02

1929 Words
0 espaçoso corredor de mármore branco que conduzia ao escritório estava apinhado de cartazes de todos os filmes produzidos por Brand Lowe. Sempre que passava por ali, Cassie parava para admirá-los; aquele dia, no entanto, estava muito preocupada para desviar a atenção. Noreen lhe sugerira uma armadura. Sabia que a simpática senhora tentara ser engraçada. Porém, havia um claro alerta em suas palavras. Teria cometido algum deslize? Simplesmente não conseguia imaginar o quê, de tão grave, poderia ter feito para enfurecer o patrão. Trabalhava muito e achava que se saía bem. Julgava ter a competência profissional necessária para desempenhar sua função na produtora, e parecia-lhe que Lowe era da mesma opinião. Além disso, ele a havia promovido para sua assistente pessoal, e só tomaria essa decisão se Cassie estivesse à altura do cargo. Em várias ocasiões, Lee comentara que ela e Brand se comunicavam por telepatia. Cassie parecia adivinhar os desejos e necessidades do chefe, e ele, por sua vez, às vezes sabia exatamente o que ela pensava. No entanto, mantinham um relacionamento tempestuoso. Temperamental, Cassie costumava falar tudo o que pensava. Depois, quando se arrependia, pedia desculpas pela impulsividade. Mesmo assim, nunca achara que o chefe se aborrecesse com esse traço de sua personalidade. Por outro lado, passar o dia todo ao lado de Brand Lowe também não era tarefa das mais fáceis. Ela tentava a todo custo ser educada e sensata, mas em certas ocasiões perdia a cabeça. A porta do escritório de Brand estava fechada. Cassie bateu levemente. — Pois não? Abrindo a porta devagar, Cassie anunciou-se antes de entrar. — Sou eu. Noreen me disse que... — Entre — ele a interrompeu sem ao menos levantar os olhos do papel em que escrevia rápida e compulsivamente. Cassie olhou para a mão forte que agarrava a caneta de ouro com determinação. Nesse momento, ele dava uma mostra clara de seu jeito de ser: firme, determinado, chegando a ser obsessivo quando queria alguma coisa. Parada à porta, ela se sentia cada instante mais constrangida. — Feche a porta! — ele ordenou. — E sente-se. Depois de uma breve hesitação, Cassie resignou-se a obedecer. Sentou-se em uma das cadeiras de couro e esperou até que ele falasse. Por mais de uma vez ela abriu a boca para falar, mas desistiu. Naquela hora, pressentia, o silêncio era seu maior aliado. Enquanto ele continuava concentrado no que escrevia, ela teve tempo de observá-lo melhor e tentar prever qual o problema que o atormentava. O silêncio estendeu-se novamente, começando a deixá-la nervosa. Finalmente Brand colocou papel e caneta de lado e olhou-a fixamente, como a estudá-la. Aos trinta e três anos, Brand fazia jus à admiração que despertava nas mulheres. Alto, elegante, possuía um rosto de traços marcantes, onde se destacavam os expressivos olhos azuis e as sobrancelhas grossas, que lhe emprestavam um ar intelectual. Naquele momento, sua expressão era indecifrável. Por um instante, a fez recordar-se do modo como a olhara quando Lee fizera o indiscreto comentário sobre suas pernas. Nunca havia compreendido o motivo de ele ter ser aborrecido tanto com isso. — Noreen me avisou que desejava me ver — ela ousou falar. Brand abriu a pequena gaveta da mesa e retirou um jornal. Então o jogou em cima da enorme escrivaninha. — Poderia me explicar isso? — E apontou para uma foto no jornal. Cassie viu-se retratada junto de Chet Walker, um dos mais famosos astros de Hollywood. Estavam abraçados, os lábios quase se roçando, e a troca de olhares sugerindo i********e. Cassie ficou um longo tempo contemplando a imagem. Sentia raiva e constrangimento a um só tempo. — O que tem a dizer? — O que espera que eu diga? Sei que não sou fotogênica, mas até que não saí tão mal... — Cassie... — ele