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EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

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Blurb

Lúcio e Amália, se admiram há tempos, por distância. Ele vê a necessidade de se aproximar do Senador Nicolau, para descobrir sobre a morte de seus pais, em um trágico incêncio. Sendo o senador pai de Amália, se aproxima, com a desculpa de cortejá-la, mesmo que nutrindo amor verdadeiro. Ela, sem saber das intenções escondidas, confia em Lúcio e em seu amor, esperando que sua única vontade fosse ajudá-la a fugir de um casamento arranjado por seu pai, decepcionando-se, ao descobrir toda a verdade, passando a repudiá-lo, não mais acreditando em seu amor. Lúcio tenta provar seus verdadeiros sentimentos, mas não consegue se aproximar de sua esposa, após trama maliciosa de seu oponente, revelando de maneira maldosa e distorcida, as intenções veladas do mesmo. Angélica vem de um futuro, tentando ajudar e alertá-los dos possíveis perigos, para poder viver esse amor e mudar seu futuro solitário, sem seu amado.

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CAP‌ ‌1‌ ‌-‌ ‌LÚCIO‌ ‌E‌ ‌AMÁLIA‌ ‌PARTE‌ ‌1‌
Angélica, uma idosa, doente, em seu leito, visivelmente moribunda, está sendo cuidada pela enfermeira. A moça gentilmente pergunta: - A senhora precisa de mais alguma coisa? Angélica responde gentilmente - Não, minha querida, pode ir deitar-se. Quero dormir logo para sonhar com meu amado marido. A enfermeira sorri. Sabia que Angélica nunca fora casada, mas devia ser delírio de sua velhice. Então responde, apagando a luz: - Bons sonhos, querida. Angélica diz: - Para você também, minha querida. A suave senhora fecha seus grandes olhos enrugados pelo tempo e parece viajar no tempo… Ela era visitante de um tempo antigo, onde existiam vestidos longos para as mulheres, os rapazes usavam bengalas e chapéus, em que não existiam carros, mas cocheiros...Tudo era tão familiar, as lojas de doces, a praça, o barulho de crianças brincando, o som dos cavalos, o cheiro de acácia das árvores, tudo era absolutamente nítido, como se estivesse lá...Ela então passa a acompanhar um certo jovem de cabelos pretos e lindos olhos azuis...era ele...sim seu querido esposo Lúcio...ela começa a lembrar-se de uma vida em que estava agora fazendo parte...não mais assistia, porém vivia...seu nome era...Amália… Amália passeia pela Cidade dos Anjos, com sua mãe. Ela não percebe, mas Lúcio, do outro lado da rua, tomando seu café, na Confeitaria Doce Docê, com Micael, a vê e está observando todos os seus movimentos, totalmente absorvido. Música de fundo: O mare e tu - Andrea Bocelli: Micael interrompe seus pensamentos, observando o olhar de Lúcio para Amália: - Agora entendo sua vinda aqui todas as manhãs, no mesmo dia da semana e no mesmo horário. Lúcio sorrindo volta-se para Micael: - Então, veio me espiar? Micael: Meu irmão, você é um homem de horários, rotinas, mas abre mão de tudo, para vir aqui nesse dia da semana, nesse horário...nós todos percebemos...já são três meses… Lúcio: - Já? Nem contei. Micael: - Não acredito que você não foi ainda aproximar-se, conhecê-la. Lúcio: - Sabe quem é ela? Micael: - A megera. Lúcio, aborrecido, corrige o irmão: - Duvido que alguém com um semblante tão doce possa ser megera. Micael: - Desculpe, irmão, mas é o que dizem… Lúcio: - Isso porque tem personalidade forte e é a frente de nosso tempo. Ele observa Amália conversando com duas crianças, que viviam na rua, enquanto sua mãe fazia compras. Ela pega na mão de cada uma delas, atravessa a rua e vai em direção a confeitaria. Lúcio fala