Lembranças de um passado condenado.

3391 Words
Depois de despistar o inimigo para que a companheira pudesse fugir, o rapaz de madeixas azuladas se livrou da criatura que tanto odiava e voltou para procurar a garota que acreditava ser a sua salvação. Encontrou-a fraca e desfalecida, próxima a um pedra coberta de sangue e se aproximou no intuito de chamar-lhe a atenção. A situação da menina não era das melhores, ela precisava de cuidados o mais rápido possível! O garoto tomou-a em seus braços e aproveitou-se da pouca luz que ainda restava para retornar à vila. Chegando lá, ordenou a um dos soldados que a levasse até sua casa e pedisse a sua mãe para que tratasse os seus ferimentos. Ele permaneceu, contudo, na entrada do povoado para supervisionar e complementar a linha de frente de formação da barreira. Realizou a sua última tarefa diária, tendo a certeza de que o seu povo ficaria bem por mais uma noite e deixou instruções ao capitão e aos plantonistas antes de partir. Caminhou vagarosamente até sua casa, repassando todos os acontecimentos daquele dia corrido e encontrou sua mãe na porta, preocupada e confusa, em buscas de respostas. Três dias se passaram, desde então, e a jovem forasteira ainda não havia despertado. O choque contra a pedra, além de forte, fez com que ela perdesse muito sangue, deixando-a debilitada. A morena repousava confortavelmente na cama de mogno escuro e acolchoado, exibindo um semblante sereno apesar da última experiência traumática. Ao seu lado, o rapaz de expressão séria, velava seu sono. Rui observa cada traço da donzela adormecida, tentando compará-la aos seres mitológicos de suas lendas, todavia, nada do que conhecia se equiparava. Não tivera muito tempo nos últimos dias para visitá-la, mas sempre que fazia uma pausa, a imagem da mesma lhe ocupava a mente. Há quinze anos, dentre os Guardiões Lendários do reino, um ancião cuja vida estava prestes a ser levada, teve uma visão onde uma jovem guerreira foi revelada. Ele abusou da pouca força que ainda lhe restava para anotar as palavras repetidas no sonho e pediu a um de seus companheiros, que entregasse o pergaminho selado ao rei. A profecia não demorou a se espalhar pela boca do povo e após a morte do escriba e de seu governante, tudo o que lhes restaram, foi acreditar. Os cidadãos aguardaram por anos à vinda de uma divindade. Alguém forte, sábia, perspicaz e com grande senso de justiça, sendo assim, não pôde controlar a surpresa ao encontrar aquela garota fraca e amedrontada vagueando pela floresta. Não que a moça em sua cama fosse estranha, muito pelo contrário. A pele escura em contraste com os lençóis perolados, os cabelos encaracolados espalhados pelo travesseiro e os olhos amendoados livres da armação metálica, atribuíam à ela uma beleza natural e incomum, algo que realmente o agradava. No entanto, como o bom líder que deveria ser, o rapaz prezava por confiança e inteligência acima da beleza exterior, algo que ele já havia comprovado nos poucos minutos em que passaram juntos, que a mesma não possuía. A única habilidade que havia atiçado o seu interesse, foi a agilidade da menor ao fugir do inimigo. Entretanto, aquele ainda era um ponto a questionar, visto que o medo poderia ser um ótimo estimulante. O rapaz se levantou um tanto entediado e caminhou até a janela, apreciando a bela paisagem. Ele agiu rápido na floresta ao pegar a garota e levá-la para a vila, tinha quase certeza de que ela era a guerreira prometida, sentiu em seu coração assim que a viu pela primeira vez; contudo, mesmo que ela fosse apenas uma pessoa perdida, não era do seu feitio abandonar um ferido à sua sorte, principalmente uma mulher. Tratar de seu ferimento não foi nada fácil. Arabella teve o maior trabalho para localizar o corte devido à cabeleira rebelde. Felizmente, tudo terminou bem. Rui suspirou, massageando as têmporas e baixou o olhar, avistando alguns aldeões que passavam pelo caminho. Os cidadãos se curvaram demonstrando