Pov Daniela
Bárbara segurava o meu braço enquanto eu estava bestificada olhando para a ousadia aquele gurizinho metido, eu ia acabar com um dos gêmeos de Marcela, como pode ele está beijando minha filhinha bem na minha frente? Esse moleque perdeu a noção do perigo!
Eu olhava para Isadora e não podia deixar de lembrar o momento em que resolvemos adota-la, era uma criança linda e agora está aqui uma mulher feita querendo criar asas e deixar o ninho da sua mãe.
Flash Back On
Era uma noite chuvosa e eu estava em casa esperando Bárbara largar um dos seus plantões da delegacia, eu nunca conseguia dormir enquanto minha esposa não chegasse do trabalho, eu jamais me acostumaria com o risco que ela sempre correria e apesar de saber que ela era uma das melhores policiais era impossível não ficar preocupada.
O celular tocou e estranhei quando o número de um dos parceiros de trabalho de Bárbara aparecia no visor do celular.
– Boa noite, dona Daniela. Estou ligando a pedido da delegada De Veiga, ela solicitou a sua presença no hospital central.
– O que aconteceu com a minha esposa? – Perguntei exaltada já buscando pelas chaves do carro.
– Fique calma senhora, a sua esposa está bem e nada aconteceu com ela, apenas estamos atendendo uma ocorrência, mas ela gostaria da sua presença aqui.
Desliguei o telefone e fui em direção ao hospital onde Bárbara estaria a minha espera, fiquei me perguntando o que diabos Bárbara queria comigo em um hospital onde ela estava atendendo uma ocorrência, será que alguma das meninas estava machucada? Meu Deus, eu odiava quando minha esposa me deixava às escuras.
Ao chegar ao bendito hospital logo fui direcionada para onde Bárbara estava me esperando, ela estava na ala de pediatria e minha surpresa foi chegar ao local e ver Bárbara com uma criança em seu colo, a garotinha aparentemente não tinha mais que três anos de idade e era extremamente linda. Minha esposa estava tão concentrada com a criança que nem percebeu quando parei ao seu lado e fiquei olhando para aquela cena a minha frente, mas os olhos da pequena garota foram ao meu encontro e minha esposa acompanhou seu olhar.
Bárbara me contou que a criança se chamava Isadora, seu pai tinha sido preso por trafego de drogas a alguns dias e sua mãe havia se declarado incapaz de cuidar da pequena criança, pelo o que Bárbara falou a mãe de Isadora além de ser uma adolescente também era viciada em drogas. A pequena Isadora não possuía outra pessoa da família que pudesse ficar com a criança e a jovem mãe deixou Isadora na delegacia e fugiu do local sem que ninguém percebesse, o conselho tutelar foi chamado e agora a pequena estava ali para logo mais seguir com os conselheiros para algum abrigo.
Eu já estava muito sentida pela a história da criança, eu não entendia como e nem porque, mas desde que nossos olhos se cruzaram eu me encantei pela pequena garota e um sentimento dentro de mim fez meu peito bater mais forte. Quando Bárbara me confidenciou que gostaria de entrar com o pedido de adoção eu não pensei duas vezes e logo aceitei a ideia, se eu estava pronta para ser mãe? Nunca pensei nisso antes, mas também nunca me senti tão pronta como naquele momento. O processo de adoção não foi tão fácil como esperávamos, toda a burocracia foi ainda maior quando a justiça soube que se tratava de uma casal lésbico, o desgaste tomava conta de todas nós e toda vez que íamos visitar Isadora no abrigo a hora da despedida era dolorosa e nos deixava arrasada por não poder trazer a criança conosco, mas graças a Deus a adoção foi concedida e em uma tarde de quarta feira trouxemos nossa filha para casa onde senti que nossa família estava completa.
Flash Back off
– Eu vou matar esse garoto, ele não pode beijar minha princesa e achar que está tudo bem. – Falei para minha esposa que claramente tentava conter o sorriso.
– Amor, a Isa não é mais aquela garotinha que você conheceu no hospital, ela hoje é uma mulher.
– Não interessa para mim ela sempre vai ser minha garotinha. – Falei emburrada cruzando os braços a altura do peito.
