MANUELA NARRANDO
Três dias se passaram desde a conversa com o pesadelo e, a única coisa que eu venho fazendo é comprando coisas. Cozinhando. E chorando porque eu sei que o pior da minha vida eu vou viver.
Achei que a perda dos meus pais tão nova, ter que me virar sozinha, me alimentar, me sustentar desde os quinze anos, foi a pior fase da minha vida..., mas não, eu ainda tenho algo horrível para viver e eu não tenho o que fazer e nem como fugir disso.
Se tentei? Eu cheguei a pensar. Mas desde que eu voltei para o morro, tem cinco vapores na minha porta e, para onde eu vou, eles vão atras.
Eu comprei as roupas que terror mandou. As comidas que ele pediu. Ontem de noite já vierem entregar as coisas que eu tenho que levar para ele... como dinheiro e drogas e, ainda bem que não me fizeram enfiar isso dentro de mim. E nem me fizeram engolir nada.
Falta alguns minutos para eu sair do morro e eu não preguei os olhos... na verdade eu não durmo desde que o meu celular tocou, com a pior ligação da minha vida.
Respiro fundo, tento segurar o choro, porque sei que se eu chorar vai ser ainda pior, isso se tem como ficar pior.
Coloco tudo nas sacolas que pode entrar e penso que eu gostaria muito que me pegassem na revista. Assim, dessa forma. Eu não teria que passar nas mãos dele. Antes presa do que ser violentada.
Escuto baterem na porta e quando mando entra por ela passa o piolho. Ele é um cara muito gente boa, se pudesse fazer algo por mim, tenho certeza eu faria. Mas ele não pode e eu entendo.
PIOLHO- tudo pronto? _ eu concordo e sinto as lagrimas descer, sem eu querer.
MANU- tudo... menos eu. _ ele me olhar e me dá uma abraço. Um abraço que me faz desmontar. Eu choro o que a anos eu precisa chorar. Anos sem uma abraço. Sem uma palavra de conforte. Sem um carinho e esse abraço significou tudo para mim.
PIOLHO- tenta ficar calma e Manu..._ ele me olha- não negue nada. Não tente resistir e não chora. _ eu o olho- sei que é difícil, mas se fizer isso. Ele vai te machucar ainda mais. _ eu respiro fundo e tento me acalma.
MANU- o que mais pode acontecer lá piolho? _ ele me olha.
PIOLHO- vamos para o carro e lá eu falo com você. _ concordo e ele vai pegando as sacolas. Eu pego meus documentos e o que preciso para apresentar lá e vou andando para fora da minha casa, trancando ela.
Viro de costas e caminho até o carro. Meu caminhar parece mais pesado. Um trajeto curto parece levar uma vida... uma vida que eu já não tenho mais. Uma vida, que está sendo tirada de mim, de uma forma devastadora.
Entro no carro e coloco o sinto. Vou no bando de trás. Porque segundo eles, o patrão disse que a “patroa” tem que andar no bando de trás. Comigo esta só o piolho. Eles sabem que eu não vou ter coragem de fazer nada e por isso só ele está indo comigo.
A descida até a entrada do morro, parece eterna, mas ao mesmo tempo chegar rápido. Parece que o tempo está a favor da minha desgraça. Passo pela barreira e sinto as lagrimas querer vir de novo. Mas eu seguro.
MANU- o que mais me espera piolho? _ pergunto com o coração apertado.
PIOLHO- Victor Morena. _ ele fala comigo e eu sorri. - Infelizmente. Se ele se irritar com tu em algo, ele pode te jogar para negócio. _ eu arregalo os meus olhos.
MANU- ele pode-me dar para outros homens. _ ele me olha pelo retrovisor e concorda.
PIOLHO- muitos mulheres vão lá dentro só para isso. E lá dentro elas senta para vários e recebe de vários. Outras são exclusivas e tem as casadas. _ eu sinto o meu coração acelerado. - Por isso eu falo. Sei que é difícil, mas tenta entrar na dele, para não ser pior. _ eu concordo.