a interrompeu. Não era exatamente esse comentário que esperava ouvir. — Não me diga que está preocupado com esta foto? — E você, não está? — Brand inquiriu, olhando-a com desprezo. — É claro que não! Pelo amor de Deus, Brand! — Cassie gesticulava muito, traindo seu nervosismo. Na verdade, não sabia o que pensar, estava confusa. — Sabe muito bem como são os jornalistas. Se não têm uma história interessante para contar, eles simplesmente inventam alguma. — Está querendo me dizer que esta foto é uma farsa? Cassie desejava muito que fosse, mas não podia mentir. — Bem, não exatamente — respondeu relutante. — Não exatamente? — ele repetiu. — Digo que não é o que parece — insistiu, percebendo as faces corarem violentamente. — m*l conheço Chet Walker. — Pois ele parece conhecê-la muito bem — Brand comentou, com cinismo. Irritada com o comentário m*****o, ela pegou a folha de jornal e picou-a em mil pedaços, jogando-a no ar como confete. Já lhe bastavam os interrogatórios diários de seu tio sobre sua vida particular. Aturava-os a contragosto. Mas considerava uma afronta Brand intrometer-se em sua vida dessa maneira. Por que esse sujeito prepotente julgava-se no direito de saber com quem ela saía? Na verdade, quase não tinha amigos, mas, fosse como fosse, o que fazia fora do ambiente de trabalho não era da conta de Brand Lowe! Cassie nunca fizera qualquer comentário ou insinuação sobre as  inúmeras mulheres que praticamente se atiravam nos braços dele, ali mesmo. Depois de respirar fundo, olhou para a mesa lotada de papel picado. Brand devia estar furioso, ainda que sua expressão refletisse apenas perplexidade. — Cassie... — ele falou, não acreditando no que ocorrera segundos antes. — Chet Walker é um dos clientes de meu tio. Nós nos encontramos algumas vezes — contou. — Então ele decidiu demonstrar como funciona uma respiração boca a boca? — ironizou. — Ele é uma pessoa muito carente — Cassie falou, incerta. Não se sentia no dever de dar explicações. — Conhece muito bem a reputação desse playboy. — Oh, sim! — retrucou. — É quase tão r**m quanto a sua! Uma emoção mais intensa que a fúria estava refletida nos belos olhos azuis. — Mais uma boa razão para se afastar dele, não acha? — perguntou. Cassie quase se arrependeu do que havia dito. Fora indelicado de sua parte comentar a má reputação do chefe. Porém Brand não fazia questão de esconder seu estilo de vida. Levava uma vida agitada e tinha várias mulheres a seus pés. Mesmo assim, Cassie não se achava no direito de julgá-lo. — Me desculpe, Brand. Eu não deveria ter dito... — Sempre age assim quando alguém se preocupa com você? — perguntou, abruptamente. — Preocupado comigo? — perguntou, surpresa. — Sim. Você está agindo de uma maneira muito... — Brand hesitou, tentando encontrar a palavra adequada — leviana. Não quero nem imaginar a reação de seu tio quando ele vir isso. Cassie encarou o chefe, não acreditando no que ouvia. — Deve estar brincando... Devido à fama dos pais, Cassie conhecera muitos astros de Hollywood. Admitia que às vezes saísse com alguns deles, mas chamá-la de leviana era demais. Cassie quase não bebia, não consumia drogas e freqüentemente era acusada de atos nos quais não tinha qualquer envolvimento. Era até cômico ser chamada de leviana quando ela ainda era virgem! Talvez o tio tivesse culpa por essa sua falta de experiência com os homens. Tratava-a de maneira superprotetora, o que só servia para aumentar-lhe a insegurança. Enquanto muitas garotas não sofriam nenhum tipo de repressão s****l e julgavam o s**o casual com naturalidade, Cassie não conseguia admitir esse comportamento. Era uma garota sonhadora, que esperava algum dia conhecer um homem bom, com quem poderia dividir seu amor e sua vida, e não apenas a cama. — Não, não estou