Aquilo fez Julian rir.
— Mas e você? Agora vai ter que me dizer o que tinha naquela sacola e onde você foi.
— Voltei ao hospital
— Por que?
— Tem uma garota... — Antes que pudesse prosseguir foi interrompido por Julian.
— Agora entendi, está lá apenas a uma semana e já está de namoro, você é rápido.
— Você entendeu errado.
— Entao não pediu ela em namoro? Você sai nesse clima chuvoso, percorre toda essa distância até o hospital levando não sei o que em uma sacola e são apenas amigos?
— Era um cobertor, não queria que ela sentisse frio.
— Ela é bonita?
— Muito — Os olhos de Ethan brilharam.
— E você está interessado?
— Não...claro que não...eu não poderia, nem deveria.
— E por que não? Ela tem namorado.
— Tinha, há alguns meses. Ele a abandonou.
— Então, ela deve estar lá apenas a espera de alguém para cuidar dessa ferida.
— Impossível...
— Por que?
— Ela nem sabe que foi abandonada pelo namorado.
— Como não sabe, essa sua história está muito estranha.
— Não, ela não sabe pelo simples fato de estar em coma.
— Coma?
— Sim.
— Não sei o que dizer.
— Ela terá os aparelhos desligados em cinco meses, foi deixada lá para morrer e nem se quer sabe disso. Ela não merecia.
Ethan levantou-se do sofá.
— E se ela acordar?
— Não sei se existe essa possibilidade, lembra do que eu te falei sobre meu médico?
— Qual parte?
— A que eu precisava conversar mais, falar sobre minha doença e sobre meu passado.
— Lembro.
— Estou me abrindo com ela, a garota em coma, não conseguiria me abrir para outra pessoa, que não fosse você é claro, mas você já sabe toda a minha história.
— Ótimo, isso pode ser uma boa terapia para os dois.
— Não vai rir? Ou me achar um i****a por fazer isso? Conversar com uma garota em coma.
— Não, eu não vou.
— Por que?
— Porque você é meu amigo, e os amigos se apóiam sem se julgar.
— Obrigado.
— Qual o nome dela?
— Elizabeth, Elizabeth Watson.
— Nome de burguesa.
— Eu sei — Ambos riram — mas ela não tem nada de burguesa, é simples, humilde e já passou por muitas coisa. Sinto isso toda vez que olho para aquele rosto perfeito.
— Cinco meses, certo?
— Sim.
— E se ela acordar?
— O que tem?
— Chamaria ela para sair?
— Claro que não.
— Por que? Está na cara que se interessou. O que é muito raro.
— O que eu poderia oferecer a uma garota como ela? Sou apenas um ex-soldado que vê e escuta coisas que não existem. Um doente, não poderia oferecer nada a ela.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Faça.
— Voce chegou na sua casa e voltou rápido ao hospital levando um cobertor para que ela não sentisse frio, pois se preocupou a ponto de não pensar duas vezes, certo?
— Sim.
— Então você tem tudo a oferecer. Continue fazendo o que está fazendo, e Ethan.
— O que?
— Vamos acordar ela, por você e para você — Julian sorriu passando confiança ao seu amigo.
Não demorou muito para Julian ir embora e Ethan foi para a cozinha preparar algo para o jantar. Nos dias seguintes precisaria ir ao mercado já que a dispensa estava ficando vazia.
Decidiu fazer um pouco de sopa e enquanto procurava pelo macarrão pode ouvir alguém chamar seu nome, parou o que estava fazendo e fitou toda a cozinha, não havia ninguém ali mas a voz insistia em perturbar sua mente.
Ethan colocou as mãos na cabeça e fechou os olhos, tinha a total certeza de que aquilo era sua mente tentando lhe pregar uma peça. Foi para seu quarto e percorreu as gavetas a procura de seus remédios, estavam acabando e em breve teria que ir ate a farmácia, esta ficava apenas algumas ruas de distância.
Algumas horas depois...
Ethan havia jantado e estava deitado em sua cama fitando o teto, como de costume.
— Ethan — Disse uma voz feminina chamando sua atenção, ele sentou-se rápido na cama e olhou para todos os cantos do quarto. Elizabeth estava parada perto a porta, usava um longo vestido azul e seus cabelos loiros estavam soltos.
— Droga de doença infernal — disse ele esfregando os olhos e ao retirar as mãos do rosto ela havia desaparecido.
— Não sou uma alucinação — Elizabeth estava agora sentada ao seu lado.
— Isso não é real, eu sei que não.
— Por que não seria, Ethan? Eu estou aqui, olhe para mim.
— Você está em coma, em um hospital.
— Isso mesmo, devido a um acidente no trânsito. Mas mesmo eu estando em coma apareceu um pobre doente disposto a gostar de mim. Que deprimente Ethan, apenas me viu durante uma semana e já está gostando de mim.
— Saia da minha cabeça — Ethan levou as maos ao rosto novamente.
— Como vou fazer isso se você passa o dia inteiro pensando em mim? Não tem vergonha de ser tão ingênuo, um pobre coitado Ethan? O que pensa que vai acontecer? Acha que eu vou acordar e simplesmente te amar — Ela deu uma leve gargalhada enquanto Ethan continuava com as mãos no rosto tentando se livrar daquela alucinação.
— Saia da droga da minha cabeça.
— Eu posso até acordar, e ai? Sabe o que vai acontecer depois, vou voltar para o meu verdadeiro namorado e você não passará de um funcionário naquele hospital, destinado a limpar e limpar. Você nasceu para ser um verme Ethan, admita. Agora está achando que poderia ter uma vida ou algo parecido comigo? O que alguém patético e doente como você poderá me oferecer? Isso mesmo. NADA.
— Isso não é verdade.
— NADA, NADA, NADA.