THIAGO NARRANDO
Argentina, Hospital de Santa Cruz.
— Vai, Thiago, vai! — Thaís sussurrava baixinho.
Estamos em uma sala vazia do hospital, ela está de costas para mim, apoiada em pé na parede. Ela geme enquanto eu meto nela, casa vez mais forte.
— Gosta disso, não gosta, sua safada? — Falei perto de seu ouvido. Ela gemia e empinava mais a bundaa para mim.
— Sim, sim! — Disse.
— Geme meu nome, vagabunda. — Falei. Eu segurava o cabelo dela com força e a arrastei por eles, a levando até a maca e a fazendo se ajeitar ali. Ela estava de costas para mim, com o tronco deitado em cima da maca. Eu me empurrava, cada vez mais forte... Até que a ouvi gemendo alto demais.
A puxei pelo cabelo para que ficasse em pé novamente. Tampei a boca dela com a mão livre e ela gemeu, agora de forma abafada. Ela havia acabado de chegar em seu ápice e eu fiz o mesmo.
Nós estávamos parcialmente vestidos. Thaís estava de jaleco, com a blusa aberta e a calça abaixada. Eu estava com meu jaleco também, apenas com a calça abaixada. Eu tirei a camisinha e dei um nó, jogando no lixo, para logo depois ajeitar minhas roupas.
— Preciso voltar para o atendimento. — Falei para Thais e ela concordou.
— Eu sei. — Ela ajeitava a roupa como eu. — Eu quero você de novo. De preferência, fora do hospital. — Thaís veio em minha direção e apoiou as duas mãos em meu peitoral. Eu peguei as duas e gentilmente tirei de meu peito.
— Quer ser fodida de novo? Me diga quando e onde. Mas não pense que vou te levar para jantar... Ou coisa do tipo. Eu não sou esse tipo de homem, Thaís.
— Eu sei, Thiago. Já sei da tua fama aqui no hospital. — Ela estava amarrando o cabelo loiro em um coque. — Quem sabe eu te ligue para marcarmos... Algo? — Sorri de forma maliciosa, pisquei um dos olhos e saí da sala sem responder.
Tirei o estetoscópio do bolso e o pendurei no pescoço. Eu andava pelo corredor do hospital, e logo entrei no meu consultório. Ainda não estava no meu horário de atendimento, sempre chego mais cedo para não perder a hora... E para dar uma rapidinha com a Thaís, ou com a Rosa, ou com a Isabel. Tanto faz. As três são extremamente gostosas.
Eu estava sentado na minha mesa e comecei a atender. Um, dois, três pacientes. Depois de alguns anos no hospital, as pessoas não são pessoas, são números. Algumas acabam se tornando inesquecíveis, mas a maioria entra nas estatísticas: Curados e não curados, internações e pacientes de alta, UTI ou observação. Os únicos que não entram nas estatísticas são aqueles que não salvamos...
Eu lembro dos três que não consegui, até hoje. Um homem, fratura exposta na coluna, caminhoneiro.
Uma mulher, entrou em trabalho de parto, o bebê não virou. O ginecologista não estava, eu tive que ajudar no parto, ela precisava de uma cesárea de urgência... O médico ficou preso no engarrafamento e eu usei um fórceps para tirar o bebê. O bebê se salvou, mas a mãe fez tanta força que um coágulo se soltou de algum lugar e foi para o pulmão. Foi fatal.
E por último, a pequena Rosalinda. Atropelamento. Eu não consegui salvá-la, mas acho que ninguém conseguiria.
Depois de atender três gripados e uma mulher que queria uma receita de paracetamol com codeína, Isabel entrou na sala com cara de preocupada.
— Thiago, sua mãe está aqui. Está tentando falar com você faz um tempo, como não conseguiu... — Eu fiquei surpreso. Minha mãe nunca fez isso.
Saí do hospital e vi minha mãe chorando, logo fui até ela.
— Filho! — Ela veio até mim e me abraçou.
— Pelo amor de Deus, o que aconteceu?
— O seu pai está sumido faz um ano, e agora eu sei o motivo.
— Ele foi preso, não foi? — Ela negou com a cabeça.
— Não, filho. Ele foi morto. — Arregalei meus olhos e a soltei do abraço.
