Capítulo 2 (com atualização): O Primeiro Encontro
Isabel estava no posto de saúde organizando os poucos materiais disponíveis quando a porta se abriu de repente. Ela levantou o olhar e congelou por um instante. Na sua frente estava um homem que parecia dominar o ambiente apenas com sua presença.
Muralha.
Ele tinha 31 anos, era alto, com impressionantes 1,90m, pele clara e cabelos pretos curtos. Seu corpo forte era coberto de tatuagens que subiam pelos braços e pescoço, contornando o maxilar bem definido. Mas o que realmente chamava atenção eram os olhos: frios, calculistas, como se estivessem acostumados a ver o pior do mundo.
Por um momento, ele também a observou. Isabel era diferente de tudo que ele já havia visto no morro. Uma mulher de pele clara, cabelos longos e negros que caiam sobre os ombros, com um corpo lindo e uma postura que não demonstrava medo. Era algo raro no Morro do g**o. Ela o enfrentava com o olhar, algo que quase ninguém fazia.
Muralha franziu a testa, intrigado.
— Você é a doutora nova?
— Sim. Sou Isabel — respondeu ela, mantendo a voz firme, mesmo sentindo o peso daquele olhar penetrante. — Precisa de alguma coisa?
Muralha cruzou os braços, deixando as tatuagens à mostra. Ele nunca precisou pedir nada para ninguém, mas algo naquela mulher o desarmava, embora ele jamais admitisse.
— Só vim ver se você vai dar conta do recado. Meu morro não é pra amadores.
Isabel arqueou a sobrancelha, claramente irritada com o tom dele.
— Se alguém está vivo graças ao meu trabalho, então acho que dou conta, sim.
Muralha ficou em silêncio por um momento. Estava acostumado a ser temido e obedecido sem questionamentos. O fato de Isabel não se intimidar o deixou confuso, mas também intrigado.
Ele deu um leve sorriso de canto, algo quase imperceptível, mas logo voltou à expressão séria.
— Tá bom. Só não esquece que aqui as coisas têm um jeito de funcionar. Se precisar de algo, fala com o Gaspar.
Antes de sair, ele a encarou mais uma vez, como se tentasse entender quem ela era.
— E, doutora, cuidado. Aqui, confiança é coisa rara.
Assim que ele saiu, Isabel soltou o ar que nem percebeu que estava prendendo. Aquele homem era perigoso, mas também fascinante. Ela balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos.
Muralha, por outro lado, descia as escadas do morro com o rosto inexpressivo, mas por dentro sentia algo diferente. Ele estava acostumado a "comer umas putas" do morro quando sentia vontade, mas Isabel era diferente. Ela não parecia interessada nele, pelo menos não da maneira que as outras eram. E isso o incomodava.
"Quem essa mulher pensa que é pra me desafiar assim?", pensou, mas ao mesmo tempo, não conseguia tirar a imagem dela da cabeça.
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Os dias passaram rápido no Morro do g**o. Isabel estava cada vez mais ocupada no posto, enfrentando um fluxo constante de pacientes. Muitos chegavam com ferimentos graves, enquanto outros procuravam ajuda para problemas simples que há tempos eram ignorados. A presença dela começava a ser mais aceita pelos moradores, mas a tensão com os homens de Muralha continuava.
Naquela tarde, Isabel estava terminando de atender uma criança com febre quando Gaspar entrou no posto. Ele parecia mais sério que o habitual.
— Doutora, você vai comigo. Muralha pediu.
Isabel ficou imóvel por um instante.
— Ele quer me ver? Por quê?
Gaspar deu de ombros, impaciente.
— Não faço perguntas. Só obedeço.
Relutante, Isabel tirou o avental, pegou sua maleta e seguiu Gaspar. O caminho era íngreme, com escadarias que pareciam nunca terminar. Finalmente, chegaram a uma casa ampla, cercada por homens armados. Isabel percebeu que estava no coração do território de Muralha.
A Primeira Conversa
Dentro da casa, Muralha estava sentado em uma mesa, analisando um mapa com dois de seus homens. Assim que Isabel entrou, ele dispensou os outros com um gesto.
— Pode ir, Gaspar — disse Muralha, sem tirar os olhos de Isabel.
Quando ficaram a sós, ele se levantou, imponente como sempre.
— Trouxe você aqui porque preciso que veja uma coisa.
Ele a conduziu até um quarto nos fundos. Lá, um rapaz estava deitado em uma cama, com uma bandagem no abdômen. Isabel se aproximou, avaliando rapidamente a situação.
— Ele foi atingido ontem. Não confio em mais ninguém pra cuidar disso.
Isabel começou a trabalhar em silêncio, trocando as bandagens e verificando o ferimento. O ambiente estava carregado de tensão, mas Muralha a observava com atenção, como se tentasse decifrá-la.
— Por que você veio pra cá, doutora? — perguntou ele, quebrando o silêncio.
Isabel continuou concentrada no paciente, mas respondeu:
— Porque essas pessoas precisam de ajuda.
— Essas pessoas? — Muralha soltou uma risada fria. — Você sabe onde está? Aqui não tem heróis.
Isabel parou, encarando-o.
— Não estou aqui pra ser heroína. Estou aqui porque acredito que todo mundo merece uma chance.
Muralha ficou em silêncio por alguns segundos, surpreendido pela resposta.
— Isso é perigoso, doutora. Esperar o melhor das pessoas. Aqui, você só sobrevive se esperar o pior.
Um Novo Olhar
Depois de tratar o rapaz, Isabel se preparava para ir embora, mas Muralha a impediu.
— Fica mais um pouco. Quero entender por que você não tem medo de mim.
Isabel cruzou os braços, desafiadora.
— Talvez porque eu veja mais em você do que o chefe c***l que todos falam.
Muralha riu de canto, mas Isabel percebeu um brilho diferente em seus olhos, algo entre curiosidade e desconforto.
— Você não sabe nada sobre mim, doutora.
— Então, me conte.
Ele balançou a cabeça, desviando o olhar.
— Algumas coisas são melhor deixadas no passado.
Conflito Crescente
Enquanto isso, no morro, as coisas começavam a esquentar. A facção rival, comandada por um homem conhecido como Sombra, fazia movimentos ousados. Ataques a pequenos pontos de venda e provocações no rádio deixavam claro que uma guerra estava prestes a começar.
Gaspar encontrou Muralha naquela noite.
— Sombra tá testando a gente. Se não fizermos nada, ele vai tomar isso como fraqueza.
Muralha apertou os punhos, claramente irritado.
— Vamos resolver isso. Mas do meu jeito.
Ao mesmo tempo, Isabel, ainda no posto, recebia Beatriz.
— Você já percebeu que está chamando atenção, né? — disse Beatriz, com um olhar preocupado.
— Como assim? — perguntou Isabel.
— O Muralha não chama qualquer um pra perto dele. Ele tá interessado em você, e isso pode ser bom ou muito perigoso.
Isabel ficou em silêncio. As palavras de Beatriz faziam sentido, mas ela não sabia o que sentir. Muralha era um mistério, um homem com muitas camadas, e ela estava se envolvendo mais do que deveria.