Capítulo 2

1222 Words
Sofia Eu não lembro de como cheguei em casa. O tempo passou de forma distorcida, como se as horas se esticassem e se encolhessem ao mesmo tempo, como se a dor que me consumia tivesse sido amplificada por cada segundo que eu estava longe de Luiza. Tudo o que eu conseguia pensar era nela. A pequena que eu carregava dentro de mim por nove meses e que agora dependia de mim de uma forma que eu nunca poderia explicar. Ela era minha razão de viver, e agora, a possibilidade de deixá-la para trás me fazia desejar que o mundo parasse. Quando entrei pela porta da sala, vi Samara já com Luiza nos braços. Ela estava sorrindo, com os olhos brilhando, como sempre fazia com minha filha. Mas ao me ver, o sorriso dela foi desaparecendo aos poucos, e logo ela estava de pé, correndo até mim, com o rosto preocupado. — Sofia… — Ela disse meu nome baixinho, e logo pude ver que os olhos dela estavam marejados, segurando as lágrimas com uma força que eu sabia que era difícil para ela. Eu não aguentei. As lágrimas desceram sem que eu pudesse controlá-las, e eu me entreguei à tristeza, à dor, ao medo de tudo o que estava acontecendo. — Eu… — Comecei a falar, mas minha voz falhou, e eu não consegui terminar. Samara me envolveu em um abraço apertado, sem palavras. Não precisava de palavras. A dor estava ali, palpável. Ficamos assim por um tempo. Ela me abraçava como se o simples ato de me segurar fosse a única coisa que ela pudesse fazer para me ajudar a suportar tudo isso. Ela sabia o quanto Luiza significava para mim, o quanto eu faria qualquer coisa para vê-la feliz e segura. E agora… agora a possibilidade de não estar mais ao lado dela me destruía. Samara afastou-se um pouco, pegando meu rosto nas mãos e me olhando com os olhos úmidos. Ela não precisava dizer nada, mas sabia que eu precisava ouvir. — Sofia, eu vou ficar com você, em tudo o que você precisar. Você não está sozinha, nem por um segundo. Luiza vai ter você, e vai ter a mim também. Eu não vou deixar você enfrentar isso sozinha. Eu respirei fundo, tentando segurar as lágrimas. Cada palavra dela era um alívio, um consolo que eu não sabia que precisava até aquele momento. Eu estava quebrada, mas com Samara ao meu lado, sentia que poderia tentar, pelo menos, lutar. — Eu não sei o que fazer, Sam… — A voz me saiu fraca, mas o desespero que eu sentia estava claro demais para ser ignorado. Ela me olhou com calma, mas seus olhos ainda estavam cheios de dor, como se ela estivesse sentindo cada pedacinho da minha dor também. — Vamos passar por isso, Sofia. Eu vou te ajudar em tudo, sempre. Você vai se tratar e vai sair dessa. Eu sei que vai. Aquelas palavras soaram como uma âncora. Eu precisava acreditar nisso. Eu precisava tentar. Para Luiza. Para mim mesma. Para tudo o que eu amava. Me sentei no sofá, e Samara sentou ao meu lado, com Luiza no colo. A pequena estava rindo, sem saber o peso que pairava sobre todos nós. Samara acariciou o cabelo dela com suavidade, e eu observei, um aperto no peito. O que aconteceria com Luiza se algo me acontecesse? Quem iria cuidar dela? Eu sabia que, se fosse preciso, Samara cuidaria dela como uma segunda mãe. Mas eu não queria deixar isso acontecer. Depois de um silêncio pesado, Samara me olhou com a expressão séria e perguntou: — Como vai ser o tratamento, Sofia? Quando você vai começar? A pergunta me pegou de surpresa, e eu me senti completamente perdida novamente. O tratamento… Eu sabia o que o médico havia dito, mas minha cabeça ainda estava girando com a descoberta. A palavra câncer estava ecoando dentro de mim, e eu não sabia como dar o próximo passo. — Eu… eu não sei. Ele falou sobre quimioterapia, sobre começar logo, mas eu não entendi tudo. Ele disse que tem chance de cura, mas eu tenho que começar rápido. — Minha voz saiu trêmula. Samara me encarou com os olhos gentis, tentando me dar força, mas eu podia ver o medo nela também. Ela sabia o que esse tratamento significava. Sabia que a quimioterapia era apenas o começo de uma jornada difícil, de uma luta que eu não sabia se seria capaz de vencer. — Vai dar tudo certo, amiga. Eu vou estar com você em cada passo, em cada sessão. Você vai lutar, e vai vencer. E a Luiza vai crescer sabendo o quanto você foi forte por ela. Eu fechei os olhos, permitindo que a confiança de Samara, embora frágil, me envolvesse. A ideia de passar por tudo aquilo parecia tão assustadora. As sessões de quimioterapia, os efeitos colaterais, a perda de cabelo, o cansaço extremo. E ainda havia o medo de não resistir. — Eu não quero que minha filha me veja assim, Sam… Não quero que ela cresça sem mim. Ela apertou minha mão com força, como se quisesse me transmitir toda a força que ela tinha dentro de si. — Você vai estar aqui, Sofia. Eu sei que vai. E Luiza vai crescer com a lembrança de uma mãe que lutou por ela até o fim. Isso vai ser o suficiente. Eu queria acreditar, mas a dúvida me corroía. E se eu não fosse forte o suficiente? E se o câncer fosse mais forte do que eu? Samara permaneceu ao meu lado enquanto eu pensava no futuro, no que estava por vir. Às vezes, o medo parecia me engolir, e eu não conseguia visualizar um amanhã. Mas Samara estava ali, me dando o apoio que eu tanto precisava. — Você já pensou em como vai contar para Luiza quando ela crescer? — A pergunta de Samara foi suave, mas me pegou de surpresa. Eu olhei para minha filha, que dormia tranquilamente nos braços dela, como se nada de r**m fosse possível acontecer com ela. Como eu poderia contar a ela um dia sobre o que vivi? Como poderia explicar que, por um tempo, sua mãe lutou para ficar ao seu lado e que, por muito pouco, não foi uma batalha perdida? — Não sei… — Respondi baixinho. — Só espero que ela saiba o quanto eu a amo, que eu sempre fiz o meu melhor por ela. Samara me olhou com uma ternura que tocou meu coração. — Eu sei que ela vai saber, Sofia. Você é tudo para ela, e nada disso vai mudar. Você é uma guerreira, e ela vai saber disso quando crescer. Eu respirei fundo e tentei enxugar as lágrimas. Era difícil. O medo ainda estava ali, com uma presença esmagadora. Mas, naquele momento, eu senti que, com Samara ao meu lado, eu não estava sozinha. A noite passou em silêncio, com Samara cuidando de Luiza e me dando um pouco de alívio. Eu sabia que tinha uma longa jornada pela frente. O tratamento, as sessões de quimioterapia, a luta para ficar ao lado de minha filha. Mas, por mais difícil que fosse, eu tinha que tentar. Por Luiza. Por mim. — Você vai ser a mãe mais forte do mundo, Sofia. Eu acredito em você. E, naquele momento, eu tentei acreditar também.
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