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1412 Words
➳ Letícia Amorim, Leth. Em mais um dia sendo obrigada a acordar com a intensa luz solar me forçando a fechar os olhos devido ao irritante incômodo que sentia, soltei um longo suspiro de frustração quando me levantei para fechar as cortinas que havia esquecido abertas na noite passada. Se não fosse o autocontrole tirado da p**a que pariu, certeza que teria a arrancado na força do puro ódio. Precisava falar com papai sobre isso, pedir para que ele trocasse as janelas do meu quarto o quanto antes. Não era necessário todo esse sofrimento apenas por não lembrar de juntar a merda de uma cortina. Estava cansada disso. Ainda com sono, mas sem disposição para voltar para cama. De pé frente às inúmeras peças de roupas, finalmente escolhi uma e deixei meu quarto depois de cuidar de mim. O banho matinal era como um rito de passagem para que o restante do dia pudesse ser no mínimo suportável. A faculdade me sufocava, mas o saber de que um dia seria a responsável por continuar com o legado de papai me dava forças para seguir em frente. Não era o meu maior sonho, mas era tudo o que ele dizia enxergar no meu futuro promissor. Ainda nas escadas, conseguia ouvir a breve despedida entre senhor e senhora Amorim antes de papai finalmente passar pela porta para o início do dia que encerrava mais uma semana. Finalmente era sexta-feira, e por algum milagre não existia nada na universidade para me arrastar até seus prédios neste sábado, mesmo estando em época de projetos importantes. Era raro, mas me enchia de animação quando acontecia. — Bom dia querida, pensei ter dito ontem que só iria para a universidade no horário da terceira aula? — Me enxergando ali quando se virou, mamãe perguntou de forma calma, porém curiosa. Havia mesmo dito aquilo, pois as primeiras aulas desta manhã não me acrescentariam em nada. Mas devido toda a frustração com a claridade do sol que já iluminava o dia, não me restou muitas escolhas. Lucas era um nerd, então se quisesse a companhia dele a essas horas, devia ir logo pra aula. — A força maior não estava do meu lado nessa decisão, mãe. — Ajeitando os fios rebeldes do meu cabelo, ela sorriu enquanto apenas assentia. As chaves do carro já estavam em minhas mãos. — A senhora podia pedir ao papai para trocar as janelas do meu quarto, 'né? Aquelas cortinas não me dão paz. — Se parasse de chegar tão tarde e quase sempre alcoolizada, tenho certeza de que se lembraria de as fechar antes de dormir. — Deixando um beijo simples em minha bochecha, ela apenas me deu as costas após o seu dizer. Não me ajudaria com isso, estava claro. — Tenha um bom dia na faculdade, e por favor, não me apronte nada. Segurando com força aquelas chaves, respirei fundo e assenti para mim mesma antes de finalmente passar pela porta que me levava até a garagem. Da forma que mamãe falava, fazia parecer que não sou uma boa filha, que trago mais problemas do que motivos para se orgulhar. Mas não era assim, ao menos papai conseguia enxergar que não. Certos pensamentos não precisavam me encher a mente, bastava tudo o que teria ouvir dos professores conhecidos por trazerem o tédio para quase todas as suas aulas. Certos tópicos não deviam existir, ou claramente eu devia ter optado por um curso mais leve do que a advocacia. Não que estivesse indo m*l, apenas não gostava de toda a pressão por ser a filha do meu pai. O que também não era algo r**m, pois ele conseguia me proporcionar inúmeros feitos inesquecíveis mesmo não estando tão presente nos últimos tempos, quando seu escritório passou a ter ainda mais visão pelo estado. Ele era o melhor no que fazia, e estava novamente sendo reconhecido por isso. Na universidade, deixei meu carro em uma das poucas vagas ainda disponíveis no estacionamento, tomei posse da mochila que já era posta sobre o ombro e voltei a buscar ar para os meus pulmões quando observei olhares demais sobre mim. Apesar