Miguel Narrando
Acordei hoje com o interfone tocando, o porteiro avisando que a faxineira tinha chegado. Confesso, acordei de mau humor, mas agradeci mentalmente por ter sido tirado da cama. Tinha uma reunião importante com Josué às 9:30, e a produção desse mês precisava ser impecável. Campos do Jordão estava logo ali, e o evento de vinhos seria o maior desafio do ano. Josué e Priscila iriam representar nossa marca, enquanto eu cuidaria do restante por aqui .
Levantei, tomei uma ducha rápida e fiz minha higiene. O rosto no espelho me lembrava que, apesar dos 47 anos, ainda dava trabalho. Branco, 1,90 de altura, cabelo castanho com alguns fios grisalhos na barba, corpo musculoso e tatuagens espalhadas como um mosaico da minha história. Os olhos cor de mel, profundos e alertas, refletiam tanto o empresário respeitável do ramo de vinhos quanto o comandante do CV, algo que mantinha nas sombras, sempre no controle.
Depois de me vestir com um terno impecável, chamei meu motorista e fiz uma parada na cafeteria de costume. Café forte, sem açúcar, do jeito que gosto. Cheguei à casa do Josué com dez minutos de antecedência, como sempre. Entrar na casa dele era familiar, mas também desafiador. Sabia que a filha dele, Maíra, era uma presença constante, e desde a primeira vez que a vi, aquela garota mexia comigo de um jeito que nenhuma outra tinha feito.
A reunião começou pontualmente. Josué estava focado, como sempre, mas meu cérebro teimava em sair do trilho. Entre decisões de logística e estratégias para a feira, a porta da cozinha se abriu, e lá estava ela. Maíra.
Ela entrou reclamando de algo, a voz suave e levemente irritada, com aquele tom natural que fazia qualquer homem virar a cabeça. Pele branquinha, cabelos castanho-claros, olhos azuis como o céu em dia limpo. Aquela boca carnuda... impossível desviar o olhar. O corpo dela, definido e perfeitamente proporcional, era uma afronta à sanidade. Jogou a mochila e o casaco no sofá, me dando uma visão generosa dos s***s que o decote justo destacava. Era como se aquela diaba soubesse exatamente o que fazia, mas sem nenhuma malícia aparente.
"Carinha de anjo e corpo de demônio", pensei. Queria ignorar, mas meu corpo reagia automaticamente. Acalmei a respiração e tentei me concentrar novamente no que Josué dizia, mas era como tentar parar um furacão com as mãos.
— Tá tudo certo, Miguel? — Josué perguntou pela segunda vez, enquanto Priscila me oferecia água.
— Sim, sim, só distraído — menti, aceitando a taça para ganhar alguns segundos.
A verdade é que tocar a mão de Maíra, mesmo que brevemente, tinha sido o suficiente para bagunçar o que restava da minha concentração. A pele dela era macia, quente, e parecia que a sensação tinha ficado gravada na minha. O problema é que minha mente estava longe de ser o único órgão afetado. Porrä, era impossível disfarçar.
Josué se levantou para atender uma ligação e ir ao banheiro, deixando-nos a sós por alguns minutos. A tensão no ambiente quase podia ser cortada com um punhal. Eu tentei desviar o olhar, mas ela, inconsciente da confusão que causava, se mexia com naturalidade, ajeitando o cabelo, mordendo de leve o lábio enquanto mexia no celular. Cada movimento era uma provocação involuntária.
"Hoje foi pior que os outros dias", pensei, tentando controlar a pulsação que agora parecia centralizada... bom, em outro lugar. Eu precisava respirar, manter o controle. Mas como, se ela estava a poucos metros, com aquele cheiro doce que parecia perseguir meus sentidos?
Josué voltou logo depois, me arrancando bruscamente dos pensamentos.
— Tá me ouvindo, Miguel? — ele perguntou, com o cenho franzido.
Levei a mão ao queixo para disfarçar, mas era o mesmo que tentar esconder fogo com papel.
— Hum, repete aí, Josué. Tava pensando no plano da feira — desconversei.... Ele balançou a cabeça, sorrindo.
