01 Scarlett

2188 Words
— Scarlett! Abre essa porta! — Eu ouvia a voz abafada do meu marido faziam mais de meia hora. Como eu pude ser tão burra! Esse tempo inteiro eu me senti insuficiente, pouca coisa para ele. Para no final descobrir o quão baixo e traidor ele é. Olho para meu reflexo no espelho e sinto pena de mim mesma. Minha aparência é ridícula; o rímel completamente borrado; os meus cabelos todos apontados em direções opostas; meus olhos cheios de olheiras; e meu rosto que está tão tenso que me faz duvidar se eu tenho mesmo só 22 anos. Respirei fundo, abri o guarda-roupa e o encarei por um longo período de tempo. Tudo o que está alí dentro, ou Castiel que comprou, ou foi comprado com o dinheiro dele. Entrei no banheiro, enchi a banheira e mergulhei na esperança de conseguir me afogar. Eu perdi 2 anos da minha vida com um homem, com um homem que não merece nem mesmo uma única lágrima minha. Lavei meu cabelo; hidratei bem o rosto com excelentes produtos, e não apenas com lágrimas; fiz uma boa maquiagem e vesti a minha melhor roupa. Destranquei a porta do quarto, e saí andando levando apenas o restinho de dignidade que ainda me sobrou. Passei por meu ex-marido como se ele não fosse absolutamente nada, até porque é isso o que ele significa para mim agora. — Scarlett! Scarlett! Onde você vai? — Castiel se rastejava atrás de mim. — Vai para o inferno, Castiel! — Desci as escadas sem ao menos olhar para ele. — Só me dê uma chance de me explicar. — Ele repetiu a mesma frase de diferentes formas por vários instantes até conseguir me convencer. — Você quer uma chance de se explicar, certo? — Segurei no corrimão e virei meu corpo em sua direção. — Então você pode me assegurar que tudo o que eu vi foi apenas imaginação da minha cabeça, que todas as viagens que você marcou de última hora e também todas as vezes em que você chegou tarde em casa afirmando estar cheio de trabalho não tinham nada haver com aquela mulher? — Apontei o dedo em sua direção enquanto erguia as sobrancelhas. — Seu direito de resposta é Sim ou Não! Castiel me encarou travado, ele não tinha o que responder. Eu só estava fazendo ele perceber que não tem o que explicar nessa situação. — Mas meu amor, eu só estava... — Parecia procurar as palavras e ao mesmo tempo parecia envergonhado, pois nem mesmo me olhava nos olhos. — Ela não significa nada para mim, Scarlett. É você quem eu amo. — Vá se fuder! — Desci as escadas pisando forte. — Scarlett, por favor... Encarei a porta à minha frente parada que nem uma estátua por um bom tempo. Quantas vezes eu entrei por essa porta. Quantas vezes eu entrei por essa porta acreditando que eu tinha a vida, o casamento perfeito. Eu realmente acreditava que havia encontrado o amor da minha miserável vida, eu sinto pena de mim mesma agora. Estava tão óbvio, e eu me recusei a acreditar apenas por não querer desfazer o laço tão bonito que havia criado com o meu marido. Patético. — Há quanto tempo vocês estam juntos? — Questionei um pouco baixo ainda encarando aquela maldita porta do mesmo tamanho que uma casa tradicional. — 1 ano. — Castiel falou firme. — Eu deixei ela. É com você que eu me importo e que eu quero ficar, Scarlett! — Então vá atrás dela. Pois, você não tem mais porquê se preocupar com o que eu acho. — Abri a porta e caminhei até estar metade do meu corpo para fora. Inclinei para dentro da enorme casa e o encarei. — Obviamente, eu quero o divórcio, Castiel! Bati a porta com força e fui em direção ao meu carro onde Britiney estava me esperando. — Você tem certeza de que está bem? — Britiney questionou enquanto dirigia meu carro. — Eu acabei de descobrir que estou sendo traída há 1 anos, Britiney. — Ironizei. — Eu deveria estar sendo estudada se eu estivesse bem. — Nossa! Grossa. Você entendeu o que eu quis dizer. — Sim, eu entendi. Mas tudo bem, eu estou super bem. — Falei firme. Óbvio que eu não estava bem, mas eu não queria derramar nenhuma lágrima e muito menos demonstrar qualquer sofrimento. — O que eu tenho de errado!? O que