Getulio Ela foi embora sem olhar para trás. Fico parado por alguns segundos depois que Elisa cruza a porta lateral da catedral, como se o espaço que ela ocupava ainda estivesse ali, suspenso, aguardando algo que não virá. O silêncio retorna lentamente, mas não é o mesmo de antes. Há um resíduo no ar. Uma espécie de pressão invisível. Não foi o que ela disse. Foi o que ela não disse. Volto a me sentar, mas não consigo permanecer imóvel. Meus dedos tamborilam contra a madeira do banco, um gesto involuntário que denuncia o que me esforço tanto para esconder. Elisa sempre teve esse efeito — não o de me desorganizar por completo, mas o de deslocar peças que eu julgava fixas. Hoje, porém, foi diferente. Ela não veio em busca de conforto. Não veio em busca de absolvição. Veio verificar.

