"Eventos Última Hora 💥💰"

1420 Words
Layla Moreira "Eu definitivamente não sou quem você acha que eu sou." Idade: 27 anos Naturalidade: São Paulo, Brasil Profissão: Tradutora e intérprete (freelancer), também atua como recepcionista em eventos internacionais Línguas que fala: Português (nativo), árabe (avançado, mas não fluente formalmente), inglês e francês intermediário Histórico familiar: Filha de mãe brasileira com raízes árabes e pai tradicionalista. A mãe fugiu grávida para o Brasil depois de viver um relacionamento opressor, e criou Layla sozinha, com muita garra, inteligência e senso crítico. Cresceu ouvindo histórias do Oriente Médio, aprendendo a língua e a cultura, mas sempre com a visão da mãe: "amar suas raízes não significa aceitar tudo sem questionar". Seu pai nunca soube de sua existência e isso moldou muito sua visão sobre independência. Personalidade: Sagaz, sarcástica e muito autêntica. Traz leveza e humor mesmo nas situações mais caóticas, mas por trás do riso existe alguém sempre alerta. É orgulhosa da própria liberdade e desconfia de qualquer um que tente "encaixá-la" em papéis pré-definidos. Tenta manter a calma, mas quando se sente encurralada, explode. Tem uma coragem impulsiva, do tipo que responde em árabe para o príncipe no meio de uma cerimônia "simbólica". Aparência: Pele dourada pelo sol e cabelo cacheado até os ombros, quase sempre preso de qualquer jeito. Corpo curvilíneo, olhos verdes grandes e expressivos, sobrancelhas fortes (quando feitas!). Não liga muito pra moda, mas tem um estilo próprio meio desajeitado-chique que chama atenção. Objetivos: Nunca mais depender de ninguém — principalmente de homem. Viver experiências, viajar, conhecer o mundo, mas sempre com o passaporte em mãos (e o coração bem trancado). Feridas emocionais: A ausência de um pai que nunca soube da sua existência — a mãe fugiu grávida para protegê-la de um ambiente opressor e perigoso. A sensação de ter sido "escondida do mundo" e, ao mesmo tempo, privada de conhecer suas origens por completo. A pressão social e cultural para se "encaixar" ou ceder. Arco de transformação: Ela chega em Dubai achando que tem tudo sob controle — e se vê casada com um homem poderoso, de outra cultura, sem aviso. No início, luta para fugir, se rebelar, encontrar brechas e provas de que pode sair. Mas aos poucos, Khaled deixa de ser apenas um vilão de novela mexicana e se torna alguém que a desafia, a escuta, e que também tem feridas ocultas. O amor entre eles nasce do atrito, da provocação e do desejo — mas só floresce quando ambos começam a ceder, a ouvir e a enxergar o outro de verdade. Layla O quarto de hotel é grande demais. Tipo... desnecessariamente grande. Tem um sofá de veludo que eu nem ousei sentar-me com medo de deixar marca de b***a, uma cama que parece saída de catálogo árabe-luxo versão 1001 Noites, e um minibar com garrafinhas de água importada, que eu tenho certeza custam mais do que o meu aluguel. Me sento na beirada da cama com as pernas cruzadas e olho em volta como se tivesse entrado por engano no quarto de alguma celebridade. Tem até um robe de cetim dourado pendurado com meu nome bordado — Layla, com Y, em uma fonte cursiva tão elegante que me dá vontade de pedir desculpas por ter nascido pobre. Coço a cabeça. — Tradutora, né... — murmuro, como se alguém fosse me responder. — Ou recepcionista trilíngue com direito a vista panorâmica, travesseiro de plumas e chocolate belga de boas-vindas? Pego um dos bombons da mesinha de centro. Ele vem embrulhado em papel dourado, com uma etiqueta minúscula onde está escrito: "para adoçar sua chegada ao novo destino." Novo destino? Eu só vim traduzir "boa tarde, senhor" e "banheiro fica à esquerda", gente. Não me candidatei à missão da ONU nem a reality show de casamento no deserto. Suspeito. Tudo muito suspeito. Primeiro: ninguém me explicou direito o que é esse tal evento simbólico. Segundo: me trataram como princesa no aeroporto, com motorista particular e tudo. Terceiro: o hotel é tão luxuoso que até o papel higiênico tem textura de nuvem. Isso aqui não é hospedagem. É uma armadilha com lençóis egípcios e sabonete artesanal. Olho meu reflexo no espelho gigante da penteadeira. E, diferente do que imaginei, não vejo mais