Soberana

Entre o Sangue e o Silêncio

A cidade ainda dorme,mas eu não,não vejo a hora de voltar para minha casa,

Depois da missão em Mato Grosso e da noite com Fábio, minha cabeça virou um campo minado, e agora, Gustavo desapareceu.

Alessandra foi levada, a câmera de segurança mostrou ele com o rosto exposto,sem medo. Sem vergonha. Como se fosse aviso.

Mas foi outra ligação que fez meu chão sumir:

— “Milena, precisamos conversar. Agora.

É sobre a Vitória e a Maria Clara.

— Leandro”

Após aquela emboscada um Curitiba, não vi mais tio Leco, Chego com a arma na cintura, sem emoção no rosto.

Ele está lá, sentado, com olhos que já viram mais guerra que paz.

— “Você tá mesmo disposta a ouvir?”

— “Fala.”

Ele traga o cigarro com raiva.

E solta:

— “A Maria Clara amante do meu pai.”

Silêncio.

— “E a Vitória... não é sua irmã muito menos de Thiago, ela é filha da clara com o meu pai.”

Meus joelhos quase dobram.

— “Eles esconderam tudo.Meu pai não ta morto, o casamento do seu pai com a Maria clara foi de fachada para o plano dos dois. Maria Clara sabia que sua mãe era herdeira de uma família muito rica,coisa que nem a gente que conviveu com ela sabia,ate Thiago ter um trono dentro da Yakuza,Clara queria o dinheiro ,e meu pai se vingar do Bene”

Ele pausa. Cospe no chão.

— “Elas armaram tudo,Vitoria sendo filha do João teria uma parte da herança dele,com a morte dele e ela passando a cuidar das fianças da casa teria acesso,as contas de vocês,se thiago não tivesse ido morar no Japão, o rombo seria maior.

— “Como voce soube ?”

— “Thiago ! ”

Entro na sala de comando. Thiago está lá, falando com Kyoto pelo satélite.

— “Desliga.”

— “Milena, estou em reunião.”

— “DESLIGA.”

Ele obedece. Me encara.

— “Você mentiu.”

— “Eu te protegi.”

— “Você sabia que Vitoria não é nossa irmã.”

Ele não responde. Só respira fundo.

— “Sabia Thiago?”

— “Sabia,mas tem coisas mais importante por agora”

— “Mais importante? eu estou a anos falando que ela era uma traidora,fui taxada de louca,problemática”

Ele caminha até mim. Olha nos meus olhos.

Horas depois Localização Desconhecida

Alessandra está amarrada. Sangrando.

Gustavo está diante dela. Frio. Metódico. Louco.

— “Sabe por que a Milena nunca vai te salvar?” — ele pergunta.

Ela cospe sangue no rosto dele.

— “Porque você é o passado dela, Gustavo. E ela já te apagou.”

Ele sorri.

— “Ela é minha desde antes de nascer. Não existe mundo onde ela escolha outro.”

E aperta o botão da câmera.

Eu assumo o trono,as imagens aparecem no telão,Alessandra amarrada sangrando, aperto meus punhos,Fábio aparece na sala,Thiago se posiciona ao meu lado, vira-me de frente para a equipe, minha voz sai firme, sem tremor:

— “A partir de agora, ninguém age sem minha ordem,Fábio, prepara o resgate,Thiago, convoca seus homens, me tragam o Gustavo Vivo.”

Visto meu casaco do clã braços marcados com a tatuagem de herdeira,

NARRADO POR BRUNO

Complexo do Alemão – 03h47 da madrugada

O rádio chiava, o som da cidade parecia distante, e, ainda assim, o grito da minha irmã ecoava na minha mente como uma faca girando, Alessandra sequestrada, por Gustavo, o mesmo desgraçado que um dia jurei … mas nunca achei que teria o motivo certo.

Meu pai, estava sentado ao meu lado.