– Eita Dani, parece que você acaba de ganhar um genro. – Renata provocou quando chegou ao meu lado e fuzilei minha amiga com um único olhar.
– Não estou vendo graça nenhuma, eu não vou deixar esse moleque chegar perto da minha princesa. Será que ele não se olha no espelho? Isadora é areia demais para o caminhãozinho dele.
– Você está querendo dizer que meu filho não é bom o suficiente para sua filha? – Marcela chegou erguendo a sobrancelha
– Ixiiii, agora o circo pega fogo. – Micaela falou para Renata que sorria
– Não me importa que ele seja meu afilhado e muito menos que seja um Bettencourt, alias homem nenhum é bom o suficiente para minha Isa.
– Calma Daniela, nós nem sabemos se isso é um namoro, até onde eu saiba eles nunca tiveram nada. – Hanna falou tentando apaziguar o clima tenso que se formou entre mim e Marcela.
– É, mas pelo o visto o seu querido filhinho anda pensando em ter.
– Chega Daniela, para de se comportar como uma criança birrenta. Uma hora nossa filha vai namorar e você vai ser avó e vai aceitar isso você querendo ou não. – Bárbara falou séria e apesar de ficar calada ainda fiquei com uma tromba de elefante.
– Você também Marcela, aquieta o fogo ai e se conforme que seus filhos não são mais aqueles dois pestinhas que brincavam de cavalinho com você. Bom, o Heitor continua sendo um pestinha, mas já não é criança. – Marcela revirou os olhos e fechou a cara, mas obedeceu a mulher sem argumentar.
– Gente, eu já disse o quanto sou fã da Bárbara e da Hanna? Nunca conheci outra mulher para pôr ordem como vocês duas. – Renata debochou e Gargalhou junto com Micaela.
– Alguém viu a Gabi? – Marcela perguntou passeando o olhar pelo o local.
– Não a vi desde a hora do showzinho do seu pirralho. – Falei e Marcela me mostrou a língua como a grande adulta que era.
A verdade é que não era somente ciúmes da minha filha que eu estava sentindo naquele momento, por dentro eu estava preocupada com a Gabriela, eu não era ingênua e sabia exatamente que ela e Isadora sempre foram apaixonadas uma pela outra e nunca entendi o porquê aquela amizade não ter evoluído para algo mais alem, porém eu nunca cheguei a tocar nesse assunto com Isadora, eu respeitava minha filha e apesar das minhas loucuras eu sabia o momento de levar as coisas a sério, se Isadora resolveu silenciar o que sentia ela deveria ter os motivos dela e eu sabia que um dia se ela achasse que deveria ela me buscaria para conversar a respeito, No entanto, agora a situação era outra e eu sabia que alguém iria sair muito ferido nisso tudo, porém eu jamais iria torcer a favor de Heitor, não que ele fosse um garoto r**m, mas ele era meu afilhado e filho da minha melhor amiga, eu não poderia torcer para ele ter ao seu lado alguém que não o amasse como ele merecia, e Isadora não poderia corresponder ao amor do garoto, só espero que minha filha saiba o que vai fazer da vida dela e não se machuque.
Pov Heitor
Fui criado como um verdadeiro irmão de Isadora, afinal a tia Dani além de ser uma das melhores amigas das mães era também minha madrinha enquanto a tia Rê era madrinha do Mauricio, até ai tudo bem, crescemos todos juntos como uma grande família, apesar da Evellyn e do Harry viverem se engalfinhando entre si, o único problema foi quando adolescência chegou e junto com ela uma paixão pela Isadora despertou dentro de mim, no inicio de tudo eu não cogitava a ideia de ficar com a garota, afinal eu sabia exatamente que a tia Dani planejaria minha morte da forma mais dolorosa possível e eu era muito novo para correr o risco, além disso eu também pensava que isso era uma paixonite que logo passaria, mas o tempo passou conheci e me envolvi com outras garotas e a paixão por Isadora só aumentou, passei admirar a garota não apenas por sua beleza, mas por sua essência. Eu sempre tentei deixar subentendido para Isa o que sentia por ela ou pelo menos que estava interessado nela, porém a mesma nunca parecia de fato compreender o que se passava comigo, na verdade ela sempre foi tão ligada a minha irmã que cheguei até a cogitar a ideia que elas se gostavam, mas claro que não, afinal se isso fosse real o que as impediria de ter algo? Bom, graças a Deus que isso não é uma realidade, eu odiaria disputar mulher com a irmã que eu tanto amava, mas também não sei se estaria disposto a desistir da Isa.
