Capítulo 03 Maíra

1216 Words
Maira Narrando Mesmo com as trocas de olhares, o clima na mesa era leve, mas eu sentia que algo diferente pairava no ar. Talvez fosse o cansaço da viagem que meu pai e minha mãe estavam prestes a fazer, ou talvez fosse outra coisa. Algo que eu ainda não conseguia definir, mas que pulsava forte dentro de mim. Eu tentava não encarar Miguel diretamente, mas era difícil. Ele sempre parecia... presente demais. A maneira como ele segurava o copo de vinho, o jeito relaxado, mas ao mesmo tempo intenso, com que ouvia a conversa. E, claro, o olhar. Aquele olhar de mel que me despia sem nem precisar de esforço. Minha mãe interrompeu meus pensamentos, virando para ele com um sorriso meio brincalhão, meio sério. — Miguel, já que Josué e eu vamos estar fora, você sabe que a Maíra fica sob sua responsabilidade, né? Cuida bem da minha filha. – Minha mãe falou e eu olhei para ela meio incrédula, sem acreditar que foi isso que eu ouvi. Minha cabeça girou no mesmo instante. Senti meu coração acelerar, e minhas pernas tremiam levemente debaixo da mesa. O olhar do meu pai cruzou com o de Miguel, e por um segundo, parecia que estavam selando algum acordo silencioso. Eu ri, tentando disfarçar o nervosismo. — Eu sou grandinha, meu povo. Não preciso de babá. – Falei isso olhando diretamente para Miguel, e juro que vi a sombra de um sorriso puxando o canto da boca dele. O problema era que aquele sorrisinho fazia meu corpo inteiro reagir... Meu pai riu. — Sei disso, filha. Mas quero ter certeza de que alguém está por perto caso precise de algo. – Meu pai fala olhando pro Miguel. O assunto logo mudou, mas meu coração ainda pulsava no ritmo do impacto daquela conversa. Depois de um tempo, meu pai se levantou assim que o telefone vibrou, fazendo um sinal para Miguel esperar. Minha mãe começou a tirar a mesa, e eu fiquei na sala, terminando meu suco..... Me assustei quando Miguel se aproximou. Não queria olhar diretamente para ele, porque sabia que meu corpo reagiria mais do que eu estava disposta a admitir..... Mas então ele fez algo que desmontou qualquer tentativa de autocontrole que eu ainda tinha. — Ai, que susto, senhor Miguel! — falei, levando a mão ao peitö. Ele sorriu de lado e segurou minha mão. Meu corpo inteiro se arrepiou, mas antes que eu pudesse reagir, ele me puxou levemente, encostando os lábios na minha bochecha num gesto que poderia ser inocente para qualquer um que olhasse de longe. Mas eu senti. Deus, como eu senti. — Tu não provoca, não, diabä... Que quando tiver só nós dois, eu não respondo por mim. – A voz dele, baixa e rouca, escorreu pelo meu ouvido como um pecado. Meu coração saiu do peitö e voltou numa velocidade que eu ainda não estava acostumada. Ele se afastou como se nada tivesse acontecido, deixando um rastro de confusão dentro de mim. Fiquei parada, sentindo a pele ainda formigar no lugar onde ele havia encostado os lábios. — Então é isso, Miguel. Amanhã eu começo a organizar tudo para ir para Campos do Jordão, vai dar bom — meu pai disse, voltando para a sala e colocando o celular na mesa. — Sim. Sei que com você e a Priscila lá, não preciso me preocupar com nada. Vocês me representam bem — Miguel respondeu, colocando o blazer no braço e apertando a mão do meu pai. — Miguel, eu confio em você. Não vai deixar minha bebê largada, né? — minha mãe disse, se aproximando e pegando na mão dele. — Não se preocupa, Priscila. O que eu puder fazer para que ela fique segura, eu vou fazer. Quanto a isso, podem ficar tranquilos. E aproveitem a viagem, vocês vão chegar lá dois dias antes do evento... Pensa que é um presente, quase uma lua de mel — Miguel respondeu, olhando de r**o de olho para mim. Ele se afastou, seguindo até a porta junto com meu pai, que o acompanhou. Minha mãe voltou para a cozinha, e eu fiquei parada no meio da sala, segurando o copo, sem saber o que fazer. Respirei fundo, segui até a cozinha, coloquei o copo na pia, dei um beijo na bochecha da minha mãe e subi as escadas. Mais tarde.. Liguei o computador, coloquei o telefone para carregar e me joguei na cama. Respirei fundo, olhando para o teto. Precisava estudar, mas minha cabeça estava um caos... Miguel. Por que ele mexia tanto comigo? Fiquei um bom tempo deitada, coloquei o travesseiro em cima do rosto e tentei até tirar uma soneca, já que tinha dormido m*l na noite passada. Mas, com todos os pensamentos girando na minha cabeça, não foi fácil. Peguei o celular e disquei para Marcela. Ligação On Maíra: E aí, piranhä? Como tá sendo o dia? Ela riu do outro lado. Marcela: Tava ótimo até agora, mas pelo tom da tua voz, tô sentindo que vem bomba. Joguei o corpo na cama, mordendo o lábio. Maíra: O Miguel vai ser "meu responsável" enquanto meu pai e minha mãe estiverem fora. O grito que ela deu quase me fez afastar o celular do ouvido. Marcela: Cê tá brincando, né? Maíra: Queria. Marcela — Tá ferrada, amiga... ou não. Quem é que não ia querer ficar aos cuidados daquele coroa gostoso? Putä que pariu, amiga, tu tem uma sorte do cão! Maíra — Você sabe o que é aquele homem te olhar como se estivesse te devorando só com os olhos? Suspirei, passando a mão pelos cabelos. Maíra: Eu sei. Ela riu. Marcela: E o gostoso já fez alguma coisa? Maíra: Ele cochichou no meu ouvido que não responde por ele quando estivermos sozinhos. O silêncio de Marcela durou alguns segundos, e então ela soltou um palavrão seguido de uma gargalhada. Marcela: Eu também não responderia, não. Se eu fosse homem, te pegava, amiga. Maíra: Me erra! Só porque eu não fico por aí interessada em todo mundo, não significa que eu gosto da mesma fruta. Ela sorriu. Marcela: Minha nossa! Esse homem vai acabar contigo. Meu estômago revirou só de lembrar da voz dele, do jeito como me olhava. Maíra: Tô tentando não pensar nisso. Marcela: Era ele, né? Em quem você tava pensando hoje enquanto voltávamos pra casa? Boa sorte com isso. Antes que eu pudesse responder, meu celular vibrou. Uma mensagem. Miguel: Já começou a me desobedecer, hein? Arregalei os olhos. Como assim? Maíra: Amiga, depois te ligo. Marcela: Eita! Já sei que é o boy. Depois me conta tudo! Ligação off Desliguei a ligação e abri a mensagem. Maíra: Do que você tá falando? A resposta veio quase que instantaneamente. Miguel: Achei que tinha dito pra não me provocar. O calor subiu pelo meu corpo. Maíra: Eu não fiz nada. Dessa vez, ele demorou um pouco mais para responder. Miguel: Fez. E pior, nem percebeu. Mordi o lábio, sentindo a pele arrepiar. O que ele queria dizer com aquilo? Maíra: Explica melhor. A resposta veio curta e direta. Miguel: Olha pela janela. Meu coração acelerou. Me levantei devagar e fui até a janela do meu quarto. Ele estava lá embaixo, no jardim, na mansão ao lado, me encarando. Não acredito. Eu estava perdida.....
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD