O contrato

660 Words
1787. África. Litoral da Baía de Benin. Na costa conhecida como “Costa dos Escravos”, um dos centros mais brutais do comércio de seres humanos, portugueses e até mesmo africanos negociavam seus próprios conterrâneos. Mas entre todos os mercadores que ali atuavam, um nome se destacava: Senhor Félix — um afrodescendente de pele clara e olhos verdes hipnotizantes. Filho de um comerciante português e de uma bela mulher n***a brasileira, nasceu no interior de São Paulo, na lendária fazenda de sua família. A história dessa família é envolta em fortuna, poder… e segredos sombrios jamais desvendados. Em 1792, Félix retornou ao Brasil trazendo consigo cerca de cinco milhões de africanos em seu navio negreiro. Entre eles, duas pessoas eram especiais: uma linda mulher chamada Nala, sua segunda esposa, e Akin, seu filho primogênito. Sua primeira esposa, portuguesa gentil e infértil, vivia na fazenda. Ao ver Félix retornar com Nala e o filho, adoeceu de tristeza e faleceu meses depois. Sete dias após sua morte, Félix se casou com Nala em uma cerimônia luxuosa que reuniu toda a elite paulista. No dia seguinte, Nala fez um anúncio que mudaria a história daquela fazenda: “Vocês nunca mais serão escravos. A partir de hoje, são minha família.” Assim nasceu a Fazenda Santa Gertrudes, batizada em homenagem à santa devota de Nala. Os anos que se seguiram foram de colheitas prósperas e dias de paz. Mas Félix era ambicioso. Em 1803, aos 31 anos, deixou o Brasil com Nala e Akin para retornar definitivamente à África. Deixou a fazenda nas mãos de seu irmão Souza. Na África, Nala engravidou de trigêmeos — Daren, Ben e Amir — e, no ano seguinte, teve mais três meninas: Shena, Nia e Nubia. Félix, enfim, tinha o império familiar com que sempre sonhou. Em 1806, o comércio de escravos prosperava como nunca. Akin, aos 15 anos, passou a comandar parte dos negócios, mas com um coração bom, tratava os escravos com respeito — influência direta de sua mãe. Félix, apesar de não aprovar, permanecia em silêncio. Ainda naquele ano, Félix decidiu expandir seus negócios e passou a contrabandear mercadorias europeias, desafiando a Coroa Portuguesa. Foi traído por seu parceiro de negócios, que o denunciou ao rei de Daomé. Fugindo com sua família, foi capturado. O rei Damasco, c***l e supersticioso, mandou mergulhar Félix em tonéis de índigo para “retirar sua cor branca”, considerada uma maldição. Na prisão, Félix conheceu Danuzam, o comerciante mais influente do reino. Juntos, traçaram um plano terrível. Danuzam o levou a um bruxo conhecido apenas por um nome sombrio: Dalházicruen. Na madrugada de 7 de setembro de 1806, em uma encruzilhada, ambos selaram um pacto de sangue. O preço? Um sacrifício humano. Em troca, receberiam riqueza, poder e domínio absoluto. Dois dias depois, o rei Damasco os recompensou: Danuzam se tornou conselheiro real, e Félix foi nomeado vice-rei dos brancos, com controle total do comércio exterior. Félix se tornou o homem mais rico de seu tempo, respeitado e temido. Mas em 1811, na noite de seu 39º aniversário, teve um pesadelo. O pacto esquecido voltou como uma sombra. Algo o forçava a encarar a verdade. Leu finalmente o contrato. E lá estava: "Em sete anos, voltarei para cobrar. Levo não só sua alma, mas aquilo que mais ama. Sua família se tornará uma nova raça, os Alimifa, servos da noite, destinados a abrir o caminho para o Filho das Trevas. Seu primogênito será conde. Sua esposa, a Mãe de Todos. Seus filhos, amaldiçoados pela eternidade." Desesperado, Félix buscou Danuzam, mas descobriu que ele havia desaparecido misteriosamente. Antes de sair da propriedade, uma jovem de beleza celestial o abordou: cabelos cacheados, olhos azuis, um olhar de compaixão. “Ainda há tempo. Deus perdoa até os que acham que não merecem. Eu sou Uriel, enviada para ajudá-lo...” Félix estava diante da escolha mais importante de sua vida: salvar sua alma — ou perder tudo o que mais amava.
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