— Como eu e a Priscila vamos te representar lá em Campos do Jordão, vou deixar a Maíra na sua responsabilidade. Não confio em mais ninguém, e você sabe que minha mãe e a mãe da Priscila estão fora do país.
Minha testa franziu no mesmo instante. Olhei para ele, tentando decifrar se estava falando sério ou se aquilo era algum tipo de teste.
— Eu? — apontei para o peitö, mais por instinto do que por dúvida.
— Sim, cara. Você. Ela vai ficar na sua responsabilidade. – Engoli seco. Porrä, Josué, como você me coloca numa situação dessas? Não conseguia controlar meu corpo na frente dele; imagina sozinho com a garota.
— Tudo bem... — Falei, tentando parecer indiferente.
— É sério, Miguel. Preciso que ela fique bem enquanto estamos fora. Confio em você. – Só podia ser mentira uma porrä dessa.
"Confio em você", ele disse. Nem imaginava o inferno que era segurar tudo o que sentia. A reunião continuou, mas a cada minuto parecia mais difícil manter o foco.
Quando finalmente terminou, e Josué foi buscar Priscila no quarto, decidi levantar para espairecer. Me mexer era a única coisa que ajudava a dissipar o efeito que Maíra causava. Mas, claro, o destino tinha outros planos.
Fui até a área externa da casa, acendi um baseado e traguei com uma intensidade que eu nem sabia ser capaz em sã consciência. A filha da putä já ferrava com o meu juízo, e agora o Josué me joga uma dessa no colo? Voltei pra dentro da casa.
Ela desceu as escadas naquele momento, e eu parei, literalmente paralisado. Um top minúsculo que mais parecia um biquíni, um shortinho curto com a polpa da b***a à mostra, e aquela pele branquinha que parecia ainda mais luminosa sob a luz natural da sala.
Maíra caminhou até a mesa como se fosse a coisa mais normal do mundo e sentou-se, ajeitando os cabelos enquanto começava a mexer no celular.
Eu m*l conseguia respirar. Aquele corpo, aquela presença... Era hipnotizante. Papo reto. Meu coração acelerava de um jeito que não era saudável, enquanto o resto do meu corpo parecia se rebelar contra qualquer tentativa de controle.
"O que você tá fazendo comigo, garota?" pensei, observando-a de relance, tentando não me expor. Mas era inútil. Ela era a visão do paraíso — um paraíso que eu não devia tocar, mas que já tinha se infiltrado nos meus sonhos mais proibidos.
E assim, enquanto o almoço começava e Josué voltava a falar sobre os planos para a viagem, eu me sentia num duelo constante entre razão e desejo.
Maíra – Tá tudo bem, senhor Miguel?
A voz dela me tirou dos meus pensamentos como um tapa, suave e certeiro. Levantei os olhos lentamente, encarando aqueles olhos azuis que pareciam me despir sem nem tentar. Ela estava parada , me olhando com a testa levemente franzida, como se realmente estivesse preocupada. Eu queria rir do "senhor Miguel" que ela insistia em usar, uma formalidade desnecessária que só me fazia lembrar da diferença de idade entre nós. Mas, naquele momento, minha cabeça estava longe demais para brincar com isso.
– Sim, Maíra, está tudo bem – respondi, ajustando minha postura na cadeira, tentando me recompor.
Ela não pareceu totalmente convencida, mas deu um leve sorriso antes de se afastar, indo até a cozinha. Meu olhar, por mais que eu tentasse evitar, seguiu cada movimento seu. Ela era hipnotizante, cada detalhe. A forma como os cabelos castanhos balançavam enquanto ela andava, o jeito despreocupado de mexer no celular, o som suave da voz dela cantarolando uma música qualquer.
Respirei fundo, tentando focar na conversa com Josué, mas era inútil. O cheiro do perfume dela parecia impregnar o ambiente, invadindo meu espaço e me distraindo ainda mais. Por um instante, deixei escapar um sorriso de canto, quase irônico. Eu, Miguel, dono de um império e de um controle impecável em qualquer situação, estava aqui, perdido, afetado pela presença de uma menina que nem fazia ideia do estrago que causava em mim....