A tensão em Trabzon não diminuía, mesmo após o primeiro ataque frustrado. Laura sentia o peso constante no peito, um misto de medo e responsabilidade que a impedia de relaxar. Malu, embora tentasse sorrir e brincar, ainda se agarrava à mãe em momentos de barulho ou estranhos passando perto de casa. Emir, ao seu lado, compartilhava da mesma preocupação, mas transmitia uma segurança silenciosa que Laura ainda precisava absorver.
Naquela manhã, Laura acordou antes do amanhecer. Olhou para Malu, que dormia profundamente, o rosto calmo pela primeira vez em dias, e suspirou. A sensação de vulnerabilidade ainda a consumia, mas havia uma chama de esperança que resistia à escuridão do medo.
— Precisamos planejar — disse Laura, falando mais para si mesma do que para Emir, que já se sentava na varanda com um mapa da cidade e anotações sobre rotas e locais estratégicos.
Emir ergueu os olhos, sério:
— Concordo. Ele já não é apenas uma ameaça distante. O primeiro ataque mostrou que mesmo atrás das grades ele consegue mover pessoas para nos atingir. Precisamos criar algo maior, mais organizado. Uma rede de p******o real.
Laura se aproximou, observando o mapa cuidadosamente. Cada rua, cada viela, cada saída da cidade precisava ser considerada. Ela começou a marcar pontos estratégicos: rotas de fuga, casas de aliados, lugares seguros para Malu, pontos de observação onde poderiam antecipar qualquer movimento suspeito.
— Selim e Fatma vão cuidar da vigilância nos arredores da escola e do bairro — continuou Emir, indicando com o dedo. — Ayla vai ficar com os carros prontos para qualquer emergência. E o resto dos nossos aliados vai cobrir rotas alternativas, restaurantes, lojas… qualquer ponto que Eduardo possa tentar usar para nos alcançar.
Laura assentiu, sentindo uma mistura de alívio e apreensão. A sensação de estar fazendo algo concreto dava forças, mas também lembrava do perigo que pairava.
— Precisamos ensinar Malu a reagir — disse Laura, olhando para a filha que já começava a acordar. — Não de forma que ela sinta medo, mas para que saiba que pode confiar em nós e em seus aliados.
Malu, ao ouvir seu nome, abriu os olhos e se sentou na cama.
— Mamãe, isso vai dar certo, né? Ele não vai nos encontrar de novo?
Laura sorriu, tentando transmitir coragem:
— Vamos fazer com que ele nunca consiga nos alcançar, minha pequena. Mas precisamos ser muito inteligentes e sempre nos proteger.
Emir aproximou-se e colocou a mão sobre o ombro de Laura:
— Estamos juntos nisso. Você, Malu e eu. E todas as pessoas que já nos ajudaram. Ele não terá chance.
O dia começou com uma série de treinamentos e preparações. Selim e Fatma trouxeram dispositivos de comunicação silenciosos, walkie-talkies e celulares antigos configurados para mensagens seguras. Laura e Emir ensinaram Malu a identificar situações de risco de maneira lúdica, transformando em jogos o aprendizado sobre observar estranhos, reconhecer padrões e reagir com calma.
— Se alguém estranho se aproximar, vamos usar o código da cor — explicou Laura, apontando para cartões coloridos. — Verde significa que está tudo bem, amarelo que devemos ficar alertas, e vermelho que precisamos procurar um lugar seguro imediatamente.
Malu repetiu com firmeza:
— Verde, amarelo, vermelho! Eu lembro, mamãe!
O dia avançou e a rede de p******o começou a tomar forma. Cada aliado tinha uma função clara, um ponto específico a observar ou um local estratégico para abrigar Laura e Malu em caso de emergência.
— Essa é a nossa chance de transformar medo em força — disse Emir, olhando para todos reunidos. — Se trabalharmos juntos, ele nunca conseguirá nos tocar.