Finalmente tomei coragem para falar sobre meus sentimentos com a Isadora e a melhor forma que encontrei para isso foi escrevendo uma musica para ela e agora aqui estava eu diante da mulher pela qual sou completamente apaixonado tendo a chance de falar olhando em seus olhos sobre esse sentimento.
– Tor, porque nunca me falou sobre isso? – Isadora me perguntou quando caminhávamos pelo o jardim da minha casa nos afastando do barulho.
– No começo eu achava que era coisa de adolescente e que logo passaria, afinal fomos criados como irmãos, mas ai depois de um tempo as coisas foram fugindo do controle e eu até tentava te mostrar de alguma forma o que estava sentindo, mas você parecia nunca perceber.
– Bom, talvez eu nunca tenha percebido dessa forma, mas agora tudo faz sentido, suas tentativas de aproximação, toques e proteção. Antes eu via isso como uma proteção como você tem com a Biela, mas agora sim vejo que existia uma diferença.
– Talvez eu não seja bom com essas coisas, você né? Eu tenho esse jeitão rebelde de ser.
– É de fato eu não conhecia esse seu lado romântico. – Busquei os olhos de Isadora, mas ela andava de cabeça baixa com as mãos para trás – Sabe, a música foi linda e eu agradeço, mas acho que você poderia ter conversado comigo a sós. Tipo, geral agora está sabendo e nós sequer temos noção de onde isso vai dar e tem nossas mães também... Isso é tão confuso!
– Como assim Isa? Você não está pensando que só quero curtição com você, está? – A fiz parar e me olhar e ela parecia está confusa.
– O que quer dizer com isso, Heitor?
– Isadora, eu não fiz essa música para você só parar chamar atenção e curtir o momento. Eu sou completamente apaixonado por você e quero que me dê uma chance para te fazer feliz, quero você como minha namorada.
Os olhos de Isadora arregalaram e sua boca abriu em um perfeito “O”, a garota parecia surpresa com minhas palavras, mas também ficou nervosa e eu podia jurar que encontrei timidez em seus olhos.
– Você não gosta de mim da mesma forma não é mesmo? – Uma frustração atingiu meu peito me causando uma dor jamais sentida antes.
– Ei, não é isso... Bom, não posso mentir para você e dizer que sempre pensei em você dessa forma, para falar a verdade nunca havia cogitado essa ideia, mas não é isso, Tor. Eu só não consegui assimilar tudo isso ainda, você me pegou de surpresa, entende?
– Sim! – Falei tristemente, mas ousei em segurar sua mão e olhar em seus olhos. – Mas você não poderia me dar uma chance pelo menos de tentar te conquistar? Digo, sabe sairmos qualquer dia desses e sei lá... Eu sei que pode parecer estranho, mas gostaria de tentar me mostrar para você como homem e não como irmão.
Isadora pareceu pensar por um momento enquanto olhava nossas mãos grudadas e quando ela iria responder a minha pergunta Evellyn apareceu ofegante a chamando.
– Isa, vem comigo! A Gabi está completamente insana e afogada em litros de bebida
– O que? Desde quando a Gabriela bebe a esse ponto? – Perguntei incrédulo, afinal Gabriela era a prudência em pessoa.
– Isso não importa Heitor – Evellyn revirou os olhos. – Vamos logo, depois vocês namoram! Nem a tinha Marcela está conseguindo controla-la, Isa ela só vai escutar você nesse momento.
– Onde ela está? – Isadora perguntou afobada.
– A última vez que a vi antes se sair correndo a sua procura ela estava em cima de uma mesa querendo fazer um strip tease.
Aquelas palavras de Eve levou o meu queixo ao chão de tão surpreso que eu estava com a atitude da minha irmã, eu esperava que Mauricio tivesse filmado tudo isso, pois eu pretendia mostrar a meus sobrinhos no futuro. Vi Isadora correr na frente em desespero enquanto eu e Evellyn a seguíamos.