para Micael: - eu não disse que tudo era uma questão de tempo? Amália entra. O senhor, dono da confeitaria, vem agitado e educadamente fala, enquanto os demais nobres, que lá estavam, ficavam indignados com a presença das crianças plebeias: - Senhorita Amália, por que motivo sempre me causa problemas? As crianças dizem: - Deixa, tia, a gente não liga de comer lá fora. Amália fala em voz alta: - Não mesmo! Tenho dinheiro para pagar e ficaremos aqui. Vocês são minhas convidadas. Lúcio ergue-se e suavemente diz: - Proponho um acordo. O senhor os serve, como eles merecem, pois são seres humanos, e a senhorita senta com eles na mesa do canto, ao lado da minha. - Erguendo a voz diz: - Evitamos os demais cantos, onde há pessoas preconceituosas e desumanas. Todos desviam os olhares e abaixam as suas cabeças. O senhor tenta argumentar: - Mas senhor Lúcio… Lúcio: - Considerarei uma ofensa pessoal se assim não o fizer. O senhor sai e pede para que o garçom atenda a moça. Amália tira sua luvinha e estende a mão, dizendo: - Então o senhor é o famoso Lúcio? Lúcio beija-lhe a mão e surpreso pergunta: - Famoso? O senhor vem novamente e diz: - Por gentileza, poderiam sentar? Micael observa tudo, fingindo ler o jornal. Amália diz: - Daria a honra de sentar-se com a gente para terminarmos nossa conversa. Lúcio: - Honrado estou eu por tão gentil convite. Eles sentam-se à mesa. Micael então vem e estendendo a mão para Amália. Como de costume, ela entrega sua mão, esperando o cumprimento. Micael beija sua pequena mãozinha pálida, dizendo: - Sou Micael, irmão de Lúcio, é um prazer conhecê-la, porém já estava de partida. - diz colocando seu chapéu e saindo. O garçom se aproxima. Amália gentilmente pergunta para as crianças: - Então o que vocês querem? Elas apontam para os salgados, que viam sempre da vitrine. Amália diz: - Veja dois daqueles salgados e mais dois grandes pedaços de bolo de chocolate, por gentileza. As crianças ficam com os olhos sorrindo. Lúcio novamente entra no assunto: - Perdão insistir, mas qual o motivo do famoso? Amália: - Famoso porque todos falam do seu coração bondoso e de sua generosidade. Lúcio fica sem graça: - O povo exagera. Amália: - Vejo que esqueceram de comentar humilde. - Diz sorrindo. Lúcio: - Também conheço você. Amália: - Como a megera ou a filha do senador Nicolau? Lúcio fica surpreso com a objetividade. Amália: - Sei o que comentam, senhor Lúcio e não liga a mínima. - Ela toma seu chá e segue dizendo: - acompanho seus feitos pelo jornal. Lúcio sorri... afinal ela também o notara. Ele está surpreso que uma mulher daquela época leia jornal e deixa isso visivelmente claro. Amália comenta: - Sim, leio jornal e adoro. Lúcio fala sem jeito: - Perdoe-me a transparência. Amália o interrompe, outra característica estranha, visto que naquela época, uma mulher jamais interrompia um homem. Então diz: - Por favor, jamais peça perdão por ser transparente. É outra de suas qualidades que o povo não comenta. Lúcio sorri com os olhos, realmente ela o observava tanto quanto ele a ela. Ele diz: - Jamais pensaria que uma mulher como você prestaria atenção em mim. Amália pergunta seriamente: - Qual o motivo de não prestar? e que mulher exatamente eu seria? Lúcio diz: - Explico-me melhor. Amália: - Por gentileza. Lúcio: - Uma mulher à frente do seu tempo prestar atenção em um homem tão comum. Amália: - Por favor, senhor Lúcio, de comum o senhor não tem nada. É no mínimo um homem raro para esse tempo. Ainda mais admitir que sou uma mulher à frente do meu tempo. Os dois riem juntos. Amália continua: - Adoro ler. Creio que papai se arrependeu de me permitir aprender