17 Anos

1172 Words
Milena Nos meses seguintes, Eu comecei a montar algo próprio. Sol tinha contatos que foram de grande " ajuda" recrutei discretamente jovens, gente invisível. Treinei eles com tudo que aprendi. Não como soldados, mas como mentes. Hackers. Intermediários. Espiões. Comunicadores. E eu, no centro de tudo,e Fabio como meu braço direito,com a prisão de sua mãe ,ele assumiu os negócios da família,e com ele ao meu lado, criei alianças que ninguém via chegando. Quando meu avô descobriu o que eu estava fazendo, não mandou parar. Mandou me chamar. O encontro foi numa mansão escondida no alto do moro, no rio de janeiro — “Então tu decidiu não escolher lado?” — “Eu escolhi o topo.” O velho Bene riu, mas havia um brilho de respeito e um pingo de medo nos olhos dele. — “Cuidado, menina. No topo, o tombo é grande.” — “Não se preocupe, vô,isso to no meu sangue,mais esse topo eu vou subi sozinha.” Eu agora era Soberana, líder de uma célula invisível que desafiava os poderes que achavam dominar o Brasil. E eu ainda estava só começando. Rio de Janeiro – 09 de janeiro – 23h04 Quem diria que eu chegaria até aqui. Hoje é meu aniversário. Ou, como eu costumo chamar agora: mais um dia viva. Thiago me mandou mensagem do Japão às 3h da manhã. “Feliz vida,minha Soberana.” Só isso. Frase curta. Mas do meu irmão, vale como um abraço apertado. Ele é o único que me conhece de verdade. Que conhece a Milena antes da "dor" Antes da morte do nosso pai,antes das traições da Maria clara, antes do Peu,antes do bebe,antes de Gustavo virar um vulto doentio, antes de... Bruno. É também o aniversário dele. Bruno. O pai do filho que eu nunca segurei nos braços,o homem que partiu e deixou um buraco onde antes havia sonho. Eu sei que ele não sabe da verdade,Bruno acha que aquela noite foi só uma fuga. Pra mim foi mais que isso,foi o único momento real num mundo que só me dava mentiras,mas agora estou de volta, no Rio Ironia? Talvez. Coincidência? Eu não acredito nisso. Estou hospedada numa das casas do Alto na Penha, da rede do meu avô. Eu sei que ele sabe que estou aqui. Ele sempre sabe. Pego a arma, verifico o pente. Está tudo limpo,hoje eu não sou só Milena. Hoje eu sou Soberana, a neta do homem que fundou o terror, a irmã do herdeiro da Yakuza, a ex de um obsessivo, o pesadelo de uma escola inteira…e a mulher que ainda sonha com os olhos de Bruno. 23h23. Mensagem no celular. Número desconhecido. Só diz: “Parabéns. Encontro na laje do 82, meia-noite. Vai.” Sem assinatura,mas eu sei quem é,subo os degraus da favela,o morro está quieto, mas não mudo. Há olhos em cada janela. No ar, cheiro de pólvora misturado com perfume barato e cerveja quente, a laje do 82 está vazia — exceto por ele. Bruno. Mais alto do que me lembrava. A barba crescida. Camisa preta. Corrente discreta,mas os olhos… Ah, os olhos,os mesmos que me foderam e me salvaram ao mesmo tempo. — “Sabia que você vinha.” — ele diz, sem se virar. — “E eu sabia que você ia me chamar.” — respondo, fria por fora, quebrada por dentro. Silêncio. Só o barulho distante de um baile no morro vizinho. — “Por que sumiu?” — “Você me deixou primeiro.” Ele se vira. — “Você nem me contou.” — “Teria feito diferença?” — “Eu teria ficado, Milena.” E ali eu vejo: ele ainda me chama de Milena. Não de Soberana. Não de nada forçado. Só Milena, e isso é pior do que qualquer bala. — “Nosso filho morreu.” — eu digo. E pela primeira vez em meses, minha voz falha. Ele não reage com choque. Nem chora. Só baixa os olhos. Um silêncio doído. — “Sinto muito.” — ele diz. E nesse momento, eu sei que ele fala sério. — “Você sabe o que eu sou agora?” — pergunto. — “Eu sei. Mas eu não ligo.” — “Deveria.” — “Você sempre foi assim. Só tá assumindo agora.” Ele dá um passo em minha direção. — “Milena, eu te procurei. Mas teu mundo virou uma sombra. Ninguém sabia por onde você andava. Agora você aparece aqui… por coincidência?” — “Eu vim acertar contas.” — “Comigo?” — “Comigo mesma.” A chuva começa. Fina. Quente. Como lágrima de céu que cansou de guardar. Eu encaro Bruno. E por um segundo, sou só aquela menina de 6 anos que se apaixonou por ele. Que anos depois se entregou. Que sonhou. Que perdeu. Mas Soberana não sonha,a Soberana sobrevive. — “Eu não posso gostar de você, Bruno.” — “Mas você ainda gosta.” Ele me puxa. Eu não resisto. Nos beijamos. Com raiva. Com dor. Com a saudade de um mundo que nunca tivemos,mas eu sei que isso não dura. Não pode durar. Meia-noite e quarenta e três,saio da laje sozinha coração acelerado alma em pedaços Bruno fica pra trás e eu… sigo. Porque o mundo que me espera exige sangue, não amor. 02h11 da manhã. A sala era fria. Não de temperatura, mas de energia,parecia que as paredes observavam. Ouviam. Guardavam,no centro, uma única mesa de madeira crua,de um lado: Eu, do outro: Bene,ele acende um cigarro. me observa como se eu fosse uma peça rara de xadrez. — “Você viu Bruno, né?” não respondo. Só cruzo os braços, fria. Mas por dentro… o meu coração grita. — “E Alessandra? Ainda acha que ela era só sua amiga de infância?” Meus os olhos se estreitam. Um arrepio sobe pela espinha. — “O que você quer dizer com isso?” — pergunto, com voz baixa, quase sussurrando. O velho sorri. Mas não é afeto — é poder. É controle. É um dominador de destinos. — “Bruno e Alessandra... são seus primos, Milena.” Meu mundo explode,tudo o que era concreto ruiu, o chão virou abismo. O ar virou veneno. — “MENTIRA!” — Me levanto de súbito, tombando a cadeira. — “Filhos de Cristina. Irmã do seu pai. Teve os dois com dois pais diferentes. Escondi por anos. Por segurança... e por estratégia.” — “EU FIQUEI COM ELE! EU... EU AMEI ELE! ELA ERA MINHA MELHOR AMIGA!” Eu tremia. O punho fechado. As lágrimas brotando não de dor, mas de fúria. — “Você me deixou amar meu primo, p***a! Você ME DEIXOU!” — “Você não ama ninguém, Milena.” — ele fala, calmo. Quase como se a estivesse corrigindo. — “Você ama o poder que eles te deram. Bruno te mostrou quem você podia ser. Alessandra te deu foco. Eles foram seus gatilhos. E agora você está pronta.”
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