eu fiz de errado!? — Gritei abafando meu choro com o travesseiro. — Scarlett! — Brity deitou na cama junto comigo. — Ele é um babaca. Você não fez nada de errado, é apenas um homem babaca agindo como um homem babaca. — Brity me deu um enorme abraço de urso. — Um babaca que acabou com a minha autoestima, dignidade, felicidade, confiança... Tudo de bom que havia em mim. — Me joguei de volta no colchão me cobrindo com o cobertor dos pés a cabeça. — Isso é o que os homens fazem. — Britiney, você tem um homem. — A encarei confusa. — Nem todo homem. — Fez um gesto engraçado corrigindo a si mesma. — Mas sempre um homem. — Pensei alto e Britiney riu. — Você é perfeita, Scar. Você é linda, tem um corpo muito bonito, o rosto muito bonito, o cabelo muito bonito... Você é jovem, sua voz tem o poder de acalmar qualquer pessoa. Seus olhos são tão lindos que hipnotizam. — Britiney me olhava fixamente enquanto falava. — Você é perfeita. — Falou pausadamente. — Meu marido não me achou perfeita o suficiente para ser fiel ao nosso casamento. — Ah, Scarlett! Você não pode ficar se condenando para sempre. Sabe do que você precisa? — Britiney gesticulou o olhar em minha direção esperando um questionamento super animado. — O que, Britiney? Do que que preciso? — Perguntei sem a menor animação possível. — Boates, festas, baladas, conhecer gente nova, encher a cara, sair com alguém novo... — Britiney gesticulou as sobrancelhas esperando mais animação da minha parte. — Não... — Respondi dengosa. — Eu não quero, ainda é tudo muito recente. Para falar a verdade, eu nem sei se ainda vou conseguir me envolver com outra pessoa. — Você até pode não querer se envolver com alguém agora, mas você vai voltar a viver, você querendo ou não. — Quero ver você me obrigar. — Desafiei confiante. Britiney é minha melhor amiga há anos, e em todos esses anos ela sempre destacou o quanto é competitiva e não desiste facilmente de algo. — Pronto! Está gatíssima, agora me deixa dá alguns retoques na sua maquiagem. Brity esfrega as cerdas do pincel em uma paleta de pó, bem claro da cor da minha pele. Passou um vibrante batom vermelho em meus lábios e bastante iluminador. — Brity! Eu estou parecendo uma prostituta. — Afirmo quando pego um espelho e vejo meu reflexo. — Você está perfeita. Deixe de se colocar defeitos. — Tudo bem, mas para onde você vai me levar? — É surpresa, amor. — Brity afirmou misteriosa. — O Marley vai também, não vai? — Britiney não respondeu então entendi que isso significava um "sim". — Vou ficar de vela. — Choraminguei. — Não vai, deixe disso. Você vai encontrar um homem mais ou menos da sua idade e bem bonito, e vai t*****r com ele. Você vai viver tudo o que você deixou de viver por causa de um casamento raso. Pode não ser agora, mas cedo ou tarde você não vai nem lembrar que já foi casada. Podemos começar por... Conhecer gente nova e encher a cara. Chegamos em uma espécie de boate. Saímos do carro enquanto eu abaixo o meu vestido brilhoso, que ficava ridiculamente um pouco abaixo do meu quadril. Estou me sentindo uma prostituta, eu raramente visto esse tipo de roupa vulgar e esse vestido m*l cobre o meu quadril. Entramos na bendita boate, e rapidamente as pessoas começaram a nos notar. Me olhavam de uma maneira diferente, provavelmente me conhecem do filme ou eu realmente tenho uma beleza exuberante, diferente. Estilo atriz de novela como dizem. — Marley e eu vamos dançar! — Brity gritou em meio a música alta. — Por favor, quando eu voltar quero ver você quase engolindo alguém! — Eu ri. Pedi uma das bebidas mais saborosas do cardápio. O garçom me entregou um drink chamado s*x on the Beach. Achei um nome muito s****l para uma bebida alcoólica, mas tudo bem. Suguei o líquido pelo canudinho e pude sentir uma das melhores sensações da minha vida... É uma delícia! — Está sozinha? — Um homem com aparência de uns 30 anos aparece ao meu lado. Aparentemente muito culto, simpático e educado. — Estou! Minha amiga foi dançar com o noivo. — Gritei o suficiente para que