as letras. Conheço os livros do seu irmão João, entre os quais aquele que conta a histórias dos seus pais, que ajudaram a fundar a Cidade dos Anjos. Aproveito para dizer que lastimo a perda deles tão cedo. Lúcio agradece com a cabeça e responde: - Obrigada pelas condolências. Mesmo após dois anos, ainda não me conformei. Fico feliz ao saber que gosta dos livros do meu irmão e que se interessou pela história da minha família. Amália: - Interesso-me por pessoas boas e seus pais eram maravilhosos. Logicamente, seus filhos saíram a eles. Lúcio não esconde seu olhar de amor. Após as crianças devorarem tudo, Amália pergunta: - São só vocês duas? Tem alguém adulto com vocês? Nossa avó está logo ali pedindo dinheiro. Amália chama o garçom e pede que embrulhe mais três salgados, três sucos e três pedaços de bolo. O garçom, emocionado com o gesto da moça, faz de bom agrado. No final, Amália puxa a bolsinha para pagar. Lúcio diz: - Deixe que pago. Amália: - Por favor, senhor Lúcio, quis eu ajudar, dessa forma quem ajudará é o senhor… Lúcio: - o que importa é à vontade no coração. Amália diz: - Justo. Façamos assim: o senhor me ajuda com a metade. Lúcio aceita e concorda. Sabia que como uma mulher independente, se ofenderia se insistisse em arcar com tudo. Eles saem da confeitaria. Ele lhe estende o braço e Amália engancha. Ao atravessarem a rua, com as crianças, encontram a mãe de Amália, Verônica. Amália se adianta: - Lúcio está é mamãe. Mamãe, este é Lúcio. Lúcio beija a mão de Verônica que coloca a mão no peito admirando a beleza do rapaz. Verônica era muito vaidosa e sempre flertava com rapazes mais jovens. Ela olha para Amália, dizendo: - O que está fazendo novamente com essas crianças? Lúcio adianta-se: - Na verdade, eu as convidei para um café na confeitaria. Verônica sorri para ele: - Pois se é assim, então está tudo bem. Amália não gosta da atitude de Lúcio, mas entende querer ajudar. Verônica: - Estamos atrasadas, estava te procurando a minutos. Amália: - Desculpe, perdi a hora. Verônica olha para Lúcio, dizendo: - Por certo teve um bom motivo. Amália entrega o pacote para as crianças e se despedem. Elas agradecem e vão correndo até sua avó. Verônica diz: - O senhor poderia chamar o transporte? Lúcio faz sim com a cabeça e sinaliza para um senhor com charrete. Ele ajuda ambas a subirem na mesma. Ao ajudar Amália ele diz: - Foi um prazer conhecê-la, senhorita. Amália responde: - O prazer foi meu, senhor Lúcio. Eles sorriem um para o outro. A charrete se vai e Lúcio fica observando. Amália olha para trás e Lúcio sorri. A música para essa despedida é Tu - Sarah Brightman: Ao chegar em casa, Micael esperava Lúcio. Ele corre em direção a Lúcio e pergunta: - Como foi? Lúcio fala com cara de apaixonado: - Ela é adorável. Micael faz cara de dúvida. Lúcio continua: - Conversamos. Ela já acompanhava meu trabalho, leu os livros de João, sabe sobre nossos pais… Micael: - Então também lhe observa de longe? Lúcio diz sorrindo: - Mais ou menos isso. Micael: - Cara de bobo, apaixonado. Lúcio abraça o irmão e eles seguem para sala rindo. Micael senta-se na poltrona. Lúcio em outra. Micael: - Você crê ser sensato aproximar-se da filha do Senador Nicolau, o antigo inimigo do nosso pai? Lúcio: - Se ele teve algo com a morte de nossos pais, irei descobrir. Micael: - E Amália será um instrumento para isso? Lúcio fala exaltado: - Não seja bobo! Meus sentimentos pela moça são verdadeiros. Ocorre que, infelizmente, ela é filha do monstro. Micael: - Se ela souber que você está querendo se aproximar do pai dela, para descobrir sobre a morte de nossos pais, certamente vai