Angeline observava Derek enquanto esperava ser liberada para falar com Rafael, ele estava em reunião com outro anjo, mas ela era a próxima, só esperava que ela e Evangeline conseguissem convencê-lo de curar Rory.
— Ânimo, menina, você está tentando fazer algo incrível pela irmã do seu protegido. Caso ele diga não, é porque o tempo dela chegou e o Criador a quer aqui. — aconselhou a anja.
— Eu sei, eu sei disso. — ela afirmou com um suspiro — É difícil lidar com o luto, eles até podem saber e acreditar que foi escolha do Criador… Mas não diminui a dor e, às vezes, situações assim os faz perder a fé.
Evangeline abria a boca para responder à pupila, mas a porta se abria nesse exato momento e elas eram chamadas para entrar. Angeline sentia as mãos suarem e as pernas e asas de repente pareciam gelatinas enquanto o estômago se apertava e contorcia de nervoso.
— Acho que vou vomitar. — ela anunciou.
— Eu peço que espere até o fim da audiência, seria terrível ter a reunião com o cheiro e o visual nojentos enquanto pedimos por uma cura…
Angeline conseguiu dar uma pequena risada e isso a fez entrar na sala respirando fundo algumas vezes.
— Boa tarde, Eve e Angeline. — cumprimentou o anjo sem erguer os olhos do papel que lia.
Angel nunca tinha visto Rafael pessoalmente. Ele tinha cabelos pretos, pele clara e feições suaves. A anja torcia as mãos enquanto repassava mentalmente tudo o que pretendia falar para defender o caso da pequena Rory.
— Aqui diz que vocês querem a cura de uma criança nomeada Aurora. — apesar de estar falando, não era exatamente com as meninas, era mais para si mesmo.
Rafael estalou os dedos e uma pasta surgiu diante dele, era possível ler o nome Aurora LeBlanc. Angeline se erguia na ponta dos pés e estava quase levantando voo quando seu braço foi apertado por sua mentora que a repreendia silenciosamente.
Alguns minutos se passaram e a anja estava muito inquieta, queria desesperadamente abrir a boca e começar a implorar pela cura da menina. Rafael ao terminar de ler os documentos ergueu os olhos e sorriu como quem pede desculpas.
— Estava me inteirando do caso de Aurora LeBlanc. Pois bem, aqui diz que ela já nasceu com esse problema e acabou de passar por mais um transplante, mas o corpo rejeita, estou correto?
— Sim senhor. E se você puder fazer alguma coisa, tenho certeza de que a família e eu ficaríamos muito agradecidos. — a voz de Angeline tinha quase um tom de súplica.
— Pode me chamar de Rafael, Angeline. E verei o que posso fazer pelo caso. — ele garantiu a anja.
Em um instante o anjo tirava um smartphone do bolso e tocava algumas vezes na tela antes de levar ao ouvido.
— Olá Senhor, eu gostaria de saber sobre o caso da menina Aurora, a do coração. Estou com a anja da família aqui e ela veio me colocar a par do caso.
Angeline arregalava os olhos olhando para Evangeline que sorria afetuosamente e fazia um gesto indicando que a menina se acalmasse. A jovem anja voava de um lado pelo outro da sala enquanto Rafael murmurava alguns: “aham, compreendo, sim”. O que em nada ajudava a ansiedade crescente.
Depois do que pareceu ser uma eternidade para Angeline, quando na verdade havia se passado pouco mais de um minuto, o anjo desligou o aparelho e voltou os olhos para a jovem.
— Bem, parece que ela vai receber um milagre hoje, afinal. — ele anunciou contente.
Angeline deu algumas piruetas no ar antes de voar diretamente para abraçar o anjo e o agradecer.
***
Derek estava adormecido ao lado da irmã, ela parecia tão frágil e pequena naquela enorme cama hospitalar. Ele só acordou pois ouviu farfalhar de asas, queria brigar com Angeline por ter sumido por tantas horas quando ele precisava tanto dela!
Seus olhos castanhos se arregalaram ao notar que a anja não estava sozinha, outro ser alado a acompanhava e caminhava para a irmã adoecida.
— Não toque nela! — ele praticamente rosnou a ordem.
Rafael deu uma risada sonora e olhou para Angeline esperando que ela lidasse com o garoto. Derek olhou para ela em busca de ajuda, queria afastar quem quer que fosse da irmã.
— Ele é Rafael, um anjo com poder de cura. O toque dele vai curar Aurora. — ela explicou ao voar para o lado dele.
O menino abraçou a anja e começou a chorar. Também pudera, ele estava morrendo de medo de perder Aurora. Angeline abraçou seu amigo de volta acariciando os sedosos cabelos pretos.
Rafael tocou a pequena menina adormecida e imediatamente a cor pareceu voltar para o corpo da criança, assim como o rubor nas bochechas. Ela abriu os olhos e eram de um verde como esmeraldas, imediatamente ficou boquiaberta ao ver a presença dos anjos. Estava acostumada com Angeline, mas o outro lhe parecia muito maior e era um completo desconhecido.
— Se cuide princesinha. — o anjo falou antes de desaparecer em um piscar de olhos.
— O que aconteceu? — Aurora perguntou.
Angeline riu alegre e se sentou ao lado da menina acariciando seus cabelos ao contar de sua aventura pelo céu em busca de alguém que pudesse curá-la. Contou da conversa por telefone que ficou ouvindo. E todo seu nervosismo durante o processo. Aurora achava tudo aquilo completamente divertido e surreal.