de ser comum, depois de tanto tempo passando pela mesma coisa, era de se esperar que em algum momento o cansaço fosse bater a minha porta. — Letícia Amorim, você é como luz para os meus olhos, garota. Esse é o Carlos. Mesmo sendo um completo i****a na grande maioria das vezes, ele até que é um cara legal. Estudante da turma do último ano de educação física, Carlos também é o capitão da equipe de futebol da faculdade. O primo dele, Diego, lidera os rapazes do futsal. Dois fanáticos por músculos e esportes, mas com certeza não era apenas isso. Então, seguindo com o meu caminho em busca de Lucas, apenas o ignorei. Era cedo, para aqueles realmente interessados a primeira aula do dia ainda estava acontecendo. Não precisava pensar muito para descobrir onde meu primo poderia estar, e pela primeira vez na semana não quis simplesmente o tirar da sala. Sendo assim, de braços cruzados e com o pé apoiado na parede atrás de mim, esperei o passar daqueles demorados dez minutos. Então bateu o horário da troca de sala. — Não ia ficar em casa até a terceira aula de hoje? — Sendo um dos últimos a ajeitar suas coisas na bolsa que usava, perguntou quando já caminhávamos pelos corredores daquele segundo andar. Certamente estava seguindo para a próxima aula, mas rapidamente cuidei de redirecionar os seus passos para as escadas que nos levariam ao primeiro andar. — Se não tivesse avaliação depois do intervalo, eu certamente não viria nem mesmo para te dar uma carona. — A sinceridade era um ponto forte meu, e às vezes me causava sérios problemas em determinados assuntos. Porém, no fim das contas tudo terminava dando certo pra mim. As boas notícias pareciam gostar de mim, e mesmo que não parecesse, eu me sentia grata por isso. — Não canso de me perguntar como é que alguém com esse seu ânimo consegue estar dentre os melhores da turma. — Ele sorriu se jogando sobre uma das cadeiras ao canto do salão principal — Claramente a faculdade não foi feita pra você, Leth. E sem que fique brava, com certeza a advocacia não lhe garante o futuro que deseja alcançar. Devia pensar mais em você e, menos no tio Leones. — E quando foi que eu não pensei em mim, palhaço? — O que ele estava pensando falando comigo assim? — Não me refiro ao fato de ter tudo o que quer, mas sim de buscar aquilo que precisa. — Seu sorriso não existia mais, e eu ainda não havia entendido nada. Até que... — Não vai poder contar com seu pai pra sempre, Leth. E sabemos que sua mãe, assim como a minha, não é a favor do modo como o tio Leo facilita as coisas pra você. — Sou filha única, devia ser normal ele me tratar assim. — Não possuía muitos argumentos, acreditava que esse deveria ser o suficiente. Mas a verdade é que não era. Que merda estava acontecendo? — Eu também sou filho único. — Ele afirmou em um riso irônico. — Alguma vez já me viu tirando uma com os meus colegas porque recebi ingressos para assistir de camarote o meu cantor americano favorito, ou porque ganhei um carro novo? — Falando desse jeito, você me coloca como vilã da minha própria história, onde meu pai é apenas o lacaio que faz tudo o que eu mando. — Tecnicamente, é exatamente isso aí. — Ouvindo seu celular aptar novas notificações, garantiu voltando seu olhar pra mim quando terminou de responder suas mensagens. — O tio Leones te ama, mas a tia Cecília também. Eles só possuem um modo muito distinto um do outro de demonstrar isso. — As vezes eu penso que a tia Marcela é irmã da minha mãe, não do meu pai. — O comentário era simples, um desabafo em voz alta depois de ouvir o que ouvi. Lucas apenas riu ao negar com um gesto de cabeça. — Eu odeio você, e isso aumenta a cada dia mais. — Dizem que a verdade dói mesmo. — Filho da mãe, vai se ferrar. — Seu sorriso me tirava do sério. — Não é em mim que o Diego 'tá de olho. — Apesar de alguns momentos de loucura, sabe que o meu interesse só gritaria se fosse a ex dele.
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