achar que está se aproximando dela para esse fim. Vai se sentir usada. Lúcio: - Não tem como ela descobrir. Terei o máximo de cuidado. Até fingirei apoiar as ideias malucas do Umbralino senhor. Micael: - Jogo perigoso, meu querido. Lúcio: - Que irei jogar com destreza. Pretendo e vou descobrir tudo o que aconteceu na noite do assassinato de nossos pais. Micael: - Você acha que foi assassinato, eles morreram dormindo em um incêndio, segundo laudo médico. Lúcio: - Comprado, não é meu irmão e sabemos por quem. Micael: - Você desconfia disso também. Lúcio: - Pelo jeito que fala até pareço insano. Micael: - Não é isso, meu irmão. Mas acidentes acontecem. Papai estava muito cansado naquela época. Lúcio: - Ele jamais seria tão imprudente assim. Acredite! Micael: - Sua fé em papai é inabalável, tanto quanto a minha em você. Não duvido de ti, meu irmão, apenas me preocupo que se meta em confusão. Lúcio: - Devo isso ao nosso pai. Preciso descobrir a verdade. Micael: - Pois você tem o meu total apoio e ajuda no que precisar. Lúcio: - Eu sei que sim… Os dois seguem conversando. De alguma forma Angélica estava ali assistindo. Transitava entre seu corpo encarnado e fora dele para ver o que acontecia em sua volta. Ela olha para a mão de seu amado esposo e reconhece aquele anel com pedra verde… sim... seu amado era médico... um maravilhoso, gentil, cuidadoso e generoso médico. Era noite e Angélica ficara o tempo todo olhando seu marido. Não cansava de vê-lo. Como sentia sua falta... sua voz, seu jeito doce e sereno, ao mesmo tempo forte e centrado... como pode ser tão boba de duvidar do seu caráter… como pode perder tanto tempo de felicidade ao seu lado? Era noite e ele estava sentado em sua escrivaninha, escrevendo. Ele então para e olha para o céu estrelado. Imediatamente lembra de Amália e do seu encontro. Angélica se aproxima, dizendo: - Estou aqui, meu amor. Sou eu... sua Amália… Ele sente uma corrente de ar frio em seu braço esquerdo. Imediatamente vai até a janela e a fecha. Depois volta e senta-se. Angélica fecha seus olhos e está em seu corpo como Amália. Ela também olha para as estrelas e pensa em seu encontro com Lúcio. Estava desapontada. Ele parecia tão nobre, mas mentira para sua mãe...mesmo que com uma boa intenção... mentira. Amália odiava a mentira...seus pais eram peritos nela. Isso a tirava do sério. De alguma forma, Lúcio cairá em seu conceito, mas continuava pensando nele, sem entender. Naquela noite ambos foram deitar e ficaram pensando um no outro. Amália, agora Angélica, se desprende de seu corpo como senhora e vai até onde Lúcio está deitado. Ele estava de lado dormindo, com uma de suas mãos na frente de seu corpo, a que tinha o anel, e a outra no seu queijo. Amália deita-se ao lado do seu marido, virada para ele. Delicadamente coloca sua mão em cima da dele. Queria tocar seu marido, sentir sua pele...estar novamente com ele, mesmo que assim... já era a melhor sensação do mundo. Agradecera a Deus por esses momentos, mesmo não entendendo nada. Lúcio sente um calafrio e puxa sua mão para se cobrir. Amália não entendia porque ele sentia frio com ela. Ela sentia um calor tão bom vindo dele... qual o motivo de não senti-la como ela o sentia? Meu doce marido, como queria poder ser jovem novamente e estar ali de fato... tão lindo... sempre fora mais que eu...e nunca ligara para isso… Lúcio então abre seus olhos e vê uma senhora idosa transparente deitada em sua cama, balbuciando algo em outra língua. Ele pula para trás assustado e Angélica desaparece. Assustado, bebe um pouco de água e vira-se para o outro lado, tentando se convencer ser obra de um