Ethan andou pelos corredores a procura de algo para limpar mas não encontrou nada. Minutos depois as enfermeiras deixaram o quarto e ele as observou descer as escadas rumo ao primeiro andar.
Ethan voltou ao quarto e se sentou novamente na cadeira, fitou a janela aberta notando alguns pássaros voando no céu do horizonte, em seguida olhou Elizabeth pelo canto de sua visão.
— Você tem cara de burguesa, sabe, aquelas mulheres bem sucedidas que compram e tem o que desejam. Mas creio que não seja assim, Margareth não me falou muito sobre você, apenas sobre a falta de dinheiro para pagar os custos com seu tratamento. Continuando...
***
Quando eu abri os olhos minha visão estava embaçada, apenas conseguia ver um borrão branco. Na mesma da hora pude escutar algumas vozes mas não entendia o que estavam dizendo.
Meu corpo ficou imóvel enquanto me recordava dos últimos acontecimentos antes de desmaiar, apenas me lembrava de olhar a grande árvore.
Não demorou muito para que eu conseguisse enxergar normalmente, o borrão branco que eu via antes agora estava bem nítido, era o teto de algum lugar. Lentamente e com muita dificuldade me levantei e fiquei sentado na cama. Um homem usando roupas brancas aproximou-se de mim.
— Você é mais forte do que pensavamos — Ele se abaixou e direcionou uma pequena lanterna nos meus olhos, como aquilo era irritante.
— consegue seguir a luz?— voltou a repetir alguns gestos com a lanterna — consegue se mexer?
— Onde estão os meus pais?— perguntei olhando em volta, ao mexer meu corpo mais uma vez notei que por baixo da minha blusa havia algumas faixas, mas também pude perceber que aquelas roupas não eram as minhas.
— Você não tem pais.
— Eu tenho.
— Não mais, você foi encontrado sozinho sangrando em uma cidade vizinha, ficou desacordado por duas semanas e já que acordou será levado para um orfanato ao anoitecer. Se lembra de algo?
— Estava com meus pais e meus irmãos, depois tudo ficou escuro.
— Você foi atingido por uma bala, sair vivo foi um milagre, já vi adultos morrerem com aquele ferimento mas você conseguiu se recuperar.
— Meus pais.
— Você não tem mais pais garoto, conforme-se, agora fique ai até a hora deles te buscarem, e calado.
A única coisa que pude fazer após aquele homem deixar o quarto foi chorar, eu queria os meus país, eu precisava deles.
Desci da cama com dificuldades e andei até a porta, estava trancada e tive que me afastar ao ver a maçaneta girando. Uma mulher usando um uniforme de enfermeira abriu a porta e ela segurava um prato de alumínio, ou uma tampa, não sei bem. Sobre ela havia arroz e um pedaço de carne.
— Hora de comer — Ela jogou aquilo sobre mim e em seguida fechou a porta, a trancando novamente. Estava com muita fome então peguei a carne que havia caído sobre o chão e comecei a comer.
Não entendi o por que dela ter feito aquilo. Não pude segurar a vontade de chorar outra vez e tempos depois o mesmo homem de antes adentrou novamente no quarto.
— Hora de te apresentar a sua nova família — Ele segurou meu braço e me levou para fora dali, andamos por um longo corredor e aquele lugar não se parecia nada com um hospital, estava tomado por um silêncio muito estranho.
Descemos algumas escadas até chegar em uma ala enorme onde havia varias outras crianças, algumas até mais novas que eu, todas estavam viradas para uma parede de cabeças baixas e usavam uma roupa clara parecida com a minha.
— Aqui está sua nova família — Ele me empurrou para perto de um dos garotos e acabei me esbarrando nele, este se manteve da mesma maneira, virado para a parede de cabeça baixa.
— Eu quero ir pra casa.
Aquele homem me olhou e sorriu, em seguida deixou o lugar e quando tentei sair dali a garoto ao meu lado segurou minha mão me impedindo.
— Nao faça isso, eles vão te torturar.
— Quero minha família.
— Apenas obedeça ou todos nós vamos ser punidos, abaixe a cabeça, está quase na hora do banho.
Ele sussurrou para mim como se estivesse com medo de que mais alguém escutasse, eu simplesmente não entendia nada do que estava acontecendo naquele lugar.
— Eu não quero ir para um orfanato.
— Você já esta em um.
***
— A princípio eu pensei que aquele homem que se parecia um médico fosse uma boa pessoa — Ethan decidiu fechar um lado da janela pois estava começando a ventar e varias nuvens negras tinham tomado conta do céu.
Ele se certificou de arrumar os lençóis para que ela não sentisse frio, em seguida tocou seu rosto para ver se estava quente.
— Pra que isso?— perguntou Margareth chegando no local mais uma vez.
— Para checar a temperatura do corpo dela.
— Agora você também é medico?
— Ficaria surpresa com as coisas que sei fazer, sou um pouco de tudo.
— Lá vem você com esse papo de exército.
— Quem sabe.
— Estamos dispensando os poucos funcionários devido ao clima, parece que vai chover muito então você pode ir embora.
— Margareth.
— O que?
— Eu pago — Ethan fitou Elizabeth.
— O que você paga?
— O tratamento dela, eu pago o que for necessário.
— Por que isso? Nem a conhece.
