Capítulo 1
Sofia
O cansaço me envolvia como uma sombra persistente, mas eu não podia me dar ao luxo de descansar. Luiza precisava de mim. Ela estava apenas começando a descobrir o mundo, com seus olhinhos curiosos e o sorriso mais doce que eu já vi. Meu coração apertava ao pensar que, sem mim, ela estaria completamente sozinha.
Um frio percorreu minha espinha, e eu me apoiei no balcão da cozinha, sentindo o corpo fraco. Nos últimos dias, as tonturas tinham piorado, e a dor constante que latejava em meu abdômen parecia consumir toda a minha energia. Mas eu não tinha tempo para ficar doente. Eu era a única pessoa que Luiza tinha.
Respirei fundo e peguei o celular com mãos trêmulas, discando para Samara.
— Amiga… — minha voz saiu fraca.
— Sofia? O que foi? Você está bem? — A preocupação na voz dela era palpável.
Engoli em seco.
— Eu não estou me sentindo bem. Preciso ir ao hospital, mas não quero levar Luiza comigo… Você pode vir ficar com ela?
Houve um breve silêncio do outro lado da linha.
— Estou indo agora! Não se preocupe, já estou pegando a chave do carro.
— Obrigada, Sam… — sussurrei, sentindo um nó na garganta.
Desliguei e olhei para Luiza, que dormia serenamente no berço. Meu anjinho. O único amor verdadeiro que eu conhecia. Toquei seus cabelinhos finos e escuros, e meus olhos se encheram de lágrimas.
O que aconteceria com ela se algo acontecesse comigo?
Balançando a cabeça, tentei afastar os pensamentos ruins. Eu só estava um pouco fraca, talvez precisasse de vitaminas ou algo assim. Nada mais.
Samara chegou em questão de minutos, ofegante e com os olhos arregalados.
— Sofia, pelo amor de Deus, você está pálida! O que está acontecendo?
Tentei sorrir, mas minhas forças pareciam escapar a cada segundo.
— Eu não sei… Estou me sentindo muito fraca e com dor há dias. Preciso ir ao hospital.
— Vai! Eu cuido da Luiza. Mas me avisa assim que souber de alguma coisa, entendeu?
— Obrigada, amiga.
Peguei minha bolsa e saí apressada. O caminho até o hospital pareceu durar uma eternidade, e cada batida do meu coração soava como um tambor, ecoando minha ansiedade.
Assim que cheguei, fui atendida rapidamente. O médico fez algumas perguntas e pediu uma série de exames. Sentei na sala de espera, abraçando meu próprio corpo, como se isso pudesse conter o medo que crescia dentro de mim.
O tempo parecia não passar. Meu celular vibrou, e eu vi uma mensagem de Samara.
Samara: Luiza acabou de acordar e está bem. Não se preocupa, amiga. Estamos aqui te esperando.
Fechei os olhos e segurei as lágrimas. Eu precisava estar bem. Precisava.
Quando finalmente chamaram meu nome, minhas pernas ficaram trêmulas. O médico, um homem de cabelos grisalhos e olhar sério, me encarou com uma expressão neutra.
— Senhorita Sofia… Por favor, sente-se.
Meu coração acelerou. Respirei fundo e me sentei na cadeira de couro, tentando manter a calma.
— Doutor, o que eu tenho?
Ele hesitou por um segundo antes de soltar um suspiro pesado.
— Os exames mostraram algumas alterações preocupantes… — Ele fez uma pausa. — Infelizmente, você tem um câncer.
O chão pareceu desaparecer sob meus pés.
— O quê? — Minha voz saiu trêmula, quase inaudível.
— Você tem um linfoma avançado. Precisamos iniciar o tratamento o mais rápido possível.
Meus ouvidos zuniram. Meu peito apertou de uma forma sufocante.
Câncer.
A palavra girava na minha cabeça como um pesadelo do qual eu não conseguia acordar.
— Mas… Mas eu tenho uma filha! — Minha voz saiu em um soluço, e as lágrimas finalmente escaparam dos meus olhos.
O médico me olhou com empatia.
— Sei que isso é um choque, mas você não está sozinha. Temos tratamentos…
— Mas eu estou sozinha! — interrompi, desesperada. — Eu sou tudo que minha filha tem! E se… Se eu morrer? Quem vai cuidar dela?
Meus ombros sacudiam enquanto eu tentava controlar o choro. A imagem de Luiza, pequena e indefesa, sem ninguém no mundo, me rasgava por dentro.
O médico se inclinou para frente, com um olhar compreensivo.
— Você precisa ser forte, Sofia. Pelo menos tente iniciar o tratamento. Há chances de recuperação, mas precisamos agir rápido.
Minhas mãos tremiam. Meus olhos ardiam.
Eu não podia morrer. Não podia deixar Luiza.
Engoli o choro com dificuldade e assenti, mesmo que meu coração estivesse em pedaços.
— O que eu preciso fazer?
O médico começou a explicar sobre quimioterapia e os próximos passos, mas minha mente estava em outro lugar. Em Luiza. Em seu sorriso. Em como eu a embalava para dormir todas as noites.
Eu não podia deixá-la sozinha neste mundo c***l.
Quando saí do consultório, a noite já havia caído. O ar frio da rua bateu no meu rosto, e pela primeira vez na vida, eu me senti verdadeiramente assustada.
Peguei o celular e disquei o número de Samara com os dedos trêmulos.
— Amiga, o que foi? O que eles disseram? — A voz dela estava carregada de preocupação.
— Sam… — Minha voz falhou. — Eu estou com câncer.
O silêncio do outro lado foi ensurdecedor.
— Não… Não pode ser.
— Eu não sei o que fazer. — Deixei escapar um soluço. — E a Luiza, Sam? O que vai acontecer com ela se eu… Se eu não conseguir?
— Para! Não fala assim! Você vai lutar! Eu estou com você, Sofia. Sempre!
Mas mesmo com as palavras dela, o medo ainda me consumia.
Abracei meu próprio corpo, fechando os olhos, e fiz uma prece silenciosa.
Por favor, Deus… Não tire minha filha de mim. E, se eu não puder ficar… Por favor, não a deixe sozinha.
Naquela noite, enquanto voltava para casa, senti um peso esmagador no peito. Eu precisava encontrar uma saída.
Por Luiza. Por mim.
E por um futuro que eu me recusava a perder.