Samanta:
Acordei com a cabeça mais pesada que panela de ferro. Tentei abrir os olho, mas parecia que tinham passado cola neles. Dona Cotinha tinha razão: dormir enganava o bucho!
Levantei igual um cabrito tonto, limpando a cara cheia de lama. Mas o problema maior não era a sujeira, era minha garganta seca parecendo que tinha engolido areia.
Foi aí que ouvi um barulho. Água!
Minhas perna, que até então tavam pedindo arrego, deu um pulo sozinha. Segui o som, tropeçando aqui e ali, até que achei um rio.
A água brilhava toda bonitona no sol. Me aproximei, já imaginando dar um gole, quando levei um susto daqueles!
Tinha uma pessoa na água!
— AI, MEU JESUS! TEM GENTE AQUI! Pulei pra trás.
Mas... pera.
Fiz uma careta e me aproximei de novo. A criatura me olhava igual eu olhava pra ela.
Toquei a água, mas o bicho não se mexeu.
— Carambola... sou eu?
Era eu mesma! Fiquei de boca aberta. Nunca tinha me visto na vida! — Nossa... esse tempo todo eu era assim? Passei a mão no rosto, me encarando. — Podia ser pior.
Mas agora não dava tempo pra ficar conversando com meu outro eu na água. Minha boca tava seca que só!
Me abaixei e tomei uns gole d’água, suspirando aliviada. Sentei na beira do rio, meti os pé na água e fechei os olho.
Até que escutei um barulho.
Meu coração quase pulou fora.
Taquei-me pra trás de uma árvore e segurei a respiração. Tinha alguém vindo!
Então ele apareceu.
Um homem alto, de cabelo preto bagunçado e olho verde igual vidro brilhando no sol. Meu queixo caiu na hora.
— Nossa, como ele é bonitão... parece até príncipe de história! Cochichei.
Fiquei espiando ele, mas e se ele me visse?
Antes que eu decidisse o que fazer, ele foi embora.
"Ah, mas eu quero saber onde ele vai!"
Minha curiosidade falou mais alto. Me esgueirei devagar, tentando seguir ele, mas num piscar de olhos, o homem sumiu no meio das árvores!
Foi aí que meus olhos brilharam.
Árvore cheia de frutinha!
Minha barriga roncou tão alto que até os passarinho pararam de cantar. Não pensei duas vez!
Corri até a árvore, estiquei os braços e comecei a arrancar tudo o que conseguia.
Peguei um monte e, antes de sair correndo dali, olhei na direção da casa sem querer.
E lá tava ele.
O homem dos olho verde, parado, com uma caneca na mão.
Engoli seco.
Se ele me pegasse, será que me expulsaria? Ou pior, me entregaria para os bandidos?!
Minha barriga roncou de novo.
— Ah, primeiro eu como, depois eu penso nisso!
E saí correndo com meu tesouro nas mãos!
[...]
Uma semana depois.
Todo dia eu ia pegá emprestado umas frutinha e vê o príncipe na janelona segurando uma caneca. Toda vez ele tava lá, igual estátua, olhando pro nada. Às vez até ele ia até o rio, gritava e falava sozinho. Coitado. Fiquei até com dó... será que os príncipes de conto de fada também tinha os parafusos soltos igual chapeleiro da Lice no país das maravilha?
Às noite, eu sonhava com ele montado num cavalo branco, mas dona Cotinha sempre falava pra eu tomá cuidado, que os príncipe podia virá sapo depois do beijo. Eu nem sabia beijá, mas fiquei pensano... Será que aquele moço bonito ia virá sapo?
Balançei a cabeça pra pará de pensá nisso e fui até às árvore pegá umas frutinha, mas o azar resolveu me agarrá. Do nada, surgiu um cachorro do tamanho de um cavalo! Ele olhou pra mim e lambeu os beiço. Como se eu fosse um pedaço de carne suculento.
— Aaaaaaaaah! Gritei e subi na árvore mais rápido que d***o fugindo da cruz.
