MELANIE NARRANDO
Nem roupa para ir para esse programa eu tinha, peguei emprestada de uma das minhas amigas loucas que me inscreveu. Já que ela me colocou nessa furada, vai ter que me ajudar emprestando os looks. Eu me arrumei o máximo possível, pra tentar parecer bastante interessada na situação... E no Brian. Encaracolei meus cabelos loiros, os deixando bem cheios de volume e fiz uma maquiagem leve. Coloquei uma camisa social branca, uma saia bem colada que deixava meu bumbum bem definido e me olhei no espelho. Eu sempre fui bonita, sei disso, e está na hora de usar isso ao meu favor.
Saí de casa e peguei um táxi. Entreguei o endereço para o motorista anotado em um papel e ele logo colocou no GPS. Agora, minha aventura realmente teve início... Eu realmente estou indo para a televisão? Nem acredito nisso...
Quando cheguei no estúdio, estava nervosa, e fui recebida por uma produtora. Ela parecia animada ao me ver. Veio caminhando, batendo os saltos no chão. Ela tinha o caminhar firme e o olhar bastante metido, eu diria.
— Meu Deus, você é a Melanie, não é? Você já tem o favoritismo do público. Se esforce para ganhar o bonitão, porque a audiência vai ir à loucura! — Eu sorri de forma sincera. Estiquei a mão e ela me cumprimentou rapidamente, me puxando e dando um beijo em meu rosto.
— Pode deixar. — Falei.
— Você trouxe suas malas? — Eu olhei para a cara dela, confusa.
— Que malas? Eu pensei que hoje seria apenas a entrevista, não organizei nada... Eu... — Fui interrompida.
— Você já vai ficar para o programa, não tem motivo para apenas entrevistarmos você. O público te quer, querida. — Arregalei os olhos.
— Oi? — Falei, assustada.
O público me quer? Sério, isso?
— Ah, tudo bem, querida, vamos assinar os contratos e então eu peço para fazerem malas com roupas do estúdio pra você. Vou ter que tirar suas medidas... E não conte para as outras meninas que seus looks são emprestados, viu? Não fizemos isso para as outras meninas.
Eu fiquei bastante chocada. Por que estão fazendo essa preferência comigo? Então, na TV é assim?
— Gente, ninguém me avisou que eu ficaria hoje! — Ela me olhou, séria.
— Amor, isso é televisão, o que dá audiência, recebe preferência! Você está no topo depois da surra que deu naquela cretina no café. Queremos você aqui! — Ela apontou para alguns assistentes, que traziam roupas e colocavam na frente do meu corpo. Eu olhava tudo com muita atenção, meio paralisada. — Você fica. — Ela finalizou.
Eu resmunguei mentalmente e acompanhei a moça que nem ao menos me disse o próprio nome.
— Como é seu nome, hein? Você vai cuidar de mim aqui? Ou... Como vai ser? Eu sou nova nisso, é a primeira vez que...
— Evangeline. — Ela disse. — Não se preocupa, você vai conseguir se acostumar rápido.
— Certo... — Eu apenas concordei, afinal, não tinha muito o que fazer.
Eu passei o dia indo para lá e para cá com Evangeline. Me mediram, enfiaram roupas em mim, me pesaram, me fizeram assinar papéis e por fim, me levaram para um salão onde clarearam ainda mais as pontas do meu cabelo, me deixando mais loira. Enquanto eu estava com alguns bobs para enrolar o cabelo na cabeça, vi o i****a do Brian passar, e então, eu dei uma fugidinha para encontrar ele. Eu estava assustada com tudo aquilo e, consequentemente, com raiva dele. Ele quem me meteu nisso... Tudo bem, eu aceitei, mas fui altamente influenciada por ele.
— Brian. Brian! — Ele parecia nem me ouvir.
Corri até ele, e o puxei para a primeira salinha que vi, pelo braço. Algumas vassouras caíram em cima dele, porque ele bateu as costas no armário. Eu ri, ele mereceu as vassouradas.
— p***a. — Ele resmungou. — Ei, eu tecnicamente não posso falar com minhas pretendentes antes do show. — Ele sussurrou.
