Demétria esperou seu marido voltar para a casa e lhe contou sobre a visita de Kadir.
— Eu não acredito que ele se atreveu a vir aqui na minha casa! — Disse Adrian.
— Acho melhor você falar com ele antes que ele volte. — Disse Demétria.
— Só que não tenho nada para falar com aquele infeliz. — Disse Adrian.
— Tem certeza? — Inquiriu Demétria.
Adrian suspirou, balançou a cabeça e se virou, nervoso.
Demétria tocou seu ombro e lhe aconselhou:
— Fale com ele e coloque os pingos nos “is”. Explique que Maria não lhe interessa mais como mulher.
— Como se Kadir fosse acreditar em qualquer coisa que eu dissesse… — Adrian se virou. — Mas falarei com ele ainda assim. Prometo.
— Obrigado. — Demétria sorriu, tranquila.
Adrian foi até a casa de Kadir em Annwn e foi recebido por Suoni. Os dois se encararam em silêncio por um tempo antes que ela finalmente o convidasse a entrar e chamasse por Kadir.
— Boa tarde, Kadir? — Adrian disse sorrindo. — E a Maria?
Kadir o encarou com ódio.
— Ah! É mesmo… Eu a ajudei a voltar para casa. Que cabeça essa minha… Vivo esquecendo as coisas. — Adrian disse com intenção de provocá-lo.
— Você deve estar feliz achando que me separou dela, não é mesmo? Mas está enganado porque a Maria é minha! — Falou Kadir sorrindo, mas sem esconder toda a revolta que sentia.
Adrian riu, balançando a cabeça.
— Oh, Kadir… Você está mesmo m*l se acha que dessa vez poderá controlar a Maria. — Falou Adrian.
— Eu vou te avisar pela última vez… Fique fora de meu caminho! Você me conhece… Sabe do que sou capaz, especialmente para defender o que é meu! — Disse Kadir.
— Suas ameaças não me assustam! E saiba que se eu quisesse, tiraria Maria de você fácil assim… — Adrian estalou os dedos. — Ela ainda me ama… Lá no fundo. Eu senti quando nos reencontramos e nos beijamos.
— O quê? Como você se atreveu a tocar na minha mulher? — Falou Kadir se aproximando de Adrian cheio de ciúme.
— Me diga… O que ela sente por você? Eu respondo! NADA! Não sente nada porque você nunca significou nada para ela! Já para Suoni, você é tudo. Deveria rever seus sentimentos porque acho que está amando a gêmea errada. — Falou Adrian se virando para ir embora.
— Tome cuidado, Adrian… Se antes eu odiava você, agora então… — Kadir o ameaçou.
Adrian não respondeu e foi embora.
† † †
Na manhã seguinte no colégio, Gisella se sentou no gramado e ficou encarando as torres do convento que ficava ao lado.
Foi uma surpresa e tanta para ela descobrir que havia igrejas e conventos no reino feérico, mas como Irwan lhe explicou na época, a religião não era exclusiva dos humanos, e seres Elementais também podiam adorar o Deus cristão.
Segundo a visão kardecista, havia várias dimensões e os Elementais, apesar de seus poderes eram ainda inferiores aos humanos, por isso, reencarnariam posteriormente como humanos.
Desde pequena, Gisella sempre sentiu que deveria ir para um convento como se houvesse algo importante lá esperando por ela. Sua mãe se opôs quando ela expressou seu desejo de se tornar freira e como Gisella preferia morrer a contrariar a mãe, desistiu dessa ideia.
Agora, encarando o convento, esse desejo de ir até lá, crescia com força em seu coração deixando-a angustiada.
— Tudo bem? — Perguntou Stephanie se aproximando.
Ela hesitou em se aproximar, mas quando notou que Gisella realmente parecia triste, se arriscou a ter a ruiva descontando toda sua frustração nela como antes.
— Não. Não está nada bem. — Confessou Gisella e suspirou, chateada. — Olha… Não vou fingir porque não aguento mais. Sinto que tenho atuado a minha vida toda e estou farta disso. Eu não sei o quanto você me conhece, mas só retornei a Mag Mell há pouco tempo.
— Eu soube… Você morreu. — Falou Stephanie.
— Pois é… Não me lembro bem de como eu era antes quando todos me chamavam de Maria, só sei que… Eu sou outra agora! E queria te dizer que… Não sei porque implicava com você. Você me parece uma garota legal, o tipo que seria minha melhor amiga. Eu devia ser uma estúpida mesmo, mas enfim… Eu quero te pedir, se possível… Para recomeçarmos? Não vejo motivos para brigarmos por bobagens. A vida é curta demais para isso. — Falou Gisella.
Stephanie encarou Gisella como se não a reconhecesse mais.
— Não sou Maria. Sou Gisella.
— Então… Prazer, Gisella? — Disse Stephanie sorrindo e estendeu a mão. — Caso não se lembre do meu nome… É Stephanie.
— É um prazer, Stephanie. — Gisella apertou a mão dela.
Elas conversaram um pouco mais sobre coisas referentes ao colégio e depois Stephanie se despediu e foi procurar Eulina. Gisella voltou a encarar o convento quando ficou sozinha e se lembrou de um acontecimento que certamente marcara a vida de Maria…
Antes…
Maria tinha quinze anos quando descobriu que estava grávida e com medo que seus pais descobrissem, tomou alguns comprimidos na esperança de abortar a criança, mas foi inútil. Ela fugiu de casa e depois de dar à luz a uma menina, ficou zanzando pelas ruas com ela.
A recém-nascida estava com a saúde debilitada e Maria sentia que a perderia se não fizesse algo para salvá-la. Mas o que faria se não tinha dinheiro? Não tinha coragem de encarar seu pai e menos ainda sua mãe. Não tinha condições de criar aquela menina e levá-la para o inferno que chamava de lar não era uma opção. Seria c***l se condenasse aquele anjinho ao que Júlia e ela eram obrigadas a suportar em silêncio porque a mãe delas não se importava.
Maria deu algumas voltas em frente ao convento, esperando que uma freira entrasse e quando esta entrou, Maria se despediu da menina com um beijo e a passou através das grades do portão, tocou a campainha e fugiu, chorando.
No meio do caminho, parou arrependida. Talvez pudesse cuidar de sua filha, afinal… Não seria fácil, mas ela poderia tentar. Voltou correndo, mas percebeu que já era tarde, pois uma das freiras já havia pegado o bebê e entrava de volta no convento.
Anos depois, Maria retornou ao convento para rever a filha. Foi recebida pela mesma freira que estivera na varanda aquela tarde e que levara o bebê. Uma mulher com ar severo. Ela reconheceu Maria e disse que a vira aquela tarde e que sabia que ela estava planejando abandonar a filha porque era jovem demais e parecia perturbada. Maria disse que se arrependeu do que fizera e contou à freira que na época não tinha mesmo condições financeira e psicológica para cuidar da menina. Perguntou sobre o paradeiro da mesma. A freira respondeu que a moça, então, com dezoito anos, ainda estava ali e disse que a levaria até ela.
Atualmente…
Infelizmente, Gisella não viu o reencontro entre mãe e filha, mas em sua mente viu claramente a imagem da menina. Ela era albina, com os cabelos louros levemente ondulados e olhos azuis. Certamente, era uma elfa.
Lágrimas rolaram pelas faces de Gisella e ela finalmente compreendeu o que havia de tão importante esperando por ela no convento, algo que ela sempre sentira que só encontraria lá… A filha que abandonou.