O bicho ficou latindo lá embaixo, tentando pulá em mim. Tava sentindo a morte vindo me buscá, mas antes, apareceu o moço bonito. Meu coração bateu forte. Ele parecia um príncipe, mas tava com cara de quem tinha mastigado limão.
— O que está fazendo na minha propriedade? Como entrou aqui, menina? Ele falou, cruzando os braço e inflando o peito igual pavão. — Quem te permitiu pegar minhas frutas? Ladra! Quem te mandou aqui?
Eu tava calma até ele me chamá de ladra.
— Eu num robei nada! Eu só peguei emprestado. E ia pagá... um dia.
Ele olhou pra mim com raiva e disse para o cachorro:
— Brutus, sai!
O bicho obedeceu e eu tentei descer devagar, mas o nervosismo era tanto que escorreguei e caí de cara no chão.
— Agora me diz: como entrou aqui?! Ou eu chamo a polícia!
— lih, não sou ladrona, não, cara! Tá sabendo.
Ele se aproximou e segurou meu braço com força.
— Seguranças! Gritou.
Meu coração bateu tão forte que achei que ia sair pela boca.
— Ih, mas que cara mais sem educassão. Já falei que só peguei umas frutinha, nem comi tudo, ainda tem um monte ali, ó!
— Cala a boca!
Ah, ninguém mandava eu calá a boca!
Mordi o braço dele com gosto e saí desembestada correndo.
— Sua maluca! Selvagem! Peguem essa infeliz!
Mas meu azar era grande. Tropecei, caí de novo e o moço bonito já tava em cima de mim. Peguei um galho no chão e taquei na testa dele. Ele arregalou os olho, em choque. O sangue desceu um pouquinho.
**
Maike:
Olhei pra selvagem na minha frente e tive vontade de estrangulá-la. Como essa menina ousa me atacar?!
— Você começou! Só peguei umas frutinha!
Ela cruzou os braço, cheia de audácia.
— Seguranças!
Os seguranças chegaram e a seguraram. A menina entrou em desespero.
— Não, pelo amor de tudo que é mais sagrado! Eu num sou ladra! Ela chorava, se debatendo.
— Peça desculpas!
— Num vô pedi nada! Você que começou, seu m*l educado! Ricão cheio das frescura metido a b***a, só porque tem casona acha que pode humilhá os outro! Fique aí com suas frutinha, que eu nem queria mesmo e enfie tudinho onde num bate sol!
Meu sangue ferveu mais ainda! Me aproximei devagar, mas parei quando ouvi a voz do meu pai.
Rodolfo — Não se atreva, Maike. Eu não te criei assim.
Ele me olhou, depois olhou para ela.
— Então ela pode invadir minha casa, roubar e ainda me agredir?
— Eu num sou ladrona! Ela gritou. — E se precisá tacá galho na tua cabeça de novo, eu taco!
— Essa selvagem me mordeu, pai! Vou ter que tomar vacina contra raiva!
Minha irmã apareceu do nada, rindo.
Isabela — Já gostei dela.
Meu pai ordenou:
Rodolfo — Soltem-na.
Meu coração gelou. Essa garota me atacou e ele ainda ficou do lado dela?
A selvagem cambaleou e desmaiou!
Os seguranças seguraram antes que ela caísse no chão. — Levem-na para dentro.
— Não! Ela não vai entrar na minha casa!
Meu pai me encarou.
Rodolfo — Ela vai sim, porque essa casa foi comprada com o meu dinheiro.
Ferveu meu sangue. Eu odiava quando ele jogava isso na minha cara. — Por causa daquela vagabunda, você desistiu de tudo! Da sua carreira, da sua vida! Seu irmão tá carregando todas as responsabilidades da família enquanto você se enterra aqui!
Eu cerrei os punhos, cheio de ódio, mas não disse nada. Apenas dei as costas e saí.
Essa selvagem ia me pagar.