01
BRIAN COLLINS NARRANDO
Acordei mais uma vez atrasado. Olhei para o meu quarto e vi minhas roupas e as roupas da minha secretária jogadas por todo canto. Não é a primeira vez que acabo na cama com ela, de qualquer forma, mas é a primeira vez no mês que vamos chegar atrasados por isso. Meu pai, dono da Collins Enterprise, vai me matar e provavelmente me demitir do meu cargo de CEO.
— Acorda, Natasha! — Falei, no susto. Ela acordou assustada com meu berro. — Estamos atrasados!
— Mas que droga, Brian! Eu vou ser demitida dessa vez, escuta o que eu estou te falando.
Natasha pulou da cama, enquanto se arrumava rapidamente. Eu fiz o mesmo.
— Estou com medo de ser demitido também. De acordo com os meus cálculos, bom... Eu já cheguei atrasado vezes demais esse ano. — Falei e ela bufou.
— Eu falei para não enchermos a cara ontem.
— Tanto faz, vamos logo remediar isso.
Alguns diriam que Brian Collins é um canalha. Eu, bem... Como eu sou Brian Collins, posso garantir que esses rumores são totalmente verídicos.
Assim que terminei de falar, saímos correndo do meu apartamento. As roupas eram de ontem, mas o atraso era grande demais para que pudéssemos nos dar ao luxo de escolher uma roupa nova. Era melhor chegar no trabalho de uma vez e no meio do expediente, tomar um banho. Já sei que tipo de bronca vou levar e prevejo até o uso das palavras “imaturo”, e também “irresponsável”.
Natasha correu para seu posto e respirou fundo assim que sentou, tentando acalmar o nervosismo. E eu aproveitei que não tinha ninguém nos corredores e corri para minha sala, mas para minha surpresa...
— Pai? — Abri a porta e dei de cara com meu pai, sentado em minha cadeira. Ele cruzou os braços assim que me viu, e parecia estar com muita raiva.
Acho que se eu tivesse um filho como eu e fosse um cara sério como ele, também estaria com raiva.
Meu pai se chama John Collins e é o dono desse império. Ele construiu essa empresa de administração e investimentos do zero, sem ajuda de ninguém, sem investimentos... E hoje lida com os bens das pessoas mais ricas de Nova Iorque. Tem olhos azuis como os meus e cabelos bem pretos, também como os meus, mas que agora estão com alguns fios brancos devido a idade. Eu acho meu pai um velho de sessenta anos bem charmoso, e as mulheres concordam comigo... Uma pena que ele não ligue pra isso. Diferente de mim, ele é um romântico incorrigível, casado com minha madrasta desde que eu tinha dez anos. Ele a conheceu dois anos depois da morte da minha mãe.
— Atrasado, de novo. — Ele negou com a cabeça e eu fechei a porta. Dei um sorriso amarelo, tentando disfarçar...
— Tive um contratempo.
— Um contratempo que o impediu de trocar a roupa, pelo visto. Eu estou tão cansado da sua imaturidade, garoto... — Meu pai se levantou e girou os olhos. — Você já tem trinta anos. Quando vai crescer? Nunca? Você só sabe beber, t*****r e sujar meu nome por aí. Minha vontade é de deserdar você de uma vez, sabia? Aliás, é isso que eu vou fazer, vou deserdar você e dar toda minha fortuna para caridade.
Eu entendo ele. Mas, da mesma forma que ele é um romântico incorrigível, eu sou um bohêmio incorrigível. Tá pra nascer alguém que me faça mudar de estilo de vida. Se bem que, sem a fortuna do meu pai, essa vida seria simplesmente impossível. É por isso que eu raramente bato de frente com ele e levo tudo numa boa.
— Para com isso. — Falei, em tom de deboche. — Você tem é inveja. Queria viver a mesma vida que eu vivo, mas não tem coragem. Casou cedo demais depois que mamãe morreu.
Eu não devia ter falado isso. Senti a tristeza no olhar dele assim que mencionei minha mãe. Que droga...
— Até parece. Você me traz vergonha, garoto... E eu tive uma ideia de como resolver isso. E você vai ter uma escolha: Ser deserdado ou aceitar minhas condições.
— Estou ouvindo, pai. — Me sentei na cadeira em frente à mesa, a que geralmente os clientes ou empregados sentam. — Pode falar.
— Conheço uma produtora do programa “Escolhida Pelo CEO”. Você vai participar do programa e escolher uma noiva, já está tudo acertado. — Caí na gargalhada.
