Bruna narrando
Meu nome é Bruna, sou da Rocinha e tenho 19 anos.
Tenho olhos azuis, cabelo preto que desce até a b***a, 1,60m de altura. Sou calma, doce, na minha. Sempre fui assim. Moro sozinha, me viro em tudo, não sou muito de sair. Meu foco agora é o meu curso e o trabalho no bar da Dona Graça. Ela é um amor de pessoa, praticamente uma mãe pra mim. Ela é mãe do Lucas.
Sou amiga do Lucas desde pequena. Hoje, ele tá no crime. Sub do Tucano. O homem mais temido do morro.
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Quando terminou o curso, Camila me chamou pra ir até a casa dela. A casa era grande, bonita. Mas tinha um detalhe que eu não sabia: Camila é irmã do Tucano.
O Tucano.
Já ouvi falar dele. Muito.
O homem mais temido do morro, dono da Rocinha. Frio, c***l, sem piedade. Dizem que nunca teve fiel, que mulher nenhuma se prende a ele. Mas também, quem teria coragem?
Tava tranquila até ele chegar.
Do nada, senti aquele cheiro forte, amadeirado. Quando percebi, ele já tava em cima de mim.
Respirei fundo.
A arma na mão dele.
A voz grossa.
Os olhos sombrios.
Meu peito subiu, meu corpo inteiro ficou tenso. Medo? Claro que sim. Mas não demonstrei.
Camila apareceu na hora, mandando ele me soltar.
Eu só agradeci a Camila pelo trabalho do curso, peguei minhas coisas e saí. Sem olhar pra ele. Sem dar brecha pra nada.
Quando cheguei em casa, fechei a porta e encostei nela.
Minha respiração ofegante.
O cheiro dele ainda na minha pele.
As horas passaram rápido. Já tava na hora de ir trabalhar. Hoje ia ter pagode, então o bar ia lotar.
Me arrumei. Vesti um short curto, uma blusa branca simples e coloquei por dentro do short, ajustando com um cinto. Passei uma make leve, perfume e peguei minha bolsa.
Quando cheguei no bar, comecei a organizar as coisas. Dona Graça tava focada na cozinha, enquanto eu e Sofia já távamos na ativa, atendendo as mesas. O bar enchia cada vez mais, o som do pagode começando a tocar.
E foi aí que senti.
Uma presença forte.
Pesada.
Olhei de canto e vi ele. Tucano.
Ele entrou no bar como se fosse dono do lugar. E todo mundo olhou.
Ele passou pelos caras, fez toque com alguns, olhou pros lados. E então parou em mim.
Me olhou de cima a baixo.
Sem desviar.
O olhar dele queimava, intenso, pesado.
Senti meu rosto ficar vermelho. Desviei o olhar na hora, tentando me concentrar em outra coisa, mas já era tarde.
Meu corpo inteiro sentiu.
Sofia se aproximou rápido, rindo baixinho.
— Amiga, Tucano só quer ser atendido por você.
Meu Deus.
Senti meu coração acelerar na hora. Fingi que não ouvi. Continuei anotando o pedido da mesa como se nada tivesse acontecido, mas Sofia encostou no meu braço, me olhando com um sorrisinho.
— Bruna, ele tá te esperando.
Respirei fundo.
Me virei devagar e lá estava ele, sentado no fundo do bar, pernas abertas, corpo largado na cadeira, cigarro entre os dedos e os olhos fixos em mim.
Engoli seco.
Peguei o bloquinho e fui, tentando manter a pose.
Quando cheguei na mesa, ele deu um gole na cerveja, sem tirar os olhos de mim.
— Demorou, hein? — A voz dele saiu baixa, rouca.
Segurei firme a caneta, fingindo indiferença.
— O que vai querer?
Um sorrisinho de canto apareceu nos lábios dele.
— Já tenho o que eu quero.
Meu estômago revirou.
Olhei pra ele, séria.
— Se for pra ficar de gracinha, não tenho tempo.
Ele riu baixinho, negando com a cabeça.
— Calma, braba. Me traz outra cerveja.
Anotei e virei as costas rápido, antes que ele pudesse falar mais alguma coisa.
Mas eu sabia. Sentia.
O olhar dele tava grudado em mim.
Caminhei até a mesa com a bandeja nas mãos, tentando ignorar os olhares pesados sobre mim. O bar estava lotado, o pagode animado, mas eu só sentia a presença dele. Tucano.
Desde que chegou, não tirou os olhos de mim.
Meu corpo inteiro parecia em alerta, uma mistura de nervosismo e algo que eu não queria admitir.
Mas então, no meio do caminho, senti.
Uma mão asquerosa, atrevida, bateu na minha b***a.
O choque veio primeiro.
O nojo veio em seguida.
Eu ia virar, ia gritar, xingar, fazer alguma coisa—
PAH!
O som do tiro rasgou o bar.
Minha bandeja caiu, as garrafas se espatifaram no chão.
O homem que me tocou estava caído, o sangue se espalhando pelo piso.
Meu coração disparou como se quisesse rasgar meu peito.
Levantei os olhos devagar.
Tucano.
Ele ainda segurava a arma.
O dedo no gatilho.
O olhar gelado, sem um pingo de arrependimento.
O bar inteiro estava em silêncio. Todos sabiam o que acontecia com quem desrespeitava o dono da Rocinha.
A única voz que se fez ouvir foi a dele.
— Encosta nela de novo no inferno.
Minha respiração estava travada.
Ninguém se mexia.
Ninguém ousava contrariá-lo.
Eu também não.