a garota descabelada da viagem. Me deram um banho no spa do hotel — sim, um banho, com direito a massagem no couro cabeludo, xampu cheiroso que parece custar mais que meu notebook e um roupão que abraça o corpo como se dissesse "relaxa, você é rica". Arrumaram meu cabelo, hidrataram minha pele, me vestiram com um vestido vinho de cair o queixo, justo na medida, com um caimento que parece desenhado só para mim. É aí que a ficha começa a balançar. Nem cair, ainda — só tremer na beirada do raciocínio. Levanto devagar e caminho até a sacada. A vista é absurda. O céu se curva sobre a cidade dourada, e ao fundo... o deserto. Grande. Misterioso. Como se estivesse esperando alguma coisa. Ou alguém. Arrepios me sobem pela espinha e eu sacudo os ombros. — Para Layla. Drama demais. Você veio trabalhar. Vai ganhar um dinheiro bom e voltar para o Brasil cheia de histórias e talvez um tapete de presente. Dou risada sozinha. Meio nervosa. Meio tentando me convencer de que isso tudo é só um mimo fora da realidade. Que não tem pegadinha. Que ninguém vai me jogar no meio de um casamento de mentira. Ingênua. Muito ingênua. Porque o que vem a seguir... ninguém teria como prever. Se eu soubesse que ia acordar casada com um sheik, juro que teria feito a sobrancelha. Ou pelo menos tentado parecer um pouco mais blasé quando me entregaram um vestido digno de tapete vermelho e lavaram meu cabelo com um xampu que cheira a jasmim, ouro líquido e promessas perigosas. Mas calma. Antes de me julgar, deixa eu explicar. Tudo começou com um freela. Isso mesmo. Um trabalho temporário, desses que aparecem do nada num grupo de w******p chamado "Eventos Última Hora 💥💰". E que me chamou. Gente! O Emprego veio até mim. Não foi algo incrível? A proposta era clara: vinte horas de evento, uniforme incluso, comida liberada e um cachê digno. Eu, sem formação e com a conta do Nubank me mandando emojis de luto, topei sem pensar duas vezes. "Recepcionista trilíngue para evento internacional em Dubai." Aham. Três línguas. Português, meme e desespero. Mas eu fui. Fizeram a entrevista por vídeo, mandaram a passagem e me colocaram num avião como se tudo fosse normal. E eu fui acreditando. Porque eu sempre acredito. Agora, um detalhe importante: eu falo árabe. Não fluente como um tradutor juramentado, mas o suficiente para entender bem e me virar. Quem me ensinou foi minha mãe. Brasileira, mas com raízes árabes — e com uma história que daria uma série da Netflix, versão dramática e feminista com tapa na cara de conservador. Ela conheceu meu pai, um ricaço Emiradense, daqueles bem tradicionais, e se apaixonou. No começo, parecia um conto de fadas. Depois, virou um pesadelo. Meu pai tinha ideias fixas sobre como uma mulher deveria viver: obedecer, calar, sorrir. E minha mãe? Era a tempestade perfeita contra isso. Quando engravidou de mim, percebeu que, se não fugisse dali, ia desaparecer dentro de uma vida que nunca foi dela. Pegou uma mala, um diploma engavetado e fugiu para o Brasil — grávida, assustada, mas inteira. E me criou assim: livre. Questionadora. Brava. Sempre me ensinou a valorizar as raízes, sim, mas com lucidez. Ela dizia: — Filha, amar sua cultura não significa aceitar tudo sem pensar. E foi com ela que aprendi a dançar dabke no meio da sala, a recitar palavras em árabe antes de saber escrever meu nome, a amar comida com zaatar e, principalmente, a desconfiar de homens que tentam mandar na vida da gente. Então, quando vi a vaga para a tradutora-recepcionista num evento árabe em Dubai, achei que seria no mínimo... interessante. Uma chance de usar o que eu sabia, ganhar um dinheiro bom e, quem sabe, viver algo que eu pudesse contar depois. Tipo "lembra daquela vez que trabalhei num evento em Dubai?". Nada muito sério. Cheguei no aeroporto suada, exausta e carregando uma mala rosa tão grande que quase virou meme. Uma pasta de apresentação escrita em Comic Sans, um pouco de dignidade e muita expectativa. No aeroporto, tudo foi estranho desde o começo — motorista me esperando com plaquinha, sorriso respeitoso demais, carro de luxo, água aromatizada, conversa em tom baixo, como se eu fosse alguém importante. Mas eu estava cansada demais para questionar.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD