O Quebrar do Silêncio

1170 Words
Bruno A carta estava sobre a mesa quando cheguei, o envelope branco, limpo demais,sem remetente, e dentro…fotos,nítidas,cruéis,venenosas,Milena,com outro homem,beijando,sorrindo,feliz,meu estômago virou ao avesso,meu punho bateu na parede com uma força que nem sabia que ainda existia dentro de mim,era ela,não podia mais negar,a mulher que eu enterrei no peito por cinco anos estava viva… e estava nos braços dele,Gustavo; eu já sabia, no fundo, desde o momento em que vi aquele vulto na escola da Maria,desde que ela me falou da moça "de cabelos cor de ouro e olhos cor de mel",desde que meu coração recomeçou a bater de um jeito doentio, como se tentasse me avisar de algo que minha razão não queria aceitar,era ela,sempre foi,mas por que não voltou?or que me deixou criando nossa filha sozinho? por que… com ele? a raiva me queimava como gasolina nas veias,mão por ela ter sobrevivido,mas por ter vivido sem mim,cinco anos,cinco malditos anos, e agora… Gustavo enviando essas fotos como um troféu,um aviso,uma ameaça,depois que a salvei naquela noite no impulso, no desespero , vi seus olhos implorarem por mim,mas minha alma não tinha mais espaço para piedade,tudo que eu podia sentir era ódio,ela fugiu comigo no peito,me apagou da história dela, e agora voltava como uma sombra, como um fantasma,mas tinha alguém que sabia...Rodrigo, aquele maldito amigo da adolescência, que apareceu de repente, olhando pra mim como se escondesse metade do inferno dentro do peito,ele sabia e agora, ele ia falar, encontrei-o na saída de um café, sozinho,segui até ele sem dizer nada, quando se virou e me viu, parou,não fugiu, mas também não sorriu. — "Você sabia…" — eu disse, baixando o tom. — "Sabia que ela estava viva. Sim." — Rodrigo respondeu, olhando direto nos meus olhos. — "Mas não sabia que você estava pronto pra lidar com isso." — "E você acha que agora eu tô?!" — minha voz cresceu, o peito doía,Rodrigo suspirou, cansado,como alguém que carrega um segredo por tempo demais. — "Eu a ajudei a fugir de Gustavo. Você não faz ideia do que ele fez com ela no Chile." — "E você faz?" — "Mais do que eu queria. Menos do que deveria." Ele sentou no banco mais próximo,eu sentei ao lado, só pra não quebrar ele inteiro ali mesmo. — "Ela apareceu um dia, machucada, com os olhos mortos, de quase morte. Eu a levei até o irmão e então... ela sumiu." — "Por que não me procurou?" — "Ela não lembrava de você… você parecia ter reconstruído sua vida." Fiquei em silêncio "Thiago" latejava na minha mente,eles sumiram os dois como fumaça. — "Ela teve outra filha?" — perguntei de repente,Rodrigo me encarou, confuso. — "Não… que eu saiba, não. Milena só teve uma gravidez, a da adolescência… que perdeu. Por que você tá perguntando isso?" — "Porque Maria... é minha filha. E ela existia antes dessa história no Chile." Rodrigo empalideceu. — "Bruno... então ela mentiu pra mim também,ou so não lembrava" A ficha caiu para os dois ao mesmo tempo,Milena estava jogando,comigo ,com ele,com todos, e então Rodrigo murmurou: — "Ela deve estar tentando proteger Maria." —Eu fechei os olhos, deixando a dor me consumir, a verdade era c***l,mas real,ela estava com medo,de Gustavo,de si mesma,de mim,naquela noite, não dormi,fiquei olhando o celular,as fotos,o sorriso dela, o corpo colado ao dele,as mãos entrelaçadas,mas uma coisa me doía mais do que tudo,era verdade, ela sorria,não como quem finge,mas como quem encontrou paz, e eu? eu era a lembrança que ela enterrou,mas algo mudou no dia seguinte, uma carta,sem assinatura,com uma foto desta vez, era ela sozinha machucada sentada na calçada depois de eu tê-la deixado, atrás… a sombra de Gustavo se aproximando, na legenda, escrita à mão "Ela ainda é sua. Mas não por muito tempo." o jogo estava armado e agora... não era mais sobre amor era guerra. Narrado por Milena Quando a porta bateu com força, eu soube, ele sabia, Bruno estava ali meu corpo inteiro congelou,não de medo,mas de algo mais profundo,mais violento,vergonha,quando o vi atravessar o corredor, sem piscar, com os olhos em chamas…tive vontade de fugir,mas minhas pernas não obedeceram. — “Você vai me contar agora, Milena,tudo cada maldito segundo desses cinco anos.” — Sua voz era um trovão abafado,controlado, sim mas prestes a explodir. — “Eu não sei por onde começar.” — minha voz saiu pequena, falha. — “Então começa pelo começo.” — ele rosnou. — “Você morreu, lembra?”— Fechei os olhos. Respirei fundo. — “Eu acordei num hospital em Santiago. Estava sozinha, cheia de tubos e hematomas. Me disseram que um homem me deixou lá… sem documentos, sem nome. Eu… eu não lembrava nem quem eu era.” — “Conveniente.” — ele cuspiu a palavra com nojo. — “Bruno… eu juro por tudo que existe, minha mente era um vazio. Rodrigo me encontrou meses depois. Ele me reconheceu por uma foto antiga, e me contou… me contou sobre você. Sobre tudo. Eu entrei em colapso.” Ele andava de um lado para o outro como um animal enjaulado, o maxilar travado, os punhos cerrados,mas não disse nada. — “Mateo… quer dizer, Gustavo… foi quem me tirou do Brasil. Eu não sabia quem ele era de verdade. Eu acreditava que ele havia me salvado. E no início, talvez até tenha salvado. Mas depois… ele virou meu inferno.” — “E mesmo assim você ficou com ele?” — a voz dele era um fio de navalha. — “Eu não tinha escolha. Eu não era ninguém. Eu dependia dele pra tudo. Até pra respirar. E quando eu finalmente entendi que ele era o Gustavo… já era tarde.” Bruno me encarou, os olhos marejados mas não era tristeza,era ódio. — “Você foi feliz com ele?” — “Bruno...” — “Você dormiu com ele?” — “Bruno…” — “Responde.” O silêncio doeu mas era verdade. — “Sim.” Ele riu, seco,como se tivesse levado um tiro e ainda conseguisse zombar da dor. — “E depois veio me procurar como se nada tivesse acontecido.” — “Eu vim pela Maria. Por você. Por mim. Eu quero consertar” — “Você quer o quê? Consertar?” — ele deu um passo à frente, tão perto que eu podia sentir sua respiração quente no meu rosto. — “Você me apagou, Milena,você me matou, e agora aparece cheia de lembranças e arrependimentos?” — “Eu fui vítima!” — gritei. — “Fui usada, abusada, anulada! Eu passei anos tentando me lembrar do meu nome, Bruno! Anos com pesadelos, fugas, mentiras. Você acha que eu queria essa vida?!” Ele me agarrou pelos braços, firme. — “E onde você estava quando Maria deu o primeiro passo? Falou a primeira palavra? Quando ela chorava e eu não sabia o que fazer?” — “Você não tem ideia do que foi criar sua filha sozinho!”
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