ele ouvisse enquanto revirava os olhos rindo. — Me desculpe, mas a senhorita não parece ser alguém estilo... Estilo as pessoas que estão aqui. Você aparenta nunca ter entrado em uma boate antes. — Sorriu divertido. — Tem razão. Só vim porque minha amiga insistiu. — E o que uma moça tão bonita assim, faz aqui sozinha? — O homem questionou sorrindo, enquanto me analisa da cabeça aos pés. Me senti um pouco desconfortável. Achei que ele fosse um homem culto e educado, mas a forma como ele me olha indiscretamente me faz sentir desconfortável e muito m*l, e ele sabe disso. — Não estou sozinha, e também não quero companhia. Licença! — Tentei levantar mas ele segurou meu braço me impedindo. — Você é casada? — Ele gesticulou a cabeça para minha mão. Quando olho para meu dedo, noto a marca da aliança de casamento no meu anelar esquerdo. Encaro o chão em que o Barman pisa e por longos segundos que mais me parecem anos tenho vontade de morrer. Parece infantil, mas nesses momentos em que me sinto constrangida, sinto vontade de sair correndo como uma louca. Tenho vontade de sair como uma louca, que rasga a roupa, arranca seus próprios fios de cabelo e bate a própria cabeça na parede até sangrar. Tudo isso só para não lidar com esse tipo de situação. — Licença, me desculpe. — Forcei um sorriso e corri até o banheiro. Estavam algumas mulheres alí em frente ao espelho retocando seus batons, eu apenas corri e entrei em qualquer cabine. Chorei baixinho o tempo que foi necessário. "Eu dei tudo de mim para ele, fiz tudo o que pude para ser a mulher perfeita. O que há de errado comigo? Eu não sou bonita o bastante? Meu corpo é estranho? O que tem de errado comigo!? Talvez se eu fosse um pouco mais experiente, não sei. Ou talvez se eu fosse um pouco mais curvilínea, ele talvez gostaria mais de mim e não teria feito isso comigo." Quando noto, estou chorando alto o suficiente para que todas alí fora ouvissem. — É assim mesmo. Quando bebemos demais da conta, acabamos chorando em um banheiro imundo de boate por nenhum motivo. — Ouvi uma voz suave, então todas riram. — Eu nem ao menos bebi, sua porca nojenta! — Gritei. Um enorme silêncio ensurdecedor ecoou por meus ouvidos, até que a porta da cabine que eu estava se abre e uma mulher loira aparece. Ótimo, esqueci de trancar a porta. — Do que você me chamou? — O seu olhar se encontrou com o meu. — Espera... Você não é aquela atriz? Como é mesmo o nome... A encarei ainda em choque de realidade. Outra mulher aparece na porta e me encara fixamente, entortei a cabeça na direção delas e semicerrei os olhos. Devo estar horrível, fora que meu rímel deve estar completamente borrado. — A atriz que interpreta a Kiria, daquele novo filme que acabou de ser lançado. — Uma delas falou. — Sou eu mesma. — Afirmei. As mulheres se entreolharam por uns segundos. — Oh, querida! O que aconteceu com você? Por que está chorando? — A loira veio até mim e abraçou minha cabeça. — Não foi nada demais, não se preocupe. — Afirmei fungando algumas vezes. — Nos conte, todas nós aqui somos mulheres e nos entendemos. Pode nos contar o que está acontecendo, estamos aqui para ouvir e prometemos não julgá-la. — Sorriu como uma forma de me confortar. Encarei elas ainda um pouco receosa. Mas qual o problema contar? O que pode acontecer de r**m? — Eu estive casada com um homem por 2 anos. Eu fiz tudo o que pude por ele... — Minha voz embargada pelo choro. — Eu fiz tudo o que estava ao meu alcance para ser a noiva perfeita... — Enxuguei algumas lágrimas que escorriam por minha bochecha. — Mas durante esses 2 anos que eu estive casada com ele... 1 ele manteve um relacionamento com outra mulher. — Me entreguei ao choro. — Sério... O que há de errado comigo? Acabei desabafando. Contei muitos e muitos detalhes sobre o assunto. Foi libertador contar tudo o que aconteceu para alguém, não que contar para a Britiney não fosse libertador, mas contar para outra pessoa foi realmente algo que me deixou mais leve.
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