pesadelo. Angélica acorda em sua cama, presa a seu corpo de idosa. Ela sente-se longe de seu amor e começa a chorar. Já tinha se passado uma vida sem você...estava cansada de sua ausência...sabia que tinha que ter ficado essa vida sozinha para merecer vê-lo novamente. Era assim que tinha que ser, mas porque estaria agora ao quase desencarnar, revivendo aquela vida terrível em que o perdera de forma tão c***l? Será que teria antes de desencarnar naquela vida solitária, longe dele, com as lembranças de um passado distante, voltar ao mesmo, para reviver sua perda tão dolorosa que teria feito com que pagasse uma existência inteira sem ele? Não tinha sofrido tudo que precisava? Até onde mais teria que ir só para vê-lo novamente? Para poder estar a mesma dimensão que ele? Ela fecha seus olhos e adormece chorando. Novamente estava naquele tempo ... naquela vida...onde lembrava dele… Era no outro dia de manhã e Lúcio tinha ido até a Confeitaria para ver se Amália retornava. Sabia que não era dia, mas sentia necessidade de tentar. Ele senta-se no banco da praça e fica olhando o lugar onde viu a charrete sumir...Lembra-se dela olhando para trás e para ele… À noite, todos a mesa e Lúcio, na ponta, no lugar que era do seu pai, pensativo, sem tocar na comida. Sentia saudade dela e não conseguia se conter. Era como se seu coração doesse dentro do seu peito. Sabia que tinha estado tão perto e precisava vê-la novamente. Micael: - Irmão. Lúcio olha para ele. Micael: - Nem tocou em sua comida. Lúcio: - Não tenho fome. Micael: - Seria por causa dela? Lúcio: - Não sei o que está acontecendo. Eu a sinto tão perto...como se estivesse aqui. Angélica se aproxima, dizendo: - Eu estou, meu bem. Lúcio: - E esse arrepio que invade meu peito. Micael: - Não está doente? Lúcio: - Sou médico, sei reconhecer uma doença quando estou com uma. Micael: - Então vá até lá e peça a mão da moça em casamento. Lúcio: - Você conhece os rumores sobre ela… Micael: - Que ela é contra casamento arranjado? Você sabe que ela já está na fase de casar, se não for com você, certamente o pai dela vai arrumar outro, e pior, um velho. Vá cortejá-la. Converse com ela, combine esse compromisso até para livrá-la de pessoas de mais idade. Tenho certeza que ela preferirá você. Lúcio: - Tem razão. Não adianta ficar aqui sem tentar. Irei, amanhã mesmo, conversar com o senador. Micael sorri. A noite cai e Lúcio não consegue dormir. Pensa em Amália. Na verdade, sentia a presença de Angélica, que era sua amada de outra vida. Em seus pensamentos a imagem de sua amada e a vontade de tê-la para sempre do seu lado. Angélica sente o que ele sentia e coloca a mão em seu peito chorando. Queria poder mudar tudo. Se tivesse a chance de tê-lo novamente na mesma dimensão que ela, não deixaria bobagens atrapalhar, nem se afastaria se ele não quisesse, por nada nesse mundo… A música para esse momento é Only time de Enya. Angélica fica ali, sentada nos pés da cama, olhando seu amor dormir. Ela poderia passar a eternidade assim, era melhor do que a vida que teve sem ele, sem poder olhar seus traços, ver suas mãos...Já não tinha ficado tempo no umbral para pagar por seu erro de tirar-lhe a sua própria vida? Não tinha sido suficiente tudo o que passara no vale dos suicidas? Todo o escárnio, dor, humilhação e sofrimento? E a dor da perda do seu amado marido não seria suficiente? Esse martírio nunca terá fim? Se ela estava ali, qual o motivo dele não se desprender do seu corpo e vim vê-la? Será que nem em sonho ganharia a graça de tocá-lo mais uma vez? De ver seus olhos olharem para os seus? De sentir sua respiração perto e seu toque? Angélica