Olhei para o espelho embutido na porta do armário e passei a mão pelo cabelo. Eu estava bem, havia feito a barba, mas o cabelo já estava até bem grande. Não gostava de cabelo grande.
Eu era alto, cabelo grande não ficava legal.
Hoje eu estava ligando para minha aparência, de alguma forma isso afetava o dia de hoje, mesmo que fosse pra ir pra escola, era importante eu estar bem.
Arrumei a gola da camiseta pólo preta e peguei a mochila.
– Você sempre foi um bom aluno, vai dar certo – Quem eu quero enganar? Eu mesmo né. Eu sempre fui péssimo na escola, a escola me recebia porque recebia pra isso. Mas eu bom aluno? Impossível.
Até dei um sorriso, de satisfação de estar tentando algo novo.
Abri a porta do quarto e desci direto para sala, onde Alex me esperava. Assim que comecei a descer a escada a voz dele mais uma vez me atingiu. Eles tinham que parar de falar de mim.
A casa era ampla e eu ouvia muita coisa.
– Ele demorou três horas e meia pra tirar leite de quatro vacas, derrubar um balde de leite na própria calça.
Eu fechei o pequeno sorriso que eu tinha no rosto e fiquei sério. Minha mão ficou dura depois que tirei o leite, fiquei também cheirando a leite. E agora escuto isso?!
Eu tentei fazer o meu melhor durante essa semana.
Respiro fundo e termino de descer de uma vez as escadas.
E quando o olhar de Alex me atinge eu ignoro, nossa relação estava conturbada e eu não queria piorar ainda mais minha situação com ele, estava ótimo se ele parasse de falar comigo e tirasse o meu nome da boca.
– Já estou pronto – Falei e ele se levantou, estava usando uma camiseta branca e tinha a mochila no ombro. Parecia que tinha voltado ao passado. – Te espero lá de fora.
Saio pra fora e desço as escadas da varanda e paro do lado do carro, eu sabia que era dele por que fui eu que ajudei meu pai a escolher ano passado.
E também só tinha o outro da mamãe. E pensar que o meu estava no ferro velho. Virou sucata. Assim que ele desceu as escadas, ele rodou as chaves no dedo.
Segui ele até estar no carro.
Estava fechando a porta quando ele estava, colocando o carro em movimento.
Ele não pegou a estrada que levava pra saída.
– Que estrada é essa? – Perguntei.
– Não lembra?
– Lembro Alex, mas a gente não vai pra escola? m***r aula?
– Tenho que passar na casa de Sam, ela estuda comigo também – Por um segundo fiquei calado.
– Ela é a sua amiga? – Ele apenas balançou a cabeça.
– Ela estuda comigo.
Por outro lado, se ela estudasse com Alex, ela também seria minha coleguinha. Olha que maravilha. Pelo menos tinha duas cara conhecida pra mim.
– Desde quando conhece essa garota? – Pergunte.
– Conheci quando o tio dela veio trabalhar, o capataz.
– Medina, o capataz? – Ele balançou a cabeça. – Então a garota mora na fazenda?
Sorri.
– Sim. – O carro parou e Alex saiu, baixei a janela e vi ele ir pra varanda da casa, a casa havia sido reformada, mas só as pinturas e tinha hoje um jardim com algumas plantas, entre elas flores coloridas.
A garota apareceu e logo deu um sorriso para Alex e começou a caminhar de volta para o carro.Ah, doce menina que estava com uma blusa verde de alças e uma calça jeans clara.
Eu prefiro ela assim. Eu gosto das curvas dela.
Mas, como é lei aqui, eu não gosto de nada. Acho que já disse isso mas ela é uma miúda bonita. Alex fez questão de abrir a porta de trás para a garota.
E não pude deixar de notar a animação dos dois. Assim que a garota entrou eu a acompanhei pelo retrovisor.
– Oi – A voz dela saiu calma e eu acenei pelo retrovisor. Dessa vez fui gentil e provavelmente, não quis a deixar com memórias do passado. Não queria que Alex me deixasse no caminho. – Alex, conseguiu pegar os formulário dos animais, temos que dar baixa nos que vão entrar, o mais rápido possível para poder passar por todos os exames e teste, e você sabe como vai demorar.
– Primeiro estão sendo os animais?
– Sim, o que deixa você com praticamente nove meses para arrumar tudo.
– Samantha, não