Felipe narrando
Assim que soube que estava prestes a ser " papai " , não consigo pensar em outras coisas .
Me sentei no sofá da minha sala, e fiquei usando maconha... A única coisa que me relaxa .
De repente vi a porta se abrindo rapidamente e dei de cara com o capiroto do PL , meu primo e um dos únicos parente além de Galego meu primo insuportável e arrombado.
- Pô cofoi, vai invadir a propriedade do ladrão é? - falei revirando os olhos.
- Eu que o digo, uma hora dessas você se drogando aí.
- Ih, rouba a brisa não Paulo Lucas. - puxei a fumaça do cigarro.
- Tá estressado é ?
- Tô, pra c*****o. Mas veio fazer o quê aqui? Nem dez da manhã são ainda.
- Alá, tá me expulsando , já vou. - se fez de ofendido e ia saindo.
- Ih deixa de frete PL. Senta aí e bora fumar mais eu.
- Eu não sou igual a você que se d***a toda hora.
- Nossa, me ofendeu. - dei um sorrisinho sarcástico.
- O desgraçado do Galego, tá provocando de novo.
- Não suporto esse filho da p**a! Quê que ele fez agora?
- Arrumou briga com um soldado de outro morro aliado.
- Namoral mermão, vou acabar com esse cuzão .
- Se ele não fosse nosso "primo". - PL revirou os olhos.
- Primo? Deixa ele vacilar pra cê ver. Eu esqueço que ele é meu parente.
- Meu tio não ia gostar se acabassemos com o sobrinho dele.
- É só que meu pai não tá aqui, ele morreu e quem manda nessa favela agora sou eu!
Ficamos batendo papo, o tempo suficiente pra eu esquecer do assunto lá da novinha patricinha. Mas até que me lembrei, p***a de assunto que tá atormentando a mente do ladrão.
- p***a! - esmurrei o sofá.
- Oxê, tá ficando piradão é? De uma hora pra outra fica revoltado. A maconha tá te fazendo m*l. - PL riu.
- Hahaha, muito engraçado. - sorri ironicamente. - Tu não sabe o que eu tô passando c*****o.
- Que foi? Broxou na hora de comer alguém?
- Antes fosse isso... - respirei fundo.
- Tem haver com o quê?
- Uma notícia que Léo me trouxe aí cara.
- Ah, a propósito o que o playboyzinho veio fazer na favela? A tempos ele não vinha aqui.
- Ele não é "playboyzinho". Ele é meu parceiro, amigo de verdade.
- Não sei se confio nele.
- Ah PL nada a ver , deixa eu contar a história sua lá ela.
- Tá conta coisa r**m.
- O caso é que... - dei uma pausa e suspirei .
- Fala diacho.
- Eu engravidei uma mina.
- Quê? Você o quê Felipe?
- Eu engravidei uma garota, patricinha filha de papai.
- E você fala isso na maior naturalidade do mundo? - me olhou fixamente.
- Uê , cê quer que eu chore? Posso fazer o quê... - me levantei e peguei uma garrafa de cerva na geladeira.
- Caraca Fp, eu ia dizer que você é um vacilão , mas você já sabe né.
- Ih caraca, vai me dizer que tu nunca fodeu com a Juliana sem c*******a?
- Já , mas ela é "minha mina". Não uma patricinha de 15 anos, Felipe ela é uma criança ainda!
- Olha PL para de me encher desgraça.
- E aí , vai fazer o quê agora?
- Trazer ela pra cá . - revirei os olhos.
- Você trazer ela pra cá? Não tô te reconhecendo. - fez uma cara de surpresa.
- Uê , os riquinho pai dela expulsou a garota de casa.
- Quê que deu em você, pra se envolver com uma patricinha? Sei que você odeia garotas assim.
- É , mas ah eu tava bêbado. E a mina era maior gostosa.
- Você que sabe mano, deixa ela ter a criança e manda ela vazar com seu filho.
- Não seu louco! O filho fica comigo, ela nem quer esse bebê mesmo.
- Você cuidando de uma criança? - riu sarcástico.
- É pivete, o filho é meu e eu tenho certeza disso. Meu coroa sempre disse que filho era sagrado.
- Você que sabe né parceiro, mas passa essa cerva pra mim aí. - sorri e passei a cerveja pra ele.
Eu estava decidido, iria trazer ela pra cá. Eu ia aguentar ela só por nove meses até a criança nascer, não iria deixar ela tirar meu filho depois mando essa louca vazar.
Sabe eu não sou m*l, eu só faço isso pra viver. Eu não vivo matando, roubando só pra me satisfazer, e sim porque era meu destino, fazer o que né?