percebera ser inútil se questionar. Estava perdendo tempo para estar perto do seu amor. Ela fica ali, olhando ele dormir. Amanhece e Lúcio vai cedo até a casa do senhor Nicolau. Anunciado pelo empregado, o senador o recebe em sua biblioteca. Nicolau, levantando-se para cumprimentar o doutor, diz: - Como vai, nobre doutor? Lúcio respondendo ao cumprimento, diz: - Vou bem, obrigado. E vossa excelência? Nicolau, com falsa modéstia, pois adorava ser chamado pelo pronome de tratamento, diz: - Por favor, pelos anos que conheci seu pai, e pelo respeito por sua profissão, somente senador. Lúcio engole a seco, vê-lo mencionar seu pai. Ele então diz curvando-se, levemente: - Obrigado, senador. Nicolau responde à pergunta: - Estou bem. Muito satisfeito com meu cargo e minhas realizações. Mas o que um jovem doutor, tão atarefado vem fazer em minha casa? Lúcio: - Sendo bem direto com o senhor, vim pedir a mão de sua filha Amália, para cortejá-la. Nicolau fica surpreso. Ele diz: - Sabe que ela é osso duro de roer? Lúcio odeia o termo que utiliza sobre sua amada, mas continua: - Eu conheço os rumores… Nicolau: - Estava negociando com o banqueiro a mão de minha filha em casamento. Acho que alguém com mais experiência pode domá-la. - Ele levanta-se, hesitando. Lúcio tenta disfarçar a raiva por dizer que ela precisava ser domada. Tudo naquele homem era digno de nojo. Nicolau serve um vinho do porto para ambos e, alcançando uma pequena taça para Lúcio, diz: - Veja bem, o nobre banqueiro, estava disposto a mostrar boa vontade pela minha filha. Sabe que um pai, sente-se mais confortável em entregar a não de sua amada filha mediante prova de boa vontade. Lúcio toma um gole do vinho e diz: - De quanto seria essa boa vontade? Tanto Lúcio, quanto o banqueiro eram de família abastada. Nicolau percebendo o interesse do rapaz, coloca um valor maior do que o banqueiro tinha oferecido. Lúcio ao ouvir, não demonstra preocupação com o valor e diz: - Pois eu dobro. Nicolau que estava tomando um gole do seu Porto, afoga-se, surpreso com o real interesse do jovem. em sua cabeça passa o terrível pensamento de que se livraria de um problema, visto que Amália era uma insolente, encalhada, por não encontrar muitos dispostos a aguentar suas ideias feministas, e ainda lucraria melhor com ela do que com suas irmãs menos problemáticas. Até que sua filha lhe tinha trazido sorte. Ele então, notando o real interesse do jovem, joga um pouco mais alto, dizendo: - Veja bem, além do valor, o nobre banqueiro me prestaria favores dentro do banco...não seria somente dinheiro. Lúcio: - Pois eu e meu irmãos, representando nosso pai na política, daremos total apoio em suas campanhas, o senador bem sabe que o nome do meu pai era o mais cotado para a presidência. Os olhos gananciosos de Nicolau brilham. Sem dúvida seria um lugar onde queria chegar, afinal, tinha um bom motivo para selar o acordo entre ambos. Ele ergueu-se, dizendo: - Pois muito bem, firmamos acordo. - Estende as mãos e ambos dão suas palavras. O que Lúcio queria era além de garantir que Amália não parasse nas mãos de um casamento infeliz ao lado de um velho babão, que tivesse a confiança do assassino de seu pai, para descobrir tudo o que tinha acontecido na noite de sua morte. Nicolau fala: - Vou chamar minha filha. Lúcio pede: - Se o senador me permite, gostaria de dar a notícia pessoalmente e a sós para minha futura esposa. Nicolau sorri, afinal livrara-se de mais um problema. Explicar para Amália do seu casamento seria um fardo. Então diz: - Vamos até a sala, que chamarei minha filha e os deixaremos a sós. Nicolau assim faz. Ele e