SEM CHORO - LIVRO 1

Eu lembro exatamente o que se passava na minha cabeça quando decidir ir visitar Richard Scott, aquele conhecido por ser um investidor importante e noivo da garotinha dos Keller, o grande relacionamento, noivado conhecido e casamento com data marcada. Estava um sol de quase trinta e cinco graus, não era muito bom aquele tempo, mas eu precisava falar com ele e dizer uma notícia incrível sobre onde iríamos morar depois do casamento, um apartamento na quinta avenida, dado pelo meu pai e avaliado em bons milhões de dólares. Estava tão feliz pelo lugar e como poderíamos entrar nele juntos depois do casamento, Richard não atendeu o telefone e quando liguei para o escritório dele, não deu em nada. Havia brigado com ele na noite anterior por um boato dele estar tendo um caso, com a então madrinha do casamento e minha melhor amiga. Era impossível de acreditar. Como ele me trocaria por ela? Eu era uma Keller! Mas aí descobri que não importava quem eu era e meu valor todo, de como eu não fui suficiente em quatro anos de relacionamento. Eu tinha a chave do apartamento, por isso entrei pela porta da sala e observei a cena no sofá, o cheiro que invadiu minhas narinas, era o perfume dos dois, misturado com mais um, um que me fez revirar o estômago e querer morrer ali mesmo. Eu havia entrado, mergulhado naquela cena, pegando os dois suados, bem, aquele dia realmente estava calor. Havia pego ele e ela. Traição comigo, entre os dois. Depois de sorrisinhos e malícia dos dois, eu anunciei minha presença, foi como ver o circo todo caindo. Doeu, doeu de verdade aquela queda. Nunca imaginei ou pensei no que eu faria ou passasse por isso, na verdade, eu também nunca pensei que isso aconteceria comigo algum dia, mas aconteceu. Entre minha melhor amiga e o amor que se dizia ser apenas meu, ali eu virei as costas e acabei com tudo. Me lembrei do jogo da responsabilidade que ele jogou comigo, das vezes que me deixou esperando ou me tratou m*l, as vezes que fez algo e depois veio pedir desculpa, indo e fazendo as mesmas coisas. Eu havia sido estúpida, tanto quanto ele ao me trair, eu duas vezes mais por não perceber nada. Por não ter abrindo meus olhos para o que estava bem embaixo do meu nariz. Eu odiei os dois. Dizem que o ódio faz a gente mudar, mas não é esse sentimento que faz isso, ele até ajuda, o que faz a gente mudar e as atitudes ruins que pessoas tem com a gente e o que elas despertam. Apenas as atitudes podem arruinar tudo. Não sentimentos. Naquele dia eu não chorei, não lembro de ter derramado uma lágrima significativa ou me lamentado, acho que algo foi parado antes e eu segui da minha forma, eu quis chorar, pelos céus, eu quis chorar como uma criança que perde seu brinquedo preferido, mas eu não fiz isso, meu pensamento ao sair de lá era que seria imprudente manchar a maquiagem ou fazer qualquer coisa do tipo. Ficar deprimida por um fato consumado, preferia não chorar e talvez, ao longos dos próximos dias, eu pudesse achar outra forma de esquecer aquilo. Eu era uma Keller, a Keller traída. Agora eu precisava ficar bem depois de ser traída. Mas como? O que eu iria fazer? Estava perdida!