Prologo
Uma noite no esquecimento
A música alta fazia o chão tremer, as luzes piscavam como se o mundo estivesse em festa — mas dentro dela, tudo era silêncio.
Marcelle segurava o copo com força. Já era o terceiro ou quarto drink, ela nem sabia mais, só sabia que precisava parar de sentir. Esquecer as p************s do namorado, a forma como ele a olhou como se ela fosse um problema, e não a mulher que estava ao lado dele desde o começo.
Vestida de vermelho, com o corpo desenhado pela seda, ela era um pecado entre os santos daquela boate chique da zona sul, mas por dentro, era só dor.
Do outro lado, ele estava ali.
Morfeu...
Homem de poucas palavras, olhar pesado. Saiu do morro naquela noite porque o coração dele não aguentava mais. Enterrou a mãe naquele mesmo dia. Não queria consolo, nem papo. Só queria silêncio, esquecer, talvez beber até cair.
Mas então, viu ela.
Linda, sozinha, triste.
Quando ela quase tropeçou no salto, foi ele quem segurou.
— Cuidado aí, gata.
Marcelle olhou pra ele como se o mundo parasse. Os olhos se encontraram, e algo aconteceu, algo forte.
— Você tem cara de que entende dor... — ela disse, a voz mole de bebida e tristeza. — Me leva pra um lugar onde eu possa esquecer.
Ele hesitou, ela era boa demais pra ele, praquele mundo. Mas também tava quebrada. Igualzinho ele.
— Você nem me conhece — ele murmurou.
— Também não quero saber seu nome. Só me abraça.
Foi ele quem a tirou dali. Sem pressa, sem segundas intenções. Levou ela pra uma suíte no andar de cima, onde a música já não doía tanto nos ouvidos.
Ela tirou o vestido devagar, olhando pra ele sem vergonha. Não era sobre luxúria, era sobre carência, vontade de se sentir viva.
— Eu sei que você quer me tocar, mesmo sentindo o calor da bebida no meu corpo, consigo ver o seu olhar. Eu te dou o que você, mas ppr favor, com carinho... só toca em mim se for com carinho — pediu.
E ele fez.
Tocou como se ela fosse frágil. Beijou cada parte dela como se pedisse desculpas pela vida. Os dois se encontraram num ritmo calmo, gostoso, onde o prazer vinha junto com cuidado.
Ela gemeu baixinho, puxou os cabelos dele, se entregou como quem não queria pensar mais em nada. Mordeu sua orelha, ganhando também um gemido baixo, coisa que ele não faria com outra mulher, que ele nunca fez. Ela se deixou levar pelo toque de sua mão, de seus dedos, pelo arrepio causado por seus beijos. E ele... ele se perdeu nela.
Foi bonito. Foi intenso.
E quando ela dormiu, deitada no peito dele, com a respiração calma e o corpo relaxado, Morfeu sabia que ela não lembraria de nada no dia seguinte.
Mas ele ia lembrar...
Do cheiro dela, da pele quente, do olhar perdido. Da mulher que apareceu na noite mais triste da vida dele e trouxe um pouco de luz, mesmo sem saber.
Ela não saberia, não o veria mais, seu nome, assim como seu corpo, seria esquecido na calada da noite, no caminho de volta para o morro
Pelo menos era isso que ele achava...