— Como você ficou sabendo? — Ela respirou fundo e limpou os olhos.
— Eu trouxe pra você. — Ela tirou um papel do bolso. Era uma coluna no jornal falando sobre a favela Santa Cruz, onde meu pai era o dono.
O título da matéria era o seguinte: "O que aconteceu com Santa Cruz após um ano da morte de Latino?"
Meu mundo caiu naquela hora. Meu pai, a pessoa que mais me apoiou na vida, estava morto há um ano e eu sequer sabia. Achávamos que ele estava preso, aconteceu alguns anos atrás, ele ficou um tempo sem falar com a gente e depois voltou. Somos o segredo mais bem guardado de Latino...
— Eu vou pro Brasil.
— Você está louco, Thiago? — Neguei com a cabeça.
— Eu vou pro Brasil.
— Não, você não vai. — Eu saí andando em direção ao hospital.
Precisava pegar minhas coisas, precisava fazer o que meu coração mandava, por mais que parecesse i****a. Minha mãe ficou do lado de fora, chorando.
Entrei no RH e coloquei meu crachá na mesa.
— O que é isso, Thiago? — O rapaz disse.
— Eu me demito. — Ele arregalou os olhos.
— Você está louco, Thiago? Você é um dos melhores médicos do hospital! — Eu suspirei.
— Estou indo embora do país. Quer que eu escreva "me demito" por escrito ou você vai respeitar minha decisão?
O rapaz ficou em silêncio. Concordou com a cabeça, após ter sido tratado com tanta firmeza. Eu peguei minhas coisas na minha sala e saí do hospital, sem me despedir de ninguém.
— Filho? Filho! — Minha mãe veio correndo atrás de mim, enquanto eu guardava as coisas no carro.
— Mãe, não adianta você me impedir. Você sabe que eu me envolveria nisso uma hora ou outra. Por que você acha que o pai me treinou para todo tipo de situação? Para eu ficar escondido atrás de um jaleco de médico para sempre?
— Filho, esqueça isso. Eu estou tão triste quanto você, mas precisamos agir com calma e... Já faz um ano. O que você vai mudar?
— Eu vou vingar a morte do meu pai. O morro é meu, de qualquer forma. Ele sempre disse que eu era o herdeiro dele, não disse? É meu legado. Então, mãe... — Ela suspirou.
— Você tem a vida tão... Boa, Thiago. Você não precisa disso.
— Temos essa vida porque meu pai bancou a gente a vida toda. Acha que vou ser ingrato o suficiente para não enfiar uma arma na cara do i*****l que o matou? Eu sou o que sou por causa dele, mãe.
— Eu estou com medo de te perder também! — Disse, chorosa. Eu fechei a porta do carro e a abracei.
— Eu não vou morrer. Tenha paciência... Eu vou mandar notícias para você, te prometo.
— Eu já sei que você é cabeça dura como seu pai. Não há o que dizer para que você fique. — Eu a soltei do abraço e entrei no carro.
— Que bom que você sabe. Até breve, mãe.
Eu fui embora sem olhar para trás.
No avião, eu lia a reportagem por completo, e as coisas só pioravam: O novo dono do morro tem o vulgo de Montanha e é um verdadeiro monstro. Tem comandado tudo com extrema violência. As pessoas tem medo dele porque ele resolve tudo na base da bala... Bem diferente do meu pai.
Mas eu sei como entrar no morro. Eu sou médico, e os lugares de pronto atendimento dentro dos morros sempre precisam de médicos. É pra lá que eu vou.
Lembrei de quando meu pai falava da favela Santa Cruz. Ele falava com amor, como se o "povo dele" fossem seus familiares. Diferente do meu jeito de tratar os pacientes, considerando todos apenas números... Meu pai sabia o nome de cada um daquele morro, sabia suas histórias, seus problemas. Tentava ajudar da forma que podia... E tudo isso só me fazia admirá-lo mais.
Como eu posso deixar a morte dele impune? Como?
Eu não posso. Não vendo o que as pessoas estão sofrendo com sua morte, nem sabendo as condições nas quais morreu. Queimaram meu pai vivo para conseguir poder...
Esse montanha vai sofrer na minha mão. E sua família também, porque com a morte do meu pai, eu e minha mãe estamos sofrendo.