Encontro

963 Words
Poucos minutos antes de fechar o posto, Helena ouviu barulhos de tiros ecoando do lado de fora. O som estrondoso e agudo cortou o ar, fazendo seu coração acelerar. A princípio, pensou que poderia ser apenas uma briga distante, mas a intensidade dos disparos a fez perceber que estavam muito mais perto do que imaginava. Um estilhaço de vidro quebrou, e uma das janelas do postinho se despedaçou, os fragmentos brilhando como pequenos diamantes enquanto caíam no chão. O instinto tomou conta dela. Sem pensar, Helena se jogou no chão, cobrindo a cabeça com os braços, enquanto o eco dos tiros ressoava em seus ouvidos. O pânico invadiu o ambiente. Ela tinha certeza de que os pacientes e colegas de trabalho haviam corrido para se proteger, mas, naquele momento, a única coisa que importava era se manter segura. O cheiro do desinfetante e da poeira dos estilhaços misturava-se com a sensação de terror que a envolvia. Helena pressionou o rosto contra o piso frio, seu coração pulsando com força. Os ecos dos disparos pareciam intermináveis, e ela lutava contra a urgência de levantar e verificar o que estava acontecendo. Mas o medo a mantinha presa ao chão. Após alguns momentos que pareceram uma eternidade, os tiros finalmente cessaram, deixando um silêncio pesado no ar. Cautelosamente, ela levantou a cabeça, espiando em volta. O posto estava deserto. Os outros haviam fugido, e a sensação de solidão a envolveu como uma neblina. O único som que ouvia era o seu próprio coração batendo descontroladamente. Helena se levantou lentamente, o estômago embrulhando-se. Olhou para a janela quebrada e a luz da tarde entrava, iluminando os estilhaços no chão. O postinho estava agora em um estado de caos; as cadeiras estavam viradas, e alguns documentos estavam espalhados, testemunhando a pressa com que todos haviam saído. Ela se dirigiu à porta, mas hesitou. O morro da Esperança, com suas ruas estreitas e ladeiras íngremes, agora parecia um labirinto de perigo. Precisava fechar o posto, mas não sabia se era seguro sair. E se os tiros voltassem? Decidida a fazer o que era certo, Helena pegou um celular que havia deixado sobre a mesa e ligou para Beth, sua chefe. O telefone tocou várias vezes antes de ir para a caixa de mensagens. Ela respirou fundo, sabendo que precisava agir. “Preciso fechar o posto”, pensou. Com o coração na garganta, começou a recolher os materiais que estavam espalhados. Olhou pela janela e viu que a chuva havia diminuído, mas o morro ainda parecia ameaçador. Helena respirou fundo, o medo dando lugar à determinação. Se estava sozinha, então era sua responsabilidade garantir que o posto fosse fechado em segurança. Com cada movimento, ela sentia o peso da situação, mas não podia desistir. O morro e a comunidade precisavam dela, mesmo que estivesse cercada pelo silêncio e pela incerteza. Helena se dirigiu para a parte de trás do posto, determinada a fechar a janela que havia sido estilhaçada. O som da chuva ainda caía lá fora, misturando-se ao seu coração acelerado. Enquanto se aproximava da janela, algo chamou sua atenção. Um vulto preto saltou o muro com agilidade. Ela ficou paralisada por um momento, os olhos arregalados de medo. O homem, sem camisa e com uma barriga coberta de sangue, aterrissou pesadamente no chão. O que estava acontecendo? O pânico tomou conta de sua mente, e, em um impulso, ela gritou, sua voz ecoando no silêncio do posto. — O que você quer?! — gritou Helena, a voz tremendo. O homem se virou, e o olhar vazio em seu rosto a fez sentir um frio na espinha. Ele estava ferido, e a arma que segurava estava pendurada em sua mão, quase caindo. Antes que Helena pudesse reagir, o homem olhou diretamente para ela, seus olhos se encontrando com os dela por um breve instante, e, em seguida, ele desabou no chão, desmaiado. A cena a deixou em choque. Helena respirou fundo, tentando processar o que acabara de acontecer. O homem estava em estado crítico, e, apesar do medo que a dominava, a urgência da situação a forçou a agir. Ela correu em direção ao homem caído, seus instintos médicos se sobrepondo ao pânico. — m***a! O que eu faço? — murmurou para si mesma, enquanto se abaixava ao seu lado. O sangue que escorria de seu abdômen era alarmante. Ele precisava de ajuda imediata. Helena rapidamente checou os sinais vitais do homem. Seu pulso estava fraco, mas ainda havia vida nele. Sem perder tempo, ela se afastou para pegar um kit de primeiros socorros que mantinha no posto. Enquanto corria para dentro, não pôde deixar de se perguntar quem era aquele homem e o que havia acontecido para que ele aparecesse daquela forma. Com o kit em mãos, ela voltou para a parte de trás do posto e começou a trabalhar. Primeiro, pressionou um pano limpo contra o ferimento para estancar o sangue. Ele estava inconsciente, mas ela precisava fazer o possível para estabilizá-lo até que pudesse chamar ajuda. — Vamos lá, você consegue, você precisa ficar acordado! — disse Helena, embora soubesse que ele não a ouvia. Ela estava sozinha, mas determinada a salvar aquela vida. Enquanto trabalhava, a mente de Helena girava com perguntas. Quem era aquele homem? Por que estava ferido? E, principalmente, como ela poderia ajudá-lo em meio a tanta incerteza? Com cada movimento, ela lutava contra o medo que ameaçava tomar conta dela, sabendo que, naquela situação, cada segundo contava. Com o ferimento temporariamente coberto, ela se levantou e olhou para o homem desmaiado, sua expressão agora mais tranquila. Era hora de agir. Helena precisaria ligar para a emergência e, ao mesmo tempo, se preparar para qualquer outra eventualidade que o morro pudesse apresentar. No fundo, ela sentia que aquele encontro mudaria tudo.
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