Amarras Invisíveis

1299 Words
Narrado por Bruno O que me levou até a escola da Maria naquele dia… não sei ao certo, talvez o silêncio dela na noite anterior, talvez o desenho, ou talvez aquela maldita intuição que só desperta quando a alma reconhece o que os olhos ainda não viram, estacionei do outro lado da rua,vidros fumê,motor desligado,um frio no estômago que não vinha do clima, o sinal do intervalo tocou, e a criançada explodiu em risos, gritos e correria, demorei alguns segundos pra encontrá-la, Maria, sentada de novo sob o mesmo banco,sozinha, olhando fixamente pra algo… ou alguém, segui a direção do olhar dela, meus olhos varreram o pátio, os portões, as calçadas externas… e então parei, ali, do outro lado da rua, entre as sombras de uma árvore,quase imóvel, mas impossível de ignorar, ela,não consegui ver o rosto,o capuz cobria a maior parte da cabeça,mas o corpo… o modo como ela se inclinava pra frente, como apoiava uma das mãos na cintura…aquilo me atingiu como um soco no meio do peito,era ela,ou parecia ser Milena, a mulher que amei, que odiei, que perdi, que enterrei com os olhos… e com o coração,mas eu nunca vi o caixão,nunca toquei o corpo no velório, apenas o sangue nos meus braços, a figura deu dois passos pra trás e sumiu na esquina, e eu… fiquei congelado, com a mão na maçaneta, o coração explodindo no peito, o olhar grudado naquele ponto onde ela havia desaparecido. — “Milena…” — sussurrei sem perceber, e pela primeira vez em quatro anos, o nome teve gosto,não de saudade, mas de presença. Maria se levantou, voltou pra dentro, o pátio ficou vazio aos poucos, mas minha mente… não, e se for ela? e se nunca esteve morta? e se me deixou, como todos os outros? senti o sangue subir, a raiva, a paixão, a confusão, saí do carro, atravessei a rua, fui até o ponto onde ela estava, nada, nenhum rastro, nenhum cheiro, mas juro por Deus, o chão ainda parecia quente, aquela silhueta… era dela, o andar, o peso leve nos quadris, a tensão nos ombros, Milena não voltou como um vendaval, ela voltou como um sussurro, sutil, perigosa, viva; voltei pro carro, sentei, fechei os olhos, e o sentimento foi claro, se for ela…eu não sei se quero encontrá-la de novo, porque se for… e ela estiver me evitando… isso vai me destruir de vez, mas o pior… se não for… eu talvez não sobreviva à decepção, no caminho pra casa, pensei em tudo, no dia em que a conheci,aquela menina ranhenta ,que dizia que um dia iria casar comigo,no primeiro beijo que ela me roubou,na primeira vez que transamos,aquela bendita noite no banheiro do Peu,na dor dela quando perdeu o nosso filho,no gosto do sangue dela naquela noite, e agora ela está aqui, escondida, observando,mas por quê? O que Milena está esperando? a hora certa pra dizer que viveu? ou o momento certo pra morrer de vez, dessa vez, por vontade própria? , Maria dormiu no banco de trás, linda, forte e delicada ao mesmo tempo, eu, ao volante, me vi encurralado entre o ontem e o agora,se Milena está viva, ela vai se mostrar, e quando isso acontecer…o mundo vai ter que se preparar,porque o Bruno que ela deixou pra trás… já não é mais o mesmo. Milena Narrando — “Tem certeza que vai sozinho?” — “Se eu for com você, chama atenção, e se alguém quiser te encontrar… vai usar meu rastro.” Thiago estava sentado à minha frente, encostado no sofá, com a mochila já pronta ao lado, os olhos dele eram sempre firmes, mas naquela manhã, havia algo diferente, um peso, uma preocupação que ele ainda não tinha me dito em voz alta. — “Você acha que alguém descobriu?” — “Acha?” — ele rebateu, silêncio... — “Talvez.” — confessei. — “Mas