Elisa Há um momento específico em que a vigilância muda de natureza. Não é quando alguém começa a observar — isso é comum, quase banal. As pessoas observam o tempo todo. O momento real de mudança acontece quando a observação deixa de ser curiosidade e passa a ser necessidade. É aí que as coisas se tornam interessantes. Percebo isso em Getúlio sem que ele precise fazer nada de ostensivo. Na verdade, é justamente o esforço excessivo para parecer igual que o denuncia. A tentativa de manter o ritmo antigo, as mesmas frases, os mesmos gestos de acolhimento pastoral — tudo isso agora carrega um leve atraso, como uma música tocada com meio segundo de diferença. Só quem escuta com atenção percebe. E eu estou escutando. Não faço nada com essa percepção de imediato. Não mudo meu comportamento