— Até parece! Eu jamais me sujeitaria a isso! Jamais! — Falei, rindo muito, mas ele parecia sério. — Você tá falando sério comigo? Você vai me colocar pra escolher uma noiva na televisão? Você tá louco, velho?
Naquele momento, meu mundo desabou. Eu conheço esse tipo de programa: Várias garotas interesseiras se inscrevem. Geralmente, são bem gostosas e superficiais, mas talvez algumas até sejam legais. O que eu sei é que eu serei bombardeado de mulheres lindas o tempo todo. Mas isso não me parece muito inteligente, se querem saber... Porque mostrar em rede nacional que eu sou um babaca pode me prejudicar bastante, não sei como as coisas seriam quando eu sair do programa e isso pra mim parece um grande problema.
— Tá na hora de você aprender que seus atos tem consequências. Você vai participar do programa, e pronto. É uma ordem. Agora, se não aceitar... Eu posso simplesmente deserdar você. A escolha é sua. — Neguei com a cabeça.
— Você não pode estar falando sério. — Meu pai sorriu de forma irônica. — Você está?
— Estou. — Disse, se levantando. — Me agradeça por ser tão bom com você. Qualquer outro pai já teria deserdado o filho. Eu estou te dando uma chance, uma última chance, de você colocar juízo nessa sua cabeça, encontrar um relacionamento e se casar. Eu poderia simplesmente escolher uma das filhas de algum sócio meu, e te obrigar a se casar com ela, como um contrato de casamento... Mas eu estou te oferecendo a oportunidade de escolher a pessoa que você quiser.
— Em um programa de TV, na frente de toda Nova Iorque. Como o senhor é bacana. — Eu o interrompi e debochei.
— Tá na hora de você fazer algo de útil pela nossa empresa, Brian. — Meu pai virou a tela do computador em minha direção, e me mostrou talvez uns cem e-mails fechados. — Se você tivesse lido seus e-mails essa semana, já saberia sobre o programa. Mas você não está cumprindo nada do que te torna um CEO. Está sendo a droga de um herdeiro mimado, e eu, sinceramente, estou com muito nojo de você. É uma pena que sua mãe não tenha me dado mais nenhum outro herdeiro.
Ouvir que meu pai tem nojo de mim me chateou, mas fiquei quieto. Deixei que desabafasse. De certa forma, eu sou um desmiolado irresponsável e ele está certo.
— Terminou?
— Não. A partir de semana que vem, você está afastado do seu cargo de CEO e vai pra televisão mostrar pra mim e pro mundo que você mudou, e que é um homem, não um adolescente de trinta anos. Quando voltar dessa experiência, quero que volte com uma noiva e bem diferente do que é agora. São trinta dias de programa, Brian, e é melhor que esses trinta dias sejam úteis. Hoje à tarde você tem uma reunião com duas produtoras, para escolher as candidatas que participarão do programa com você.
— Não acredito que você me inscreveu em um programa de namoro na TV. — Ele riu da minha cara assim que eu constatei o óbvio.
— Propaganda de graça para a minha empresa! Como eu disse, tá na hora de você me dar algum lucro, e não prejuízo! E você ainda vai criar um pouco de juízo nessa cabeça. — Eu passei as duas mãos por meu próprio rosto. É inacreditável, meu Deus.
— Você me meteu em uma furada imensa, pai. — Ele sorriu de forma irônica pela milésima vez, e eu entendi o que havia por trás daquele sorriso.
— Estou descontando a quantidade de vezes que você me meteu em furadas por aparecer bêbado e com um monte de mulheres no jornal. A sua vida de boemia acaba hoje, Brian. Vá tomar um banho, pelo amor de Deus, e se arrumar, porque você irá receber as produtoras hoje à tarde. Coloque uma roupa limpa, por favor, não estou aguentando esse cheiro de bebida alcoólica.
Meu pai saiu da sala e fechou a porta. Eu fiquei tão nervoso que peguei a primeira coisa que vi e arremessei contra a parede: Era um enfeite que ganhei de presente de um cliente. Um elefante de porcelana. Por conta do barulho, Natasha veio correndo e viu a cena tétrica: Eu, sentado na cadeira dos clientes, escondendo o rosto com as duas mãos e o elefante de porcelana espatifado no chão, perto da parede.
— Tá tudo bem? — Ela perguntou.
— Não, não está. O meu pai vai me fazer escolher uma namorada na televisão! — Resmunguei. — Onde já se viu? Cara, isso é ridículo!