Cheirava a cigarro e pólvora. O velho era o rei do morro, mas com Alessandra fora, nem ele parecia inteiro,ele jurou no túmulo da minha mãe que cuidaria da menina como se fosse dele,

— “Vamos fazer isso do nosso jeito.”

— “Pai… a gente não tem como. Ele fugiu com apoio de dentro. Usou tática japonesa.”

— “E o que você sugere?”

— “Thiago. E Milena.”

— “Você ficou maluco? Vai trazer essa menina de volta pra dentro da nossa quebrada?”

— “Ela é sangue nosso. E ela quer sangue. Isso é tudo que precisamos agora.”

O silêncio dele confirmou.

 06h00

Quando Milena entrou, não era a garota que eu conheci, era uma sombra vestida em couraça,os olhos dela não tremiam.

O jeito que ela olhou pro mapa, o jeito que ela ignorou Fábio ao passar… tudo dizia o mesmo:

"Ou salvamos Alessandra, ou fazemos um enterro digno."

Thiago estava logo atrás dela, e Fábio… aquele braço cruzado e olhar fulminante deixava claro o que eu era ali: uma ameaça não planejada, Milena olhou pra mim. Por um segundo, voltou a ser a menina que me tirou o ar meses atrás.

Mas passou,ela piscou, voltou a ser gelo.

— “Você tem ideia de onde ele pode ter levado ela?”

— “Tem uns armazéns antigos em Realengo. Galpões de contenção usados pelo CV.”

— “Você confia em alguém lá?”

— “Não. Mas eu tenho medo do que posso fazer se não encontrar minha irmã.”

Ela assentiu,aí falou:

— “Então vamos achar ela antes que você precise descobrir.”

Fábio se moveu. Um passo à frente.

— “Milena, posso falar com você?”

— “Fala aqui.”

— “Esse cara aí... é emocional demais. Ele não tá pensando claro.”

Eu ri. De lado.

— “Quer que eu desenhe o mapa enquanto você cuida dos sentimentos dela?”

Fábio avançou, e eu também, Milena entrou no meio, empurrando os dois.

— “Se quiserem brigar, esperem o corpo da Alessandra esfriar. Até lá, cala a boca e carrega a arma.”

Foi rápido, tiro, grito,sangue, Thiago invadiu pelo alto. Eu fui pelo subterrâneo, Milena fez a contenção de fogo. Fábio limpou a retaguarda, encontramos Alessandra em uma sala escura, amarrada, com os olhos fundos e feridas nos pulsos,ela m*l conseguia falar.

Mas quando me viu, murmurou:

— “Ele... disse que você ia me abandonar.”

Eu me ajoelhei. Peguei ela no colo.

— “Nunca. Nem morto. Nunca.”

Dois dias depois

Alessandra dormia, sob medicamentos, Milena saiu do quarto. Fábio seguiu ela, Eu fiquei olhando minha irmã respirar.

Ainda viva. Mas quebrada, levantei pra pegar água, e ouvi sussurros, Milena e Fábio, do lado de fora.

— “Você tem que decidir, Milena. Ele mexe com você. E isso te enfraquece.”

— “Você tá com ciúmes ou medo?”

— “Dos dois.”

Ela não respondeu, eu abri a porta.

— “Vocês acham mesmo que isso aqui é sobre romance?” — minha voz era dura.

— “Minha irmã quase morreu. E vocês tão marcando território como cachorro?”

Milena olhou pra mim. Havia dor ali. Mas também... fogo.

— “A gente salvou ela. Agora você decide o que fazer com isso.”

— “Eu vou caçar o Gustavo. E se alguém atrapalhar, leva chumbo. Se for você, Fábio, ou qualquer um. Entendido?”

Fábio cerrou os dentes. Milena apenas balançou a cabeça, em silêncio.

Na tela, Gustavo aparece em outro país, Tailândia, com novos contactos, um novo nome, mas algo ainda é igual, ele segura uma foto.

Milena criança,Bruno ao lado, Atrás da imagem, escrito em sangue:

"Não terminei com vocês ainda."