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Manu narrando:
Acordei um pouco mais tarde, Léo não estava em casa.
Estava com fome , mas permaneci assim porque não sei nem fazer um café.
- Porque Léo me deixou aqui só meu Deus! - retruquei olhando a vista pela janela.
Fiquei pensando alguns minutos, até que resolvi ir pra cozinha fazer "algo". Ai que saudade Dulce me faz.
- Já sei. - me surgiu uma brilhante idéia.
Peguei umas frutas, maçã e pêra e comi. Era bom que eu já fazia uma dieta básica, eu já imagino! Ter que ficar gorda por causa desse bebê... Ai Jesus me ajude!
Fiquei sentada no sofá, coloquei meu iPhone pra carregar e fiquei mexendo. Em horas via algumas publicações no f*******:, outras via as colunas sociais a que eu já não pertencia.. Até que eu vi uma foto de Léo com Felipe, num ímpeto de curiosidade abri o perfil dele.
Me assustei com as coisas que ele postava, armas, fotos usando d***a, em carros importados, iates, algumas fotos quase pornográficas.
Em que buraco você foi se meter Manuela?!
Fiquei pensativa até Léo chegar me abraçando.
- Hum que abraço bom. - sorri retribuindo.
- Tudo bem pequena? Já comeu? Como tá meu afilhado? - ele fez várias perguntas ao mesmo tempo.
- Uma pergunta de cada vez... Sim eu acho que estou bem né, comi umas frutas, e acho que esse bebê tá bem. - falei com um certo desgosto.
- Frutas Manu? Você tá grávida tem que comer algo nutritivo.
- Mas eu não sei fazer nada.- revirei os olhos.
- Manu tem pão aí, queijo e Nescau. Quer que eu faça pra você?- assenti.
Pra ser sincera? Eu não estou acostumada a essa vida não. Eu tinha tudo, empregados, um café da manhã farto , roupas de grife dos preços mais variados. Tudo.
Porque eu fui estragar minha vida por uma noite com um traficante mesquinho?
Léo terminou de fazer o sanduíche e eu me sentei a mesa e ataquei aquela comida, nunca havia sentido tanta fome assim. E admito, é a coisa mais gostosa que eu já havia comido... É eu nunca tinha comido pão com queijo e presunto porque minha mãe sempre dizia "não é saudável, você vai ficar gorda" , "isso é comida de pobres".
Parei pra pensar e achei,minha mãe não iria gostar que eu estivesse comendo isso. Mas ah quer saber, a minha mãe não está aqui pra dizer nada! Ela me abandonou no momento que mais precisei, isso é uma mãe?
- Manuela...
- Hmm? - falei ainda terminando de comer.
- É eu fui.. Falar com. - ele gaguejou.
- Falar com quem?
- Felipe, eu acho que vocês precisam se entender logo.
- Quê tá louco? Você não fez isso né Léo... Você contou a ele? - me levantei brava.
- Contei Manu! E você sabe que era o certo a se fazer , ele é o pai você queira ou não.
- Mas eu não queria contar, ele não é o pai eu nem quero essa criança. Você vai ver, eu vou abortar esse ser.
- DEIXA DE SER INCONSEQUENTE c*****o! - Léo gritou comigo pela primeira vez e eu me assustei. - Eu.. - respirou fundo. - Eu só tentando resolver as coisas Manu, você não pode agir como uma criança , sendo que você está esperando outra criança. Para de culpar essa criança, de fazer birra, você não tem que pensar em você somente, e sim no seu filho. Depois de você ter ele.. As coisas vão se resolver você vai ver.
- Eu não aceito! - corri para o quarto e me joguei na cama chorando desesperada.
Eu sei que meu primo tem razão, mas eu não consigo aceitar isso. Foi culpa minha, eu engravidei por ser um irresponsável, uma qualquer, mas eu não quero, não consigo enfrentar as consequências.
- Manu? - Léo entrou mais calmo no quarto.
- Sim...
- Me desculpa pela forma que falei com você.
- Tudo bem. - dei de ombros.
- Eu só quero resolver as coisas e te ajudar, não quero ver você passando por nada r**m. Se eu tivesse muito dinheiro, eu daria tudo pra você e seu filho mas eu estou numa situação né..
- Eu sei Léo, eu que fui muito egoísta.
- Felipe queria te levar pra casa dele.
- Quê? - o olhei meio inconformada.
- É ... Mas eu vou te dar um tempo. Não quero que você vá agora, você tem que se preparar.
- Tá.
Concordei, era a única coisa que pudia fazer. Não podia dar mais trabalho pra Léo , sei que ele não tinha dinheiro, nem muitas condições pra me dar assistência, por mais que ele queira.