Quando chegou o primeiro dia de lua cheia, o primeiro dia da maldição do peito em brasa do alpha Henry, as correntes já haviam sido reforçadas e toda a matilha colocada em alerta, ninguém deveria se aproximar da casa da matilha, Henry e Martin estavam tristes sentados no escritório, calados, já haviam chorado e lamentado muito a morte de Ayla, ambos estavam emagrecidos e abatidos, então alguém bateu na porta, era Florence, a nova capitã de guerra da matilha, a nova terceira em comando, que ocupou o lugar que antes era de Zelda, ela tinha um corpo forte, de guerreira, cabelos crespos e escuros que ela usava todo trançado, seus olhos escuros como o breu, a pele cor de jambo que compunha uma figura destemido e bela, Martin autorizou a entrada dela, que os cumprimentou fechando a porta e falou:
_Meu alpha, já controlei a peregrinação a casa da falecida luna, limitei o acesso em que podem se aproximar, mas nenhum deles desejava entrar na casa, só querem rezar e levar flores.
Henry em nenhum momento que Florence entrou, olhou pra ela, estava com a cabeça virada de lado, com a mão no queixo, então fungou e falou:
_Nesses dias que ficarei no porão, não deixe um minuto de vigiar aquela casa, coloque os guerreiros em alerta e em treinamento extensivo.
Henry então olhou pra ela e Florence viu que ele tinha profundas olheiras, o alpha a dispensou e falou a Martin que também tinha se levantado:
_Vou descer pro porão, logo a lua irá virar, você não precisa vir comigo.
_Estou com você desde o começo, sou tão culpado quanto você, meu alpha.
Henry notou que ele tinha lágrimas nos olhos e assentiu, ambos desceram a casa da matilha, vazia, só havia dois lobos pra vigiar o alçapão e outro na frente da casa, Henry e Martin desceram o porão, estavam sozinhos, Henry tirou a camisa e Martin o ajudou a se acorrentar, depois sentaram no chão e esperaram calados, Henry passou a mão em cima da marca que Ayla havia feito no antebraço, depois colocou a mão no colar que ela um dia havia dado a ele e falou com voz embargada:
_Eu queria enlouquecer, assim não teria consciência de tudo o que fiz e aconteceu.
Martin o olhou tristemente, mas não sabia o que falar, até que começou, Henry começou a gritar e urrar desesperadamente, se contorcendo de dor, do seu peito saia fumaça como se estivesse sendo queimado, mas sua pele estava intacta, Martin continuou sentado, chorando, não havia nada que pudesse fazer, Henry se debateu a noite toda, apertava as mãos até sangrar, seus gritos, apesar de estarem num porão, era escutado ao longe, Henry batia os braços no chão e chamava por Ayla, o beta achou que iria enlouquecer vendo aquilo, quando o dia nasceu o alpha acalmou e pareceu desmaiar, a fumaça no peito dele havia sumido, a primeira noite tinha acabado, um remorso imenso tomou o coração do beta por ter condenado seu alpha a uma tortura tão dolorosa, mas então lembrou de tudo o que aconteceu com Ayla, pra quem rezava todos os dias e pediu a ela perdão e misericórdia. Martin ficou todas as noites de lua cheia com Henry no porão por vários meses, o alpha quando acabava as noites de tortura, subia pro seu quarto e ficava uns três dias deitado, sentia a dor do vínculo, uma saudade imensa o dominava e chorava por horas, sua companheira estava morta e a culpa era dele, queria morrer, mas não podia, não encontraria Ayla se tirasse a propria vida, ficava deprimido até Martin vir e fazê-lo reagir, a matilha precisava dele, segundos filhos haviam nascido e não houve comemorações, os lobos fizeram da casa da luna falecida um lugar de adoração e oração, outras matilhas queriam ir até lá pra orar e fazer pedidos, mas Henry proibiu, achava que iriam acabar invadindo seu santuário particular, onde ia todos os dias quando não estava em tortura, rezava, chorava e chamava por Ayla pedindo perdão, então um dia que Martin subiu do porão com Henry, recebeu um mental de Helena, seu filho tinha nascido, o alpha também ouviu e lamentou ele ter perdido o parto do próprio filho e o dispensou, o beta correu pra sua casa e viu seu filho a primeira vez, mas não sentiu alegria e sim um grande remorso, seu filho tinha nascido sob um teto em segurança, seria amado e criado pelos pais, teria uma irmã, família, teria tudo, só que lembrou que um dia teve uma lobinha que perdeu tudo quando nasceu, ela que não teve segurança pra nascer, não conheceu os pais, não tinha nada, só queria ser amada e respeitada, conheceu a dor e a tristeza e ele não pôde nem salvar a vida dela, Martin chorou de tristeza.
Conforme os meses foram passando, Henry foi notando que o cheiro de Ayla estava sumindo da casa, em muitos lugares não tinha mais vestígios e nos que tinham, eram muito suaves, então mais uma vez teve consciência que tinha perdido tudo e a dor do vínculo vinha clamando por Ayla, pedindo pra procurá-la, ficou num estado perturbador até Martin chamá-lo do lado de fora da casa, ele quis ignorar, mas Martin gritou:
_Alpha Henry, sua matilha precisa de você, está tendo ataque de vampiros em Sevilla, eles estão com medo.
Henry olhou pra porta, estava sentado no chão, mas não teve vontade de se levantar, Martin insistiu:
_Já faz dois anos que sua companheira morreu, os vampiros estão atacando os humanos, atacando outras matilhas, está na hora de mostrar a eles quem você é, se a alpha Ayla estivesse aqui, ela já teria mostrado a esses vampiros onde é o lugar deles.
Henry se levantou, lembrou de todas as vezes que ela enfrentou um vampiro, das palavras dela pra matilha, lembrou de Magnus, ele a queria e quase conseguiu, então saiu porta afora e viu o olhar aliviado de Martin que disse:
_Esta tendo muitos ataques nos últimos meses nas outras matilhas, estão aparecendo cada vez mais transformados, eles ainda não vieram aqui por que sabem que você é um híbrido e certamente o único que pode descobrir o que tá acontecendo.
Henry entendeu o que o beta quis dizer e chamando seus guerreiros foi com Martin pra cidade.