respeito e ele retribuiu a cordialidade com um aceno e um sorriso leve. Voltou a observar a floresta abundante que, por muito tempo, pertenceu ao seu reino, mas se deixou deprimir ao fitar a barreira que a separava da vila. O guerreiro não conseguia ocultar a expressão abatida ao se lembrar do motivo de viverem isolados e agradeceu pela estrangeira não estar acordada para presenciar a sua fraqueza. Desviou o olhar com os pensamentos a milhões e em um momento de fragilidade , se recordou dos tempos passados e seu falecido pai. [...] Por muitos anos, os cidadãos de Silver duelaram entre si. O motivo era fútil e ocasionou em milhares de mortes. Não eram um povo tão pacífico quanto os demais explanavam, pelo menos não mais. A ambição pelo poder destruía aos poucos o reino rodeado por jazidas de prata e os denominados elfos já não sabiam mais o que era viver em harmonia. Pelo mundo à fora, lendas começaram a se espalharam sobre os Silverianos e sua cultura. Carregavam furos e informações fragmentadas, ousava dizer, que até mesmo mentirosas, mas era melhor assim! Diversos elementos significativos sobre a comunidade élfica — como o fato de cada fêmea possuír uma essência respectiva para atrair o seu parceiro ideal — foram mantidos a salvo. Informações cruciais como a obrigação dos machos de treinarem desde pequenos para se tornarem grandes guerreiros, também foram camufladas em meio aos contos divergentes disseminados aqui e ali. Contudo, nada superava o segredo mais valoroso dentre os elfos. O segredo que era a chave para o fim da guerra naquela, e em qualquer outra época. O Sábio do Destino! Sendo uma variante super rara da espécie, o Sábio do Destino é um elfo singular nascido com asas, cuja função é alertar os Silverianos de um grandioso evento prestes a acontecer — seja ele bom ou r**m. Às asas de um Sábio não são comuns como as de um pássaro ou inseto. Se equipara às de um anjo por sua força indescritível e brilho próprio, no entanto, o que diferencia ambos os seres é a capacidade de um anjo ocultar suas asas, enquanto o elfo não possuí essa proeza. Por ser considerado um vidente, o Sábio é reconhecido como a reencarnação de um antigo rei e, por conseguinte, consagrado líder. É possível que um Sábio do Destino, nasça após meses ou milênios, afinal a chegada de catástrofes e milagres não é algo muito comum. Naquele ano, porém, tudo mudaria... Em meio as contendas, um pequeno Sábio nasceu. O garotinho era tão brando que, assim que foi exposto ao mundo pela primeira vez, abriu os olhinhos e bateu as asinhas brilhantes ao invés de chorar. Seu nome era Rui e ele foi o maior presente para os pais, que estavam preocupados desde o início com a gestação. A criança de olhos cinzentos e cabelo azulado, sorria para a própria sombra e quem a olhasse de perto, diria que ela poderia purificar o mundo apenas com a sua alegria. O nascimento do novo Sábio, trouxe certa agitação ao reino dos elfos e as batalhas cessaram, enquanto aqueles que lutavam se reuniam para discutir tratados que garantiriam a paz até que o garoto atingisse a maioridade. Infelizmente, alguns rebeldes se revoltaram com as origens do novo rei e, para evitar a violência, a família do escolhido propôs a divisão do reino em vilarejos, onde aqueles que não quisessem seguir às ordens do Sábio, poderiam viver livremente, desde que a guerra fosse extinta. Assim foi feito. Várias repúblicas foram criadas, cada qual com o seu líder e no antigo reino, somente os fiéis à família Sallow e aos costumes tradicionalistas, permaneceram. Cinco anos se passaram e uma profecia foi revelada. Amis — o pai de Rui e líder temporário do reino de Silver — divulgou imediatamente as palavras deixadas pelo ancião. A profecia se espalhou não só pelo povoado, mas também pelas subdivisões. Os versos abençoados ficaram tão famosos, que até mesmos cantigas sobre o tema, foram criadas. "Dos céus um presente lhes será enviado E o m*l, por fim, há de ser