— Em qual programa? — Falou, surpresa.
— Um tal de “Escolhida Pelo CEO”. Eu nem sei direito como esse programa funciona, nem assisto televisão, eu só sei que vou ficar numa casa cheia de gostosas... — Ela estava prendendo a risada.
— Isso vai ser hilário e bom, não me parece tão r**m assim, considerando que você é um canalha! Não vou perder um episódio! Bom, você vai escolher dez moças que se inscreveram e aí, você vai ficar trancado com elas dentro de uma casa... Vão ter encontros, dinâmicas, brincadeiras, jantares...
— Eu vou ficar trancado em uma casa com dez gostosas mesmo? — Dei risada ao falar, tentando me divertir com a situação. — Ao menos algo bom.
— É, isso mesmo. E a cada dois ou três dias, você elimina uma, até sobrar só você e a escolhida. E aí vocês ganham uma viagem de “lua de mel”. É bem legal. Eu já assisti muitas temporadas... Cara, você, nesse programa? — Ela ria da minha cara. — Não vai dar certo, você não serve pra namorar.
— Obrigado pela parte que me toca. Meu querido pai exigiu que eu fizesse isso ou vou perder minha herança. Nunca vi o velho falar tão sério na vida. — Ela fez uma careta de medo.
— Eita. Olha, eu acho que no final das contas, você vai se divertir. Talvez seja bom pra você amadurecer um pouco... Eu já conversei sobre isso com você, não conversei?
— É. Talvez esteja na hora mesmo. Bom, eu vou pra casa, vou tomar um banho e me arrumar, porque vou receber a produtora do programa a tarde.
— Certo. Vou cancelar seus compromissos. — Natasha falou e nós nos separamos.
Eu fui pra casa em completo choque. Bom, em menos de uma semana eu estarei na televisão servindo de entretenimento para mulheres, e além disso, vou ter que escolher uma noiva. Não há um ser humano sequer que não tremeria na base ao se encontrar nessa situação.
Depois de tomar um bom banho e vestir um terno, fui até minha cafeteria favorita para comer. Por causa do horário, não havia ninguém, o que é um milagre. Minha atendente favorita estava limpando uma mesa.
— Bom dia, Melanie! — Falei, sorridente.
— Bom dia, senhor Collins. — Respondeu, também sorrindo. — O que vai querer hoje? Café preto para acordar?
— É, um café e um bolinho. — Me sentei em frente ao balcão, e logo ela veio me servir.
— Não parece muito bem hoje, senhor Collins. O que aconteceu? — Questionou.
Melanie é o tipo de mulher que poderia ganhar o mundo pela simpatia. E para ajudar, ainda é linda: Deve ter um metro e sessenta ou um pouco menos, olhos castanhos, pele branca com algumas sardas pelo rosto e cabelo castanho claro. Ela fez um negócio no cabelo, pra ficar mais claro nas pontas... Chamou de “californiana”. Não sei o que é, mas ficou bem bonito. Só que ela não é do tipo de mulher que aceita estar na cama de um homem por apenas uma noite... Então, infelizmente, não tive o privilégio. Se eu queria? Com certeza. Mas não sou canalha o suficiente para fingir que quero um relacionamento com alguém, apenas para ter mais uma figurinha em meu álbum de mulheres gostosas. Posso ser um saco de vacilo, mas esse tipo de coisa eu não faço.
— Sou o novo protagonista de “Escolhida Pelo CEO”, por causa do meu querido pai. Acho que ele cansou de ver as notícias ao meu respeito. — Ela parecia surpresa.
— Meu Deus. Você? — Disse, rindo. — Já tem um monte de mulher na sua cola...
— Quando elas me conhecerem naquele programa, provavelmente vão fugir. Acredite, eu sou um babaca. — Brinquei. Ela riu.
— Cara, eu sinto muito por você. — Disse. Eu tomei um gole do meu café e a olhei nos olhos.
— Me fale, Melanie. Você se inscreveria em um programa de namoro na televisão? — Ela deu risada da minha cara.
— Não. Não mesmo. Eu sou uma atendente de cafeteria, senhor Collins, gosto de ser invisível.
— É meio difícil uma mulher bonita feito você ser invisível, não acha? — Ela negou com a cabeça, prendendo um sorriso.
— Esse boné verde deixa qualquer um invisível, acredite. — Ela suspirou. Viu um cliente cruzando a porta, abriu um sorriso e foi atende-lo.
Um programa de televisão. Era só o que me faltava.