— Eu preciso da sua ajuda. — Falei.
— Certo... Senhorita Melanie com bobs na cabeça. Você tá parecendo a dona Florinda. — Ele apertou os bobs e eu prendi a risada. Estou com raiva, não posso rir no momento.
— Para de ser retardado. Escuta, eu preciso que você pague alguém pra cuidar do meu pai. Eu devolvo o dinheiro depois, só... Resolve isso, tá? Eu não sabia que iria ficar aqui, eles me obrigaram a ficar já! Não trouxe nem roupas! — Sussurrei, levemente desesperada.
— Depois eu que sou retardado... — Ele brincou. — Era óbvio que você ficaria, o programa começa em breve. Eles estão sem tempo.
Dei um tapinha no ombro dele. Ele fingiu que doeu, massageando a lateral do braço.
— Shhh. Eu preciso ir. Por favor, resolve isso, tá? E me avisa, por favor.
— Como vou te avisar que consegui resolver? — Questionou.
— Sei lá... Coloca minha franja atrás da minha orelha no programa. — Pedi. Foi a primeira coisa que pensei.
Ele colocou um fio solto do meu cabelo atrás da minha orelha, vagarosamente, me olhando. ]
Por algum motivo, meu coração acelerou. Acho que é por causa de tudo que está acontecendo, não sei.
— Assim?
— Isso. — Respondi.
— Feito. — Ele disse.
Eu encarei os olhos azuis dele e depois voltei a realidade.
— Preciso ir. — Falei e sai andando.
Quando voltei para o salão, o cabeleireiro me chamou e tirou os negócios da minha cabeça, depois, a maquiadora veio. E aí... Trouxeram um vestido para mim.
— Você é realmente a favorita, baby. — Um assistente disse, levantando o vestido, enquanto eu era maquiada por um outro rapaz. — É o vestido mais lindo da edição, e em você, vai ficar um luxo.
— Tá brincando? — Questionei.
— É sério, Mel! Só te digo uma coisa: Cuidado com a Brittany, ela é uma v***a. Ela pediu para eu trocar a sombra dela três vezes, acredita? Eu refiz o mesmo trabalho três vezes, Cesar. — Ele disse ao cabeleireiro.
— Não creio, Tommy. Ridícula. Já vou torcer pra ser eliminada na primeira rodada. — Isso me fez arregalar os olhos.
— Rodada? Como assim?
— Amor, você nunca assistiu o "Escolhida Pelo CEO"? — Cesar perguntou, indignado.
— Não. Eu trabalhava em uma cafeteria, me sobrava pouquíssimo tempo até pra descansar. — Falei, meio indignada. Os dois se entreolharam e riram.
— Você vai ser engolida naquela casa... Que droga, Mel. Elas já sabem como jogar... Você vai ter que aprender a jogar também.
— E como é que joga? — Questionei.
— Seja a melhor. Seduza o Brian, e na hora da primeira dança, olhe bem nos olhos dele... Na boca... — Cesar suspirou. — Amiga, se eu estivesse no seu lugar, tascaria um beijo na boca dele. O Brian é um gato...
— Ah, pode deixar comigo. — Falei, fingindo interesse.
Eu? Beijar o Brian? Não mesmo! Se bem que ele é bem bonito...
Eles colocaram o vestido em mim, e ele parecia literalmente ter sido feito para o meu corpo. Serviu como uma luva. O vestido era de seda, azul marinho, com decote coração e bem acinturado. Ele continuava colado até a metade da coxa, quando começava um evasê amplo. Depois que vesti e estava pronta, me olhei no espelho e nem me reconheci.
— É por isso que todo mundo é bonito na TV. Vocês dois fazem um excelente trabalho. — Falei e sorri.
— Amor, você não tem nenhuma jóia aqui? Nada?
— Não...
— Tá, eu vou te dar os meus brincos. — Cesar disse.
Cesar tirou os brincos da orelha, eram duas enormes pedras que pareciam cristal, e brilhavam muito. Ele as limpou com álcool e me entregou, e eu coloquei.