sua esposa saem para o quarto. Amália senta-se desconfiada no sofá, olhando para Lúcio. Lucio delicadamente inicia a explicação: - Eu sei que odeia tudo o que trata a mulher como objeto. Amália faz sim com a cabeça. Lúcio: - Mas sei também que conhece como a sociedade é. Amália fica assustada, esperando terminar o raciocínio. Lúcio: - Sabe que o banqueiro estava em negociação com sua mão em casamento. Amália levanta-se, furiosa. Lúcio pede calma com a mão. Eu, sinceramente lhe falando, tenho sentimentos por você. Gostaria de fazer tudo diferente, mas nossa sociedade é do jeito que é e nem eu, nem você, podemos mudar isso. Amália senta-se e fica escutando. Lúcio: - Eu tomei uma atitude, que espero que não seja repudiada pela senhorita. Fiz com todo o amor que devoto por você, em meu coração. Amália sente-se aliviada por ouvir os sentimentos dele, mas preocupada com o que iria dizer. Então pergunta: - O que o senhor fez, senhor Lúcio? Lúcio: - Eu negociei com seu pai sua mão em casamento. Amália diz surpresa: - Ou. Lúcio diz: - Ou? Amália pensa um pouco e diz: - O que exatamente o senhor pretende com isso? Não serei submissa a seus gostos nem condições. Não é porque o senhor é bem apessoado, que vai me causar menos ojeriza por me tratar como um objeto. Lúcio: - Não quis, em nenhum momento, lhe tratar assim. Amália: - No entanto, negociou minha vida com dinheiro. Lúcio: - Quis protegê-la. do meu lado lhe garanto que nada será diferente do que deseja. Jamais farei algo que não queira. Amália se acalma um pouco. Lúcio continua: - Pense um pouco, o que poderia fazer? Se fosse com você, o que faria. Amália parece entender os argumentos. Lúcio: - Queria ter falado antes contigo, mas tive medo que seu pai desse a palavra para o tal banqueiro. Amália estava mais calma. Ela então diz: - Eu irei dar um voto de confiança ao senhor, mas lhe peço: - Nunca, senhor Lúcio, nunca minta para mim. Se quebrar minha confiança, jamais lhe considerarei novamente. Lúcio: - Eu lhe agradeço pelo voto. Gostaria muito de apressar nosso casamento para tirá-la logo daqui. Lhe prometo que do meu lado estará segura. Amália: - Não preciso de proteção, preciso de respeito. Lúcio: - E lhe darei todo o respeito do mundo. Amália diz: - Pois bem, visto que meu pai me venderia realmente para qualquer um disposto a pagar um bom preço por mim, devo até dizer que me rifaria para se livrar de mim, eu aceitarei suas justificativas e não me oporei ao nosso casamento. Lúcio abre um sorriso. Amália diz: - Mas alto lá, vou confiar que o senhor irá respeitar minha vontade, coisa que nenhum outro homem nessa cidade faria. Lúcio diz juntando as mãos: - Eu prometo. Amália: - Vou chamar meu pai para conversarem sobre o casamento. Lúcio segura o riso. Afinal, do jeito dela, disse-lhe sim. Amália sai e não consegue deixar de sentir uma certa vontade de sorrir em seu peito. Ela bate na porta do quarto do seu pai que diz: - Entre. Amália: - Papai, o senhor Lúcio quer conversar detalhes do casamento com o senhor. Nicolau está surpreso com a docilidade de sua rebelde filha. Ele levanta-se animado, dizendo: - Vá para seu quarto, que converso com ele. Amália sem dizer nada faz sim com a cabeça. Nicolau olha para a sua esposa e diz: - Vejo que menosprezei a capacidade do jovem Lúcio de domar nossa filha. Ele já está conseguindo. A invejosa esposa finge estar feliz, embora morrendo de ciúmes e diz: - Que bom, meu querido. Ele sai e ela fala sozinha: - Também com esse homem lindo quem não se renderia? - fala com malícia no olhar.O que tinha de sobra era ciúmes.

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