Capítulo 1
Geórgia Reis
Chegava cansada de mais um dia de trabalho intensivo no restaurante do meu pai, não era porque éramos família que o coroa aliviava a minha vida, ele me cobrava ainda mais por ser a sua filha. Sou a subchefe de Joaquim Reis, dono e chefe do restaurante La Alhambra, onde servimos pratos de frutos do mar.
Eram aproximadamente duas da manhã, meu pai me chamou em seu escritório para me falar que eu consegui a minha tão sonhada ida a Paris, berço da alta gastronomia, onde eu sonhava fazer um curso de pâtisserie a muitos anos.
Eu estava muito feliz, nossa, finalmente tinha conseguido a minha tão sonhada vaga em um grande confeiteiro parisienses, meu pai teve que cobrar muitos favores para que eu pudesse entrar na lista de espera, e agora eu tive a oportunidade de fazer esse curso.
Entro na minha casa e já estranho ter roupas jogadas na sala, são roupas femininas, em nada se parecem com as minhas roupas, com toda certeza nunca usaria nada assim em toda a minha vida!
Digamos que sou cheinha e não gosto de mostrar muito meu corpo, gosto de me vestir bem, mas nada que mostre muito meu corpo mais curvilíneo e traga olhares, tenho minha cota de julgamentos para bastante tempo e não quero viver sentada em um divã de psicólogo.
Ouço um barulho de água vindo do meu banheiro, não pode ser isso que eu estou pensando...
Vou andando até meu quarto e abro a porta, eu não preciso entrar para saber que eu vou matar o Cris afogado na primeira pia que eu vejo na minha frente!
Abro a porta e vejo duas mulheres na minha cama, duas mulheres na droga da minha cama, como ele pode fazer isso comigo?
Eu ainda estava com a chave da minha casa na mão, a bolsa com o meu jantar na outra, minha vontade é de jogar a comida que eu trouxe para comer junto com um vinho maravilhoso que eu tinha na minha adega, mas a opção de jogar a comida em cima dessas duas é verdadeiramente muito grande.
Vejo a porta do banheiro abrir e lá estava a minha dor de cabeça ambulante, a minha falta de vergonha na cara de dar limite e tomar a minha chave de suas mãos.
Reluzente como um daqueles modelos que saem da água em propaganda de sunga de praia, Cris cheirava meu shampoo caro, estava com a minha toalha na cintura e gotículas de água caindo pelo seu abdome trincado de horas e mais horas dentro de uma academia.
O desgraçado me olha e ri, aquele sorriso cafajeste que me deixa ainda mais irada com a sua presença em minha casa.
- QUE p***a ESTÁ ACONTECENDO AQUI Christoffer? É SÓ EU SAIR PARA VOCÊ FAZER MERDA? – As duas loiras lindas e magérrimas saem da cama correndo e começam a se vestir na velocidade da luz, elas não me olham na cara e Cris cruza os braços e me analisa como se eu fosse louca.
- Desculpa, me perdoa, ele disse que era solteiro... – Olho para Cris que tem a cara mais sínica desse mundo. Eram duas jovens que caíram na lábia desse i****a.
- Ele é um i****a, pode apostar, então não liguem mais para ele se não eu faça paelha com as duas franguinhas. - Pego uma almofada e começo a bater no i****a que somente ri da minha cara e tenta me segurar a todo custo.
- Seu desgraçado, safado, não consegue manter esse seu p*u dentro da calça? A Cris, você vai ver o que vou fazer com você... -Vou até a minha bolsa e ele me puxa e me agarra em seus braços fortes e bronzeados, o desgraçado é bonito e muito forte.
- Você não vai pegar a faca amor, não pode matar as meninas... – Olhamos para as duas que estão ainda mais brancas na nossa frente, claro que elas nem ficam para ver eu pegar a faca, correm pela minha casa a fora tão rápido que nunca pensei que alguém com um sapato na mão e outro no pé poderia correr tanto.
Quando ouvimos a porta bater e eu fico com o meliante no meu quarto, o desgraçado me dá uma mordida de leve no pescoço e me aperta ainda mais em seus braços.
- Vai me deixar marcada Cris! – Me solto. – Você prometeu não trazer mais mulher para a minha casa. – Bato em seu ombro e o mesmo ri de mim.
Cris vem até mim e me dá um beijo na testa, pega a bolsa de comida que estava em cima de um criado mudo e vai para a minha cozinha comer.
Claro que eu vou atrás dele, ele acha que a minha casa e a sua casa, acha que a minha vida tem que sempre parar para os seus dramas.
- Não queria ficar com elas a noite toda, então viemos para cá, agente nem transou, elas estão muito chapadas, eu sabia que você estava chegando e botaria elas para correr. – Ele diz pegando um vinho rosê.
Inacreditável!
- Esse não... – vou na adega é pego o vinho perfeito para a paelha perfeita. - As melhores opções de harmonização para a paella são vinhos brancos, como o Chardonnay, ou tintos leves, como Pinot Noir ou Merlot. A culinária espanhola é muito rica e não pode ser resumida em apenas uma lista, meu caro... – abro o vinho e ofereço a ele.