— Você fez tudo isso? — a menina perguntou encantada.
— Bem, eu não podia não fazer nada…
Ela m*l terminou de falar e a família LeBlanc entrou pela porta, falavam em voz baixa não querendo incomodar a filha na cama e o filho adormecido. Ao olharem na direção deles, no entanto, perceberam que Aurora estava bem e Derek acordado. Ambos correram na direção da menina a enchendo de beijos e abraços, estavam tão felizes e aliviados em ver a filha bem, nem mesmo entendiam o que havia acontecido, mas também não se importavam, contando que a menina estivesse bem, era o suficiente para eles.
— Precisamos chamar o médico para avaliar a condição dela. — disse Alice, mãe das crianças.
Derek observava o pai sair do quarto para que pudesse chamar o médico enquanto a mãe continuava na cama conversando com a irmã. Ao olhar ao redor não via Angeline.
— Vou pedir mais raspas de gelo pra Rory. — ele avisou a mãe e pegou o copo ao lado da cama da irmã.
Saiu para o corredor e ali encontrou Angeline caminhando para o berçário. Seguiu ao lado dela em silêncio, a amiga parecia cansada, igual a mãe dele nos dias que se passaram com a irmã doente. Eles pararam diante da grande janela que permitia ver os recém nascidos.
— Obrigado por tudo o que fez pela Rory. — ele agradeceu com sinceridade.
— Eu posso ser sua anja, mas me importo imensamente com sua família também. — ela respondeu com um leve sorriso — Eu estou bem, de verdade, só cansada de toda a viagem.
Derek se aproximou de Angeline e a envolveu em um abraço de gratidão e afeto. Sempre que ele estava cansado, adorava quando a mãe o abraçava, então fazia o mesmo pela anja. E assim como a mãe costumava fazer com ele, Derek deixou um beijo na testa de Angeline. Ele percebeu que as bochechas dela tomavam um tom rosado e estranhou.
— Você está meio rosada. — comentou ao se afastar.
Sua mão direita coçava a parte de trás de sua cabeça enquanto analisava a cena que o deixava confuso.
— Anjos também podem ficar tímidos e com vergonha. — ela retrucou.
— Espero ter você pra sempre em minha vida, Angel.
***
Era a festa de aniversário de onze anos de Aurora e enquanto cantavam parabéns, a família se reunia ao redor dela. Estavam felizes por mais um ano que ela estava ali depois de quase terem perdido a menina anos atrás.
Soprou as velas e fez seu pedido enquanto observava o irmão no canto de tudo. Estava com um celular no ouvido fingindo conversar com alguém no aparelho, mas ela sabia que, na verdade, o irmão conversava com Angeline diante dele que ria sem que ninguém além deles tivessem a real consciência de que estava ali. Seu d****o mais profundo e pedido de aniversário? Ela queria que Angeline e seu irmão pudessem ficar juntos.
***
Boa parte de sua família já tinha ido embora, restava Aurora com algumas amigas, os tios, os avós e seus pais na mesa da cozinha conversando. Ele aproveitou para avisar a mãe que iria subir para o terraço.
Estava sempre por lá, então não era estranho. Segurava a mão de Angeline a puxando pelas escadas junto com ele. Ambos davam risada enquanto ela pedia que ele fosse mais devagar. Ele não desacelerou até que chegassem ao topo. Passou pela porta e a manteve aberta para que a anja passasse antes de colocar o calço de madeira para que a porta não trancasse.
Derek agora estava diferente, tinha completado quinze anos recentemente, estava no primeiro colegial e começou no time de futebol americano. Agora tinha ganhado mais músculos, o corpo estava mais definido e havia perdido as feições infantis. Havia tido um estirão de crescimento durante o verão.
— Eu ainda m*l posso acreditar que faz sete anos que tudo aconteceu. — ele comentou observando o céu noturno.
— Sua irmã está se tornando mais bonita e inteligente a cada dia. Ontem ela me disse que quer se tornar cirurgiã cardíaca.
O tom de Angeline era carregado de orgulho e carinho. Ela viu aquela menina nascer, a amava como se fosse parte da própria família. A anja notou que Derek a observava e ela virou o rosto para ele em busca de entender o que ele tanto a olhava.
— Você também ficou mais linda.
Ele se aproximou de Angeline colocando uma mecha do cabelo dela atrás da orelha enquanto encarava aqueles brilhantes olhos turquesa que ele tanto se acostumou a ver. Notava o rubor que tomava conta das bochechas da anja e sorria, gostava de causar esse efeito na garota.
— Obrigado, Der.
Ele apoiou a mão direita na bochecha de Angeline e fechou os olhos enquanto aproximava seus lábios dos dela. Os lábios se tocaram e ele só conseguia pensar o quão macios eram e que tinham um leve gosto de cereja. O beijo terminou antes que ele estivesse preparado, ele queria mais, precisava de mais.
— Der, nós não podemos fazer isso. — ela colocou a mão no peito dele o afastando — Ninguém além de você e Aurora conseguem me ver, não daria certo. Não é justo com você. Você merece alguém que possa mostrar para todos.
Ela deu um beijo na bochecha dele antes de levantar voo. Derek sentiu seu coração se partir naquele momento enquanto ela ia embora. E prometeu a si mesmo que daria um jeito de superar Angeline já que ela não sentia o mesmo.