brincando — Brand assegurou. — Seu tio pode ver essa foto. E, se você ainda não notou, tem saído a toda hora nos jornais, desde que veio trabalhar como minha assistente. — Claro que notei. Agora me diga: como sabe sobre a preocupação de meu tio? — Porque nós conversamos sobre isso. — Falaram a meu respeito sem eu estar presente? — perguntou ofendida. — Sim — ele admitiu, sem demonstrar a menor culpa. — Pelo amor de Deus! Não sou mais uma criança. — Já percebi! — Brand comentou com malícia. — Mas Jordan ainda pensa que você necessita de cuidados. — E o que você acha? — Em certos momentos, acho que seu tio está absolutamente certo. A insegurança de Cassie aflorou com toda intensidade. Será que o tio tinha razão e ela era mesmo tão infantil a ponto de precisar ser monitorada dia e noite? À essa preocupação somou-se outra. Teria o tio, de alguma forma, interferido na decisão de Brand em contratá-la? Uma dor apertou-lhe o peito e ela engoliu em seco. — Cassie? — ele a chamou, vendo-a empalidecer. — Você... Você me promoveu por ser amigo de meu tio? — questionou ansiosa. A idéia aterrorizou-a. Havia ficado feliz, sentindo-se capaz de assumir um cargo de responsabilidade, sentindo-se reconhecida. Se descobrisse que tudo não havia passado de uma armação entre amigos, se seu tio tivesse usado sua influência para beneficiá-la... Deus, não suportaria a decepção! — Não! — Brand balançou a cabeça. — Tem certeza? — Evidente que não! Cassie, você me conhece muito bem para saber que não sou o tipo de homem acostumado a troca de favores. — Será que o conheço mesmo? Jamais pude supor que ficasse discutindo minha vida particular pelas minhas costas. Meu tio poderia ter lhe pedido um empurrãozinho para a pobre sobrinha e, talvez, não querendo ser indelicado... — Não fiz isso! Dei-lhe o emprego por ser a melhor candidata. Não levei em consideração o fato de ser sobrinha de Jordan Addams. Cassie ficou pensativa. Gostaria muito de acreditar no que ouvia e, por alguma razão, não tinha certeza de que aquela fosse toda a verdade. — Ser sobrinha de Jordan Addams não a faz melhor do que os outros — ele continuou. — Não faz mesmo? — E claro que não! Agora sente-se melhor? — Acho que sim — admitiu com um sorriso. Embora estivesse convencida de que conseguira o emprego por seu próprio mérito, Cassie ainda se ressentia do fato de Brand e o tio discutirem sua vida. — O que aconteceu agora? — ele perguntou, percebendo que Cassie continuava chateada. — Ainda não me conformo com a idéia de você e meu tio falando pelas minhas costas — confessou. -— Não me importa o que pensem, sei que sou perfeitamente capaz de me cuidar sozinha. Brand deu um último olhar para o jornal picado a sua volta, no entanto não disse uma palavra. — Tome cuidado — ela advertiu. — Conhece muito bem o meu gênio. Da próxima vez... — Vamos parar com isso! — ele declarou, abruptamente. — Tenho muito a fazer e, pelo que sei, não pago seu salário para que fique conversando o tempo todo. — Mas... Ignorando seu protesto, Brand levantou-se e olhou-a com ar de superioridade. — Hora de trabalhar! Cassie levantou-se também. Se quisesse manter o emprego, seria melhor obedecê-lo. — Estou às ordens. — Muito bem. Brand sentou-se novamente e começou a escrever uma lista de tarefas para Cassie executar nesse dia. Ao terminar, levantou-se e, com olhar triunfante, entregou-lhe a lista. — Só isso? — ela brincou. — Por enquanto. — Ele fez uma pausa. Então, apontando para o jornal, perguntou: — Quer que eu arranje outro exemplar para você guardar de recordação? — Não. Muito obrigada. Ela pegou a bolsa e já ia saindo quando Lowe a chamou. — Cassie, fique por perto, sim? Se eu precisar mandarei chamá-la. — Oh, tenho certeza que sim...  
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