— O pescoço dela está muito pelado, vou buscar algo no camarim da Érica. — Tommy disse.
— Quem é Érica? — Questionei.
— Uma apresentadora. Ela é fofa com a gente, não liga de emprestar as coisas. Cuide bem dos meus brincos e do colar dela, tá?
Tommy trouxe uma gargantilha tão brilhante quanto os brincos de Cesar e colocou em mim.
— Agora está perfeita. Ganhe o bonitão da Brittany, e se puder, mate ela. — Tommy disse e os dois caíram na risada.
Sete da noite do dia seguinte. Fui levada para um estúdio onde várias mulheres lindas estavam. Então, essas são minhas concorrentes? Eu prendi minha respiração. Estava nervosa apenas por ficar na TV, é claro, porque eu já sabia que seria escolhida essa noite pelo Brian, já que havíamos combinado.
Uma a uma foram chamadas, eu as via pela TV dos fundos. Elas se apresentavam, dançavam com Brian e depois, ele dava ou não uma rosa vermelha para elas. Era para sobrar dez meninas, e estávamos em quinze. Eu tremia na base, claro, porque pra ajudar um pouco, eu não sei dançar.
— Ensaiei muito para esse momento. — Uma delas dizia a outra.
— Eu também! Vou ser escolhida, tenho certeza.
— Querida, se eu tiver que lutar com uma vaga com você, eu luto sem dó. — Outra disse.
Meu pai amado, eu estou no meio de um ninho de cobras desesperadas por um macho.
— Agora, é a vez da candidata Melanie. — Eles disseram. Eu arregalei os olhos, respirei fundo, me acalmei e entrei.
Tinha que me apresentar. Tinha que me mostrar na TV para o mundo... Tudo bem, o mundo me viu agredir a Kate, fazer alguma bobagem no ar é irrelevante.
— Oi. Sou Melanie Belford, e eu sou... Quer dizer, era garçonete. Graças a uma surra que dei em uma garota no Krills eu fui demitida. Eu sou a garota do vídeo. — Acenei e a plateia aplaudiu e gritou.
— Melanie! Melanie! Melanie! — O público gritava.
— Candidata, é sua vez de dançar com Brian. — Eu concordei com a cabeça e me aproximei dele.
Foi só naquele momento que eu o olhei. Ele estava de terno preto, gravata borboleta também preta, camisa branca. Ele sorria para mim de forma doce, segurou minha mão e também minha cintura. Nós começamos a dançar valsa, vagarosamente.
— Está linda, Melanie. A noite é sua. — Eu sorri para ele ao ouvir o que disse.
— Obrigada, eu acho. — Respondi.
— Você com certeza vai ser uma das escolhidas. — Ele disse, olhando em meus olhos. Meu coração, de novo, acelerou.
— Eu sei. — Respondi, com uma falsa certeza.
Brian colocou minha franja delicadamente atrás da orelha. Isso me fez respirar aliviada, porque agora eu sabia que meu pai estava bem.
— Tá tudo bem. — Ele disse. Levou o rosto até meu ouvido, e sussurrou. — Precisamos conversar a sós.
Eu confirmei com a cabeça.
O tempo da dança acabou e ele se separou de mim. Pegou uma rosa, e me entregou.
— Te vejo na casa, Melanie. — Disse em voz alta.
Puta que pariu.
No final do programa, todas as escolhidas apareceram com suas rosas nas mãos. Eu sorria também, tinha que fingir estar na brincadeira. Quando acabou, fomos para os bastidores, e aí, uma moça trombou comigo com toda força. Pensei que fosse um acidente, então, me desculpei.
— Desculpa. — Falei.
— Olha por onde anda, garçonetezinha de merda. Você não é digna do Brian. Se liga, eu vou atropelar você. — Ela piscou um dos olhos. — Se fosse eu naquele restaurante, você estaria no hospital, não na TV.
— Brittany? — Questionei. — Já ouvi falar de você. A nojenta que todos detestaram nos bastidores. Vamos ver se o Brian gosta de megeras ou de mulheres de verdade. — Pisquei um dos meus olhos e saí andando.
Eu tô tão ferrada...