ceifado. Quando a guerreira da luz, sua espada empunhar A paz em Silver, voltará a reinar" A nação vibrava de alegria e as especulações sobre esse ser o acontecimento marcante que o Sábio veio atestar, logo se alastraram. O pequeno Sallow também achava que sua missão era lutar ao lado da bela guerreira (seja lá contra o quê fosse) e juntos, governarem Silver com justiça e serenidade. Uma pena que a vida o tenha ensinado da pior forma, o quão injusto e c***l o mundo poderia ser... Com apenas quatro anos de idade, o futuro rei não entendia o motivo de seu pai partir a cada dois meses para uma reunião com os outros líderes. Era um garotinho curioso e empolgado, porém obediente. Não se intrometia nos assuntos do mais velho, principalmente sabendo que ele sempre voltava. O pequeno Rui se despediu da mãe e correu para brincar com seus melhores amigos na entrada da floresta. Os mais velhos sempre os pediam para manter distância já que não sabiam caçar, mas não havia problemas em se divertir em uma área mais aberta, desde que não adentrassem o matagal... Ao menos era isso o que seus amigos pensavam. Por conta de suas asas, muitos elfos se sentiam inferiores e indignos e mantinham distância de si. Devido a isso, o garoto estava sempre inseguro. Ele fazia de tudo para agir e andar como um elfo comum e, apesar de normalmente não gostar de quebrar as regras, o fazia de bom grado por seus amigos. Não queria perder as únicas pessoas que o tratavam como igual. A noite já se aproximava quando eles decidiram voltar para casa. Valentim sugeriu um último passe, ao qual Christopher se empolgou. O chute acabou sendo mais forte do que o esperado, ao ponto da bola passar por cima de Val e ir parar no meio da floresta. O garotinho de madeixas rosadas entrou em desespero ao perceber que perdera o brinquedo de seu irmão e desatou a chorar, sendo amparado por Drago e Valentim. — O Greg vai me matar... a mamãe vai brigar comigo! — Lamentava o menino com o rosto coberto de lágrimas. Drago e Valentim tentavam confortar o menino a todo custo, dizendo que seu irmão era compreensivo, mas ele não lhes dava ouvidos... Só se acalmou ao ouvir de Rui que ele buscaria a bola. Os maiores tentaram o impedir, citando o escuro e sua idade, mas ele levantou vôo, antes mesmo que terminassem. O azulado voou em direção a floresta, usando o brilho de suas asas para iluminar o caminho e assim que visualizou o objeto que procurava, pousou para pegá-lo. Ergueu-se com um sorriso, girando a bola nas mãos mas ao olhar para o lado, seu sorriso murchou, acompanhado do alvoraçar de suas asas. Embora fosse curioso, um arrepio intenso percorreu pelo seu corpo ao encarar a entrada obscura da caverna à poucos metros de distância. O menino voltou a planar, apertando a bola contra si e fugiu pelo mesmo caminho ao qual entrou. Estava prestes a deixar a floresta, quando um grunhido alto e horripilante ecoou às suas costas, ao mesmo tempo que uma pedra pesada passava de raspão pelo seu rosto, atingindo uma árvore. O garotinho se escondeu atrás da mesma assustado e apertou mais ainda a bola, temendo estourá-la no processo. Aquela foi a primeira vez que o jovem elfo se encontrou com o seu maior inimigo. [...] — Rui? O jovem distraído se virou ao ouvir a voz suave de sua mãe e um leve sorriso se esboçou em seu lábios. — Estou aqui! — Respondeu com tranquilidade, se encaminhando até a porta, onde a mais velha estava. — Algum problema? — Eu só estou preocupada, meu filho. Você não almoçou por conta das tarefas e desde que chegou, não comeu nada... — A mulher de olhar gentil, segurou o rosto do filho entre suas mãos, em um gesto carinhoso. — Sei que você é muito responsável e trabalhador, mas precisa se alimentar e descansar se quiser manter suas forças. — Sorriu leve, se afastando. — Vá lanchar alguma coisa, eu cuido dela até você voltar. — A senhora tem certeza? — Perguntou receoso. Na sua ausência, a mais velha é quem estava tomando conta da estrangeira e