- Esqueci que você é chata para comer, mas sempre acerta nas melhores harmonizações. – Ele começa a comer e gemer. – Isso está divino! – Ele faz um sinal de aprovação.
- Me explica porque você não está fodendo a metade da cidade e está na minha casa às três da manhã? - Ele me olha culpado.
- Porque somos melhores amigos, nos protegemos e nos alimentamos, você cuida de mim e eu te dou trabalho, é uma troca muito justa. – Reviro os olhos com a cara de p*u do meu amigo.
- Cris, não pode me usar para se livrar de uma mulher pegajosa... – Ele sorri e me puxa para o seu colo.
Bom, eu e Cris somos melhores amigos desde sempre!
Não é uma relação amorosa onde vocês possam ter imaginado uma traição.
Nunca existiu Cris sem a Geo ou a Geo sem o Cris, então somos tão íntimos, mas tão unidos que tenho que mandá-lo embora da minha casa para ter um pouco de paz às vezes.
- Elas eram gostosas, mas sei lá, na hora de ter algo com elas, eu perdi a vontade, sabe que estou estressado com os meus pais, saí para poder me distrair e tirar a tensão... No caminho para a minha casa, elas estavam se pagando atrás do carro, mais cara, eu não fiquei e******o, sabe? - Não! - Geo, eu amo fazer uma homenagem, mas hoje não estava no clima.
- Então porque você as trouxe para cá? – Perguntou e ele enche a minha boca de paelha.
- Você vai brigar comigo... – Eu já sabia e sinto raiva somente por ter acontecido novamente.
- Perdeu a chave de casa? – ele balança a cabeça em afirmação. – Droga Cris! Essa é a terceira somente nesse mês! – digo irritada me levantando do seu colo e indo até a minha gaveta da cozinha pegar as milhões de cópias de chaves que tenho de Cris.
- Você é a meu anjo... – Ele me puxa novamente para o seu colo. – Tô cansado Geo, nada que eu faço deixa meus pais satisfeitos. – Passo minha mão em seus cabelos recém molhados.
- Você já sabe o que eu acho sobre essa sua cisma em ser o i****a da família. – Como junto com ele tudo que trouxe do restaurante.
- Eu sou o mais novo da família, ter família grande é uma merda! Meus irmãos já são os queridinhos por serem responsáveis e casados... – Ele suspira. – Somente por que tenho o meu jeito único de ver a vida, tenho que ter duas babás me cobrando cada erro que cometo na vida? – Ele me pergunta e até sinto um pouco de pena dele.
- Cris... – me levanto e jogo as coisas que já usamos fora.
Ele lava as taças enquanto eu digo a minha opinião sincera.
- Você sabe que eles acham que você tem que ser casar e ter filhos com os seus outros irmãos. No caso, eu sei que você não quer isso, aliás, todos sabem que você não quer isso, mas é difícil para quem te ama ver que você não pode acabar como um solteirão sozinho no mundo.
Ele me olha e me dá o seu melhor sorriso, aquele sorriso que vi durante toda a minha vida ao seu lado.
- Quem disse que eu vou ficar sozinho? Tenho você, vamos ser amigos para sempre! Nada jamais vai poder nos separar, onde você for, e vou, lembra? – Como eu queria acreditar nisso...
- Olha, eu sempre vou estar aqui por você, mas agora eu vou tomar um banho e ir dormir na minha cama que você vai trocar a lençol. – Penso bem. – Você vai trocar o colchão, se não eu juro que vou trocar as fechaduras e senhas da minha casa. – Deixo-o em pé no meio da cozinha com a minha toalha cor de rosa enrolada na cintura.
Cris é a minha criança que esqueceu de crescer, não vou mentir que já tive um crash por ele, mas infelizmente nunca tive coragem de acabar com a nossa amizade, então mantenho essa “admiração” somente para mim.
Entro em meu banheiro, tomo um banho demorado e relaxante, não tenho mais nem energia para passar hidratante no corpo. Quando voltei para meu quarto, ele já tinha trocado o colchão, sumido com os lençóis e estava deitado com o celular na mão.
- Vai dormir em casa Cris... – Digo indo ao closet, peguei o pijama mais quentinho e quando eu volto, ele está com hidrante nas mãos me esperando.
- Deixa eu fazer uma massagem em suas pernas. – Ele me puxa e me deito sem muita resistência.
- Sabe que eu te amo, não sabe? – Ele me olha com aquela cara de cachorro sem dono.
- Quero ver quando você encontrar o amor da sua vida, se ainda vai continuar me perturbando e se declarando para mim. – Ele sorri e faz massagem nos lugares certos.
- Você é a minha pessoa Geo, acredito que no mundo não há outra mulher que vai conseguir ocupar o seu lugar, sabe que nunca vou amar e você é a minha melhor amiga, sem chance de ter alguém que me complete como você.
Por isso eu mato todos os dias qualquer sentimento que possa brotar dentro de mim, somente sou amiga dele... Nunca serei mais que isso.