas antes que eu pudesse responder, a porta se abriu com violência Mateo, seus olhos… como os de um animal encurralado, as mãos fechadas em punhos.

— “O que tá acontecendo aqui?”

Rodrigo se virou com calma.

Como se já esperasse.

— “Gustavo.”

— “Não me chama assim.”

— “Faz anos que a gente não se vê… e ainda tá brincando de mentira?”

Mateo avançou, sem palavras, um soco seco no estômago, Rodrigo caiu de joelhos,Mateo chutou seu peito.

— “Você não devia ter voltado.”

— “Ela vai lembrar. E quando lembrar… vai te odiar de novo.”

Mateo parou, respirava ofegante, suado, louco.

— “Ela é só minha agora. E não vai a lugar nenhum.”

Fui até ele, coloquei as mãos em seu peito, acalmei sua respiração, beijei sua boca, mesmo com o gosto do sangue, de Rodrigo no chão todo machucado, mesmo com o medo fervendo na minha barriga.

— “Vamos pra casa, me leva com você.”

E ele me levou, naquela noite, Mateo chorou, me fez amor como se eu fosse morrer, me implorou:

— “Não me deixa, mesmo que você descubra tudo… fica, só fica.”

Eu fechei os olhos,e fingi, porque algo dentro de mim…está acordando, e eu não sei se é Milena, ou algo pior, as luzes estavam apagadas, Mateo dormia, eu ouvia sua respiração pesada, o braço ainda jogado sobre minha cintura como se o mundo inteiro pudesse me roubar enquanto ele sonhava, desviei devagar, pisei com cuidado, cada passo no chão de madeira parecia um grito, mas ele não acordou, fui até o cômodo que ele sempre trancava, aquela porta que nunca abria, aquela chave escondida na estante de livros, atrás da cópia de O Estrangeiro, encontrei, girei a maçaneta, e entrei, não era um quarto, era um altar, um altar para mim? fotos, recortes, cartas, mechas de cabelo, e o mais estranho: um vestido sujo de sangue, dobrado com cuidado, envolto em um plástico transparente, meus olhos ardiam, meu corpo tremia, peguei um envelope, li a primeira página, a letra parecia com a minha.

_"Rodrigo me prometeu que ficaria comigo.

Mas eu nunca quis promessas.

Só queria que ele não fosse embora.

O Bruno não sabe, Peu terminou comigo e o Gustavo…

Gustavo me olha como se fosse dono de mim.

Eu tô grávida e não sei ao certo de quem."

Caí no chão, o mundo girava, e então…veio, a primeira lembrança.

Chuva, uma briga, uma arma, um corpo sem vida, em sangue, em dor e um nome “Bruno...”

Minha barriga doía, meus olhos não piscavam, e vi meu reflexo no espelho, vi Milena, saí do cômodo com a alma em carne viva, voltei pro quarto Mateo ainda dormia, a respiração calma de quem não merece paz, deitei ao lado dele, fitei o teto, e ali, jurei que ia acabar com tudo, mas com calma, com amor, com veneno doce, de manhã, ele me acordou com café e beijos no pescoço.

— “Sonhou comigo?”

— “Sempre.” — sorri, ele sorriu de volta, e eu senti no coração o jogo virou, agora…eu sei quem sou, mais importante, sei quem ele é, e isso…vai matá-lo, devagar.Rodrigo me encontrou num café discreto, longe dos olhos de Gustavo ou melhor, Mateo, seus olhos estavam cheios de cautela e uma ponta de dor, como se carregar o passado fosse um fardo que ele não queria dividir comigo, mas sentia que tinha que fazer.

— “Julieta… tem coisas que você precisa lembrar. Ou pelo menos, saber.”

Eu tomei um gole do café, tentei disfarçar o medo que apertava meu peito.

— “Eu só sei o que vivi com você até os 17 anos, depois disso, você sumiu, e eu não sei certo o que aconteceu, pois acabei me mudando com minha mãe”

Ele suspirou e começou.

— “Você era uma garota forte, teimosa… e orgulhosa demais pra admitir que precisava de ajuda, perdeu um filho quando era adolescente,que todos achavamos que era do Gustavo, conseguencia de uma a***o no dia do seu aniversario de 16 anos,em uma festa da casa do Pablo,quando voce descobriu ,estava namorando o Pablo,estavam juntos quando descobriram a gravidez,no mesmo dia ele terminou com voce, meses depois voce perdeu o bebe em um ascidente, voce foi atropelada,isso te destruiu, mas você não deixava ninguém chegar perto.”

Eu senti o nó na garganta.

— “Gustavo… era seu amigo desde sempre vocês cresceram juntos la em curitiba, no brasil,ele sempre gostou de voce ,ou da Milena, e serio voces são exatamente iguais,tirando o comprimento e a cor do cabelo,voces namoraram por um tempo, ele se machucou e também te machucou. Te abusou, e quando você tentou se afastar, ele não aceitou.”

— “Eu lembro.”

— “ N epoca do colegio,Thiago o Irmão da Milena,falava que ela so tinham amado uma cara na vida , o Bruno ,que depois geral ficou sabendo que era primo do Gustavo, tudo foi confuso.”

Ele me olhou com sinceridade.

— “Você tem uma madrinha, Márcia, ela é avó do Gustavo, ela ajudou a te criar, te criou como uma filha, e você tem um irmão gêmeo, Thiago, que sempre foi seu porto seguro.”

Eu balancei a cabeça, engolindo as emoções.

— “Mas depois dos 17 , Rodrigo ?

— “ Eu não sei nada, como falei eu me mudei, logo apos o seu ascidente, só teu irmão como contar o resto”

Voltei para casa com o peso dessas palavras,mais forte,mas também mais perdida, eu tinha fragmentos, imagens e sensações, mas não a verdade completa, e no meio disso tudo, uma certeza: eu ia usar tudo que sabia, para jogar com ele, para sobreviver, Mateo me esperava na sala, com aquele olhar faminto que me fez lembrar de tudo que passei,do que Milena passou, e de tudo que ainda podia conquistar.

— “Você andou sumida.”

— “Estava resolvendo coisas.”

— “Está diferente.”

— “Melhor.”

— “Só espero que continue minha.”

Eu sorri, deixando a falsidade fluir.

— “Sempre sua.”

Naquela noite, deixei ele me ter, mas por dentro, eu já estava planejando, porque a Julieta que ele conhece…não sabe tudo, e a Milena que está voltando…vai jogar o jogo até o fim.