Capítulo 4

993 Words
Aquilo fez Julian rir. — Mas e você? Agora vai ter que me dizer o que tinha naquela sacola e onde você foi. — Voltei ao hospital — Por que? — Tem uma garota... — Antes que pudesse prosseguir foi interrompido por Julian. — Agora entendi, está lá apenas a uma semana e já está de namoro, você é rápido. — Você entendeu errado. — Entao não pediu ela em namoro? Você sai nesse clima chuvoso, percorre toda essa distância até o hospital levando não sei o que em uma sacola e são apenas amigos? — Era um cobertor, não queria que ela sentisse frio. — Ela é bonita? — Muito — Os olhos de Ethan brilharam. — E você está interessado? — Não...claro que não...eu não poderia, nem deveria. — E por que não? Ela tem namorado. — Tinha, há alguns meses. Ele a abandonou. — Então, ela deve estar lá apenas a espera de alguém para cuidar dessa ferida. — Impossível... — Por que? — Ela nem sabe que foi abandonada pelo namorado. — Como não sabe, essa sua história está muito estranha. — Não, ela não sabe pelo simples fato de estar em coma. — Coma? — Sim. — Não sei o que dizer. — Ela terá os aparelhos desligados em cinco meses, foi deixada lá para morrer e nem se quer sabe disso. Ela não merecia. Ethan levantou-se do sofá. — E se ela acordar? — Não sei se existe essa possibilidade, lembra do que eu te falei sobre meu médico? — Qual parte? — A que eu precisava conversar mais, falar sobre minha doença e sobre meu passado. — Lembro. — Estou me abrindo com ela, a garota em coma, não conseguiria me abrir para outra pessoa, que não fosse você é claro, mas você já sabe toda a minha história. — Ótimo, isso pode ser uma boa terapia para os dois. — Não vai rir? Ou me achar um i****a por fazer isso? Conversar com uma garota em coma. — Não, eu não vou. — Por que? — Porque você é meu amigo, e os amigos se apóiam sem se julgar. — Obrigado. — Qual o nome dela? — Elizabeth, Elizabeth Watson. — Nome de burguesa. — Eu sei — Ambos riram — mas ela não tem nada de burguesa, é simples, humilde e já passou por muitas coisa. Sinto isso toda vez que olho para aquele rosto perfeito. — Cinco meses, certo? — Sim. — E se ela acordar? — O que tem? — Chamaria ela para sair? — Claro que não. — Por que? Está na cara que se interessou. O que é muito raro. — O que eu poderia oferecer a uma garota como ela? Sou apenas um ex-soldado que vê e escuta coisas que não existem. Um doente, não poderia oferecer nada a ela. — Posso te fazer uma pergunta? — Faça. — Voce chegou na sua casa e voltou rápido ao hospital levando um cobertor para que ela não sentisse frio, pois se preocupou a ponto de não pensar duas vezes, certo? — Sim. — Então você tem tudo a oferecer. Continue fazendo o que está fazendo, e Ethan. — O que? — Vamos acordar ela, por você e para você — Julian sorriu passando confiança ao seu amigo. Não demorou muito para Julian ir embora e Ethan foi para a cozinha preparar algo para o jantar. Nos dias seguintes precisaria ir ao mercado já que a dispensa estava ficando vazia. Decidiu fazer um pouco de sopa e enquanto procurava pelo macarrão pode ouvir alguém chamar seu nome, parou o que estava fazendo e fitou toda a cozinha, não havia ninguém ali mas a voz insistia em perturbar sua mente. Ethan colocou as mãos na cabeça e fechou os olhos, tinha a total certeza de que aquilo era sua mente tentando lhe pregar uma peça. Foi para seu quarto e percorreu as gavetas a procura de seus remédios, estavam acabando e em breve teria que ir ate a farmácia, esta ficava apenas algumas ruas de distância. Algumas horas depois... Ethan havia jantado e estava deitado em sua cama fitando o teto, como de costume. — Ethan — Disse uma voz feminina chamando sua atenção, ele sentou-se rápido na cama e olhou para todos os cantos do quarto. Elizabeth estava parada perto a porta, usava um longo vestido azul e seus cabelos loiros estavam soltos. — Droga de doença infernal — disse ele esfregando os olhos e ao retirar as mãos do rosto ela havia desaparecido. — Não sou uma alucinação — Elizabeth estava agora sentada ao seu lado. — Isso não é real, eu sei que não. — Por que não seria, Ethan? Eu estou aqui, olhe para mim. — Você está em coma, em um hospital. — Isso mesmo, devido a um acidente no trânsito. Mas mesmo eu estando em coma apareceu um pobre doente disposto a gostar de mim. Que deprimente Ethan, apenas me viu durante uma semana e já está gostando de mim. — Saia da minha cabeça — Ethan levou as maos ao rosto novamente. — Como vou fazer isso se você passa o dia inteiro pensando em mim? Não tem vergonha de ser tão ingênuo, um pobre coitado Ethan? O que pensa que vai acontecer? Acha que eu vou acordar e simplesmente te amar — Ela deu uma leve gargalhada enquanto Ethan continuava com as mãos no rosto tentando se livrar daquela alucinação. — Saia da droga da minha cabeça. — Eu posso até acordar, e ai? Sabe o que vai acontecer depois, vou voltar para o meu verdadeiro namorado e você não passará de um funcionário naquele hospital, destinado a limpar e limpar. Você nasceu para ser um verme Ethan, admita. Agora está achando que poderia ter uma vida ou algo parecido comigo? O que alguém patético e doente como você poderá me oferecer? Isso mesmo. NADA. — Isso não é verdade. — NADA, NADA, NADA.
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