— Não tem como te explicar, apenas não quero que ela morra.
— Quem sabe nem morra, ela ainda tem esses meses para acordar.
— Eu não ligo, apenas quero pagar.
— Você não pode pagar, Ethan.
— E por que não?
— Você tem alguma conta recheada no banco por acaso? Por que com o salario que pagam aqui você não pagaria nem os seus próprios custos caso fosse internado.
— Eu posso tentar.
— Ethan — Margareth ficou com o semblante mais sério — Os papeis já foram assinados, não tem volta e mesmo se recorresse ao ministério isso iria demorar mais tempo do que ela tem de vida. Eu não quero ser grossa, afinal somos amigos, mas apenas faça o seu trabalho. Estou nisso a muito tempo e sei como dói ver as pessoas partindo, mas essa é a vida. Agora faça o que eu te pedi e aceite o meu conselho.
Ethan passou por Margaret de cabeça baixa e foi em direção as escadas, trocou de roupa e saiu para fora daquele lugar. Olhou para o céu e ele estava mais nublado do que quando havia visto antes.
Estava começando a ventar então ele seguiu para o ponto de ônibus e embarcou. Ficou a viagem toda perdido em seus pensamentos, pensamentos que giravam em torno daquela paciente deitada sobre a cama.
Após aproximar-se de sua casa notou que a porta estava meio aberta e ficou atento a qualquer ameaça, lembrava-se bem de a ter trancado tudo antes de sair.
Entrou lentamente mas logo foi surpreendido pela figura de um homem mais alto, parado na sala. Este segurava uma muleta pois não possuía uma de suas pernas.
— Você chegou mais cedo — disse ele sentando-se no sofá.
— Julian, o que faz aqui e como entrou?
— Você não trancou direito então foi fácil, eu precisava sair um pouco então vim pra cá.
— Cuide da casa por mais alguns minutos, preciso fazer uma coisa — Ethan foi em direção ao quarto e quando voltou estava segurando uma sacola azul.
— O que tem ai?
— Nada muito importante, eu vou voltar logo.
— Ok então, tem bebida?
— Na geladeira.
— Pensei que não bebia.
— E não bebo.
— Então por que tem?
— Por que você bebe, e passa mais tempo por aqui do que em casa, então decidi deixar ai pra você. Espere ai — Ethan saiu apressado e sabia exatamente onde ir.
Vários minutos depois já estava descendo do ônibus e indo em direção ao hospital, pegou um caminho diferente pois não queria que nenhum funcionário o visse, principalmente Margareth.
Foi para a direita do hospital e passou perto a uma grande janela, fitou rápido todo o corredor e em seguida voltou até ela. Entrou e subiu rápido algumas escadas indo em direção ao segundo andar, mas acabou se esbarrando em um funcionário que também trabalhava na limpeza do hospital.
— Desculpe.
— Onde está indo? Todos estão deixando este local.
— Esqueci algumas coisas e voltei para buscar, tenha uma boa tarde - Voltou a subir rápido antes que mais alguem o notasse ali.
Chegou no corredor desejado e adentrou no quarto de Elizabeth, em seguida fechou a porta. Foi em direção as janela e se certificou de que estivesse bem fechada para não entrar aquele vento gelado.
Depois disso abriu a sacola que tinha em mãos e retirou um cobertor escuro bem felpudo.
– Trouxe isto para você, este ai é muito fino e a noite promete ser bem fria, não quero que pegue uma doença, afinal esta cama fica muito perto da janela - ele a cobriu e por alguns segundos ficou lhe olhando, parecia que ela abriria os olhos a qualquer momento - você vai ficar bem, sei que vai.
Ethan ficou alguns segundos com os olhos vidrados no rosto de Elizabeth, tinha a impressão de que a qualquer momento ela se levantaria dali, tinha tanta coisa para lhe contar. Mas era apenas impressão, ela continuava dormindo e nem se quer se mexeu.
Após checar mais uma vez se tudo estava nos conformes para que ela não sentisse frio, Ethan saiu rápido do quarto e fez o mesmo percurso para sair do hospital sem ser visto por ninguém.
Estava ansioso para chegar o dia seguinte, assim poderia voltar a olhar para o rosto pálido de Elizabeth. Mesmo estando naquele estado, sua beleza continuava inabalada.
Voltou para sua casa e Julian ainda estava lá, a sua espera, sentado no sofá pensando em algo.
— No que está pensando? Problemas com a Amélia? — Perguntou Ethan sentando-se no sofá.
— Nós terminamos...
— Isso não é novidade, vocês sempre terminam e depois voltam.
— Não dessa vez, ela está com outro cara, um riquinho do c*****o.
— Sinto muito, eu não sabia.
— Eu fui na casa dela para tentar reatar e a vi aos beijos com um i****a, em seguida entraram em um carro. Um p**a carro que compraria nossas casas juntas. Depois que vi isso o único lugar que eu pensei em ir foi para cá, para perto de você. O irmão que eu nunca tive.
— Isso foi gay.
— Isso foi sincero.
— Eu sei — Ethan colocou sua mão sobre o ombro de Julian — Sei que sou um amigo problemático, mas sempre estarei aqui quando precisar, para unir nossas desgraças e gritar juntos ao mundo um grande grito de "Fodas"