Enquanto a tarde caía, Laura e Emir monitoravam sinais da cidade. A polícia local, ainda alerta, foi informada de maneira discreta sobre a situação e passou a colaborar de forma silenciosa, observando qualquer movimento suspeito nas ruas próximas à casa de Laura.
No meio da tarde, uma mensagem chegou anônima no celular de Laura:
"Ele está ciente do que está acontecendo. Vai tentar algo."
O coração de Laura acelerou, mas Emir permaneceu calmo.
— Isso significa apenas que ele ainda não pode nos alcançar — disse ele. — Mas precisamos ficar atentos.
Horas depois, quando o sol começou a se pôr, uma situação real colocou a rede à prova. Um carro desconhecido passou lentamente pela rua, observando cada movimento. Selim, postado como vigilante, acionou a comunicação silenciosa:
— Veículo suspeito, placa parcial: TK… sigam protocolo de alerta.
Instantaneamente, a operação entrou em ação. Malu foi levada para dentro do quarto seguro, trancado e monitorado por câmeras discretas que Fatma instalara. Laura e Emir observaram do andar de cima, transmitindo orientações através de fones de ouvido discretos.
O carro avançou lentamente, mas ao perceberem a movimentação organizada da casa, decidiu recuar. A tensão permaneceu alta até que o veículo desapareceu no horizonte, e apenas então todos respiraram fundo.
— É assim que vamos vencer — disse Laura, ainda com o coração acelerado. — Com atenção, cuidado e união.
Mas o que eles não sabiam era que Eduardo, mesmo atrás das grades, já começava a planejar um novo passo. Usando contatos na cidade, ele tentaria infiltrar pessoas disfarçadas, encontrar rotas alternativas e espalhar medo. Cada movimento da rede de p******o seria observado, cada aliado poderia ser alvo de suas manipulações.
Naquela noite, sentadas na varanda, Laura e Emir conversaram sobre o futuro. Malu dormia profundamente, exausta mas segura. Laura sentiu o calor da mão de Emir envolver a sua, transmitindo força.
— Ele não pode nos tirar isso — disse Laura, a voz baixa. — A nossa vida, a nossa felicidade…
Emir apertou sua mão:
— E não vai. Não enquanto estivermos juntos, e não enquanto houver pessoas dispostas a nos ajudar.
Laura sorriu, permitindo-se um pequeno instante de alívio. Malu, acordando com o som do mar, aproximou-se e se aninhou nos braços da mãe.
— Eu gosto quando todo mundo me protege — disse, sonolenta. — Eu me sinto segura.
— E é isso que vamos garantir, minha pequena — respondeu Laura, beijando a testa da filha.
A rede de p******o, embora ainda vulnerável, mostrava que era possível enfrentar o medo com estratégia e coragem. Cada aliado tinha sua importância; cada plano, cada rota alternativa, cada medida preventiva era um passo a mais para manter Eduardo longe de suas vidas.
No entanto, a sombra do ódio ainda pairava sobre eles. Laura sabia que o verdadeiro teste estava por vir. Eduardo não desistiria; seu ódio e orgulho não permitiriam. Mas, pelo menos naquele momento, a união, a inteligência e o amor serviam como escudo — um escudo que, embora frágil, podia garantir que mãe e filha ainda tivessem uma chance de viver em paz, mesmo diante de tanto perigo.
Enquanto a lua se ergia no céu noturno de Trabzon, Laura olhou para Emir e sussurrou:
— Obrigada por estar aqui… por tudo.
— Sempre, Laura. Sempre — respondeu ele, apertando sua mão com firmeza, olhando também para Malu, como quem prometia p******o eterna.
E assim, entre estratégias, treinamentos, olhares atentos e momentos de ternura, a rede de p******o se consolidava, tornando a vida de Laura e Malu mais segura, mesmo sabendo que Eduardo continuava tramando sua vingança. A cada dia, a coragem crescia, e o amor se mostrava como a força mais poderosa contra o medo.