MANU- eu achei que não tinha como ser pior. _ ele n**a.
PIOLHO- no mundo que vivemos. Sempre tem como ser pior. _ ele fala e a minha mente vai naquela ligação. Naquela voz e, na frase dele perguntando ‘onde eu estava.’ Eu senti e ainda sinto que aquele home, da voz firme, forte e autoritária seria a minha única salvação. Mas infelizmente, eu nunca vou saber quem ele é.
Piolho respeito o meu silencio e a minha mente carregada de pensamentos e fomos o caminho em silencio. Com a cabeça encostada na janela do carro a minha mente pensou, mil e uma coisas que eu poderia viver. Mas meus sonhos foram interrompidos, antes mesmo de eu começar a viver algum.
Sinto o meus olhos pesarem com o movimento do carro e vou pegando no sono.
[...]
PIOLHO- Manu.... _ escuto uma voz longe- Manu chegamos. _ ‘chegamos’. Essa frase me despertou como se me dessa um soco no estomago que embrulha e eu sinto vontade de vomitar.
MANU- já acordei. _ eu falo- desculpa. Não durmo a dias. _ ele n**a.
PIOLHO- não se desculpa. _ eu sorrio.
MANU- então o que eu faço agora? _ ele me olha.
PIOLHO- vão entrar de cinco e cinco. _ eu concordo. - Essa é a sua senha. _ ele me entrega o número dez e eu pego. - Eu vou ficar te esperando aqui fora. _ concordo.
MANU- até que horas eu vou ficar aqui? _ ele me olha. O dia ainda nem amanheceu.
PIOLHO- até as quatro. _ sinto um nó na minha garganta, porque da sete da manhã, as quatro da tarde. Eu posso viver de um tudo ai dentro.
MANU- então vamos lá. _ ele sai do carro. Eu faço o mesmo e ele pega as sacolas e me acompanha até a fila. Piolho me dá um beijo na testa e eu sorrio vendo ele entra no carro.
[...]
Na fila do presido, você vê de tudo. Escuta de tudo. E eu fiquei em choque com tantas coisas. Mulheres que se submetem a tantas coisas por homem... por dinheiro. E tem aqueles que vem ver o filho. O marido que não é bandido, mas fez o errado. Enfim. De todas a centenas de mulheres aqui. Eu acho que sou a única vivendo esse inferno.
Vejo o portão se abrir. E as cinco primeiras entram e sorrindo. Sinto meu peito apertar, as mãos soar e o medo de caio no chão dura é demais.
Vou caminhando e começam a revista tudo. Sinto uma mistura de medo e esperança. Medo de encontrarem as drogas. Esperança que elas encontrem.
CARCEREIRA- pode passar. _ esse pode passar quase acaba comigo. Vou para uma sala e começam a me revistar. Quando mandam eu tirar a roupa eu fico vermelha, o rosto esquenta e claro, muitas zoam comigo. Me chamando de santa do p*u oco. A santinha e disso pra coisas piores. - Pode ir. _ coloco a roupa rápido e quando eu saio eles me entregam a sacola, mas bagunçada. Mas tudo está ali.
Começo a caminhar por um longo corredor e meu coração aperta. A cada passo eu quero voltar e sair correndo.
Vejo de longe e nele duas carcereira e ninguém me avisou. Mas sei que quando eu passar dali, não tem mais volto.
Com as pernas tremendo eu vou andando e quando eu vou passar pelo portão eu sinto uma mão no ombro e eu só falto chorar pedindo a deus que me livre desse inferno.
Boa noite, AMORES. COMENTEM E VOTEM MUITO. EU VOLTO JÁ COM MAIS UM.
HOJE É O PRÉ LANÇAMENTO. ENTÃO TERÁ DIAS COM TRES CAPÍTULOS PARA MAIS E DIAS. COM MENOS, OU NÃO TERÁ POSTAGEM. A DATA DE LANÇAMENTO É DIA 15/12