até agora, estão só farejando, não têm certeza, nem mesmo o Bruno.” Thiago me encarou por longos segundos. — “E se ele descobrir? você vai contar tudo? ou só o que convém?” Não respondi, nem precisava, com Bruno, nunca existiu meio-termo, ou ele me tem por completo,ou não me quer, e a verdade… é que eu ainda não sei o quanto de mim sobrou pra dar a alguém, antes de partir, Thiago se aproximou e me segurou pelo rosto. — “Você é a única coisa viva que restou pra mim, irmã, se tudo der errado, você desaparece de novo, pra sempre promete?” Assenti, ele sorriu, aquele sorriso torto de quem já matou e já morreu várias vezes por dentro, e então, ele foi; fiquei sozinha naquela casa, com o cheiro do chá ainda pairando no ar, sabendo que o mundo lá fora estava vivo, pulsando… e cheio de olhos, eu só precisava ficar invisível, só que a vida, com sua ironia c***l, decidiu brincar com o destino, fui a um mercado longe de casa, roupas neutras, cabelo preso, oculos escuros, entrei, peguei o básico: pão, frutas, leite, virei no corredor de enlatados... — “Milena?” — A voz me atingiu como um soco no estômago, levantei os olhos devagar...Rodrigo, ele parecia ter levado um choque, ficou parado, boquiaberto, como se visse um fantasma. — “Você…meu Deus, é você mesmo?” — Olhei pra ele, demorei um segundo pra forçar um sorriso,mas ele deu um passo à frente,com os olhos arregalados, a boca entreaberta, quase sem ar. — “Esse sim é o seu olhar, esse jeito de apertar a mandíbula, eu vi você crescer, Milena, eu te conheço,você pode mudar de nome, de país, de vida… mas esses olhos? esses são seus.” — O chão balançou sob meus pés,minhas mãos suaram,mas mantive a pose. — “Me desculpe mesmo,eu sou Julieta, se cuida, tá?” — Dei meia-volta, andei firme, não corri, não tremi,mas por dentro… eu estava despencando,no estacionamento, vi pelo retrovisor,Rodrigo me seguiu até a porta do mercado, ficou ali parado,me olhando sumir,voltei pra casa com o coração aos pulos, assim que entrei, travei todas as portas, sentei no chão da sala, respirei fundo,Rodrigo pode destruir tudo,Rodrigo é emoção,memória viva, e acima de tudo… leal a quem fui,mais tarde, liguei pra Thiago, mesmo sabendo que ele estava no aeroporto. — “Rodrigo me viu.” — Silêncio do outro lado. — “Ele te reconheceu?” — “Sim.” — Mais silêncio. — “Você quer que eu volte?” — “Não! vai a gente ainda precisa apagar nossos nomes das listas do inferno.” — Ele respirou fundo. — “E o Rodrigo?” — “Eu dou um jeito.” — Mas no fundo… eu sabia que Rodrigo não ia simplesmente esquecer, e agora…meu disfarce começava a ruir,nos dias seguintes, Rodrigo passou a aparecer nos lugares certos, na cafeteria da esquina, na pracinha onde Maria costumava brincar, na antiga loja onde eu comprava bebidas,ele não me confrontava, não gritava, não mandava mensagem, mas ele esperava, esperava que eu parasse de mentir, e isso… estava me matando, era só uma questão de tempo até tudo vir à tona, equando vier... Bruno vai descobrir, Maria vai sentir, e o mundo inteiro vai perceber que Milena nunca morreu,ela só estava se preparando, para voltar, e terminar o que começou, ma,s e a Maria, que vida ela teria do meu lado em meio a esse mundo,Bruno deu uma vida segura e tranquila para ela,o que eu tenho a oferecer a uma criança,nunca quis essa vida para ela,nunca quis essa vida pra mim,mais quem mata uma ,mata duas ,mata tres,e assim foi,tirando o lucas filho do tio leco,ele era um criança inocente,mas o resto era a escoria da humanidade,mas ainda sim corrego o sangue da cada um.
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