mesmo que ele acreditasse na boa índole da jovem adormecida, ainda não sabiam como ela reagiria ao acordar. Arabella assentiu, empurrando o filho para fora do quarto e ocupou a banqueta vazia ao lado da cama. O azulado suspirou, negando com a cabeça pelo gênio de sua amada mãe e seguiu até a cozinha. Lembrar-se do passado sempre esgotava sua energia... Talvez um pouco de suco e pão com queijo fossem suficientes para ajudar a clarear sua mente e tapear seu estômago vazio. Comeu com ganas, m*l se dando conta do quanto estava faminto e ao terminar, voltou para o quarto. O semblante mais corado e o corpo mais disposto. Observou sua mãe, ajeitando os lençóis sobre a menina e se aproximou com as mãos para trás. — Algum sinal? — Perguntou. — Nada ainda! — Negou a mulher para o seu descontentamento. Rui já mostrava indícios de estresse pela situação intrigante, mas sua natureza gentil o impedia de agir grosseiramente na frente de sua progenitora. — Vá descansar, a senhora ficou com ela o dia todo. — Beijou a testa da mais velha, a levantando — Se ela acordar, eu a avisarei! — Certo... Mas é melhor me avisar mesmo! — Replicou a senhora, se afastando alguns passos, antes de se dirigir novamente ao filho. — Estamos mais perto de concretizar a profecia do nunca. Em pouco tempo, estaremos todos salvos, pode confiar, meu menino! — Comentou convicta, deixando o cômodo. Rui ponderou, se aproximando da cama e retirou um dos cachos rebeldes do rostinho miúdo. — Espero que acorde logo... Precisamos descobrir de onde você é... — Murmurou pensativo, sentando-se na beira da cama. Restavam cerca de 5 horas até o anoitecer e o rapaz sabia que teria que partir ao encontro dos guardas para selar a barreira de p******o, antes disso. Apesar da correria, o azulado tinha esperanças de que a garota despertasse antes dele sair, ou pelo menos, naquele mesmo dia. Rui sempre foi um rapaz paciente e atencioso, mas já estava cansado de esperar sem receber nenhum retorno. Precisava saber se aquela menina possuía alguma ligação com a Guerreira Celestial e ter a certeza de que o seu nascimento marcava uma era de paz e não de angústia... Ter certeza de que seu pai não partiu em vão... Sim... O garoto perdeu o homem a quem mais admirava e se culpava pelo ocorrido. Sempre achou que se não houvesse nascido, muitas coisas teriam acontecido de forma diferente. Quiçá muitas vidas fossem poupadas, o reino ainda estaria de pé e sua família estaria completa. Ajeitou-se na cama com os cotovelos apoiados nos joelhos e debruçou contra suas pernas, guiando uma das mãos até os fios longos, penteando-os com os dedos. Alcançou a capa avermelhada que descansava em seus ombros e a apertou com afinco. A capa preferida de seu falecido pai... [...] O garotinho se arrependera amargamente por ter entrado na floresta. O cheiro pútrido e o grunhido assustador, perturbavam a mente infantil. Ele poderia ter permanecido em seu esconderijo ou pensado em uma forma de fugir sem ser descoberto, mas era apenas uma criança pura e inocente. Estratégias de fuga passavam longe de seus estudos. Como o ser curioso que era, ousou olhar para o dono daquele grunhido assustador. Seus olhos se arregalaram e suas asas brilharam ainda mais, denunciando as emoções instáveis. Criatura bípede de garras afiadas; dentes vorazes, capazes de rasgar até o material mais espesso e dois riscos gigantescos, marcando o centro de sua face. Para uma criança, encontrar um monstro como aquele, foi mais que traumatizante. O pequeno entrou em estado de choque, não conseguindo falar ou se mover. A bola enlameada que representava sua boa ação, se transformou em sua destruição quando sem forças para sustentar o objeto, o mesmo caiu de suas mãos, quicando algumas vezes no chão. O barulho causado pelo brinquedo foi mínimo e o garotinho agradeceu pelo monstro não possuir olhos e nem ouvidos. Péssima hora para subestimá-lo. Já era tarde quando o menino se deu conta que os riscos no rosto daquela criatura, eram na verdade ouvidos e não narinas. O monstro estava à poucos metros de distância e desesperado, o pequeno começou a voar o mais rápido que conseguia. O Sábio descobriu mais um detalhe impactante sobre a fisionomia daquela fera em sua fuga, a destra que foi estendida em sua direção afim de agarrá-lo, possuía um glóbulo ocular ainda mais macabro que a sua aparência geral. Esclera amarelada, íris rubra como o sangue e pupilas finas como as de um réptil. Aquele foi o limite para o menino que só queria o abraço aconchegante de sua mãe. Tentou despistar a b***a sem face para voltar ao reino com segurança e avisar aos demais, mas não possuía preparo físico para isso. Com um golpe certeiro, a criatura agarrou o pequeno elfo de asas cintilantes e o apertou entre os dedos esguios, gritando a todos pulmões — se é que aquilo poderia ser chamado de grito. O garotinho se debatia aos prantos, tentando encontrar um meio de se soltar enquanto chamava por seus pais. Achou que havia conseguido uma brecha quando a criatura afrouxou seu aperto, mas o alívio passou tão rápido quanto a dor cruciante que tomou conta de seu corpo ao ter aquilo que o tornava o símbolo de toda o reino arrancado de si sem piedade. O que aconteceu a seguir foi tudo um borrão. Seu corpo ensanguentado caiu desfalecido na grama ressecada, gritos desesperados foram ouvidos a distância e antes de se entregar ao mundo das sombras, Rui pôde ver a silhueta monstruosa despencando no chão, acompanhado da imagem distorcida a de seu pai. Naquela noite, os moradores de Silver partiram para um local afastado, abandonando suas casas e levando apenas o que era valioso e necessário. O garotinho que acreditava estar morto, acordou dois meses depois no novo abrigo. Duas cicatrizes horrendas marcavam suas costas e o semblante inocente que ele possuía, deu lugar a um olhar destruído. Ele descobriu que a criatura que o atacara foi assassinada, mas que eles tiveram que deixar o reino por precaução. Sua mãe, apesar de abatida, não lhe contou nada sobre a ausência de seu pai para evitar mais sofrimento... Porém o pequeno sabia bem o que havia acontecido. Os demais elfos perderam suas casas naquela noite, mas Rui perdeu algo muito mais especial. Suas asas, seu orgulho e o mais importante: seu pai! O carniçal desconhecido foi batizado como Inferus pelo garoto de madeixas azuladas e alguns guerreiros partiram para avisar as demais divisões sobre o perigo. Poucas semanas depois, os cidadãos vieram a descobrir que apenas dois dos vilarejos restaram. O deles e o liderado pela família Rich. Mais de 60% dos Silverianos foram dizimados pelo monstro sem face. [...] Rui trincou os dentes, apertando o tecido escarlate como se aquilo pudesse livrá-lo de seus erros e grunhiu, semicerrando os olhos. Se pudesse voltar no tempo, teria feito tudo diferente. Arranjaria formas de confortar seu amigo sem precisar procurar por aquela maldita bola; obedeceria sua mãe, mesmo que isso o afastasse de seus melhores amigos e aproveitaria melhor o tempo com o seu pai, para que quando ele partisse, não se sentisse tão culpado e vazio... A capa feita de algodão, de repente se tornou um fardo pesado. O aperto sobre seu ombro se intensificou de forma absurda e com toda certeza, a marca dos dedos compridos já carimbavam sua pele. O garoto precisava parar de agir assim sempre que as lembranças o assolavam... O que estava no passado, morreria com o passado. Nada mais importava. Afrouxou o aperto em seu ombro, endireitando a postura e inspirou profundamente, a fim de acalmar os seus pensamentos. Precisava de algo com o que se distrair e relaxar, por sorte a solução estava mais próxima do que imaginava. Movimentos na cama lhe chamaram a atenção e observando melhor, Rui percebeu do que se tratava. Levantou-se em um sobressalto e caminhou até a porta para falar com sua mãe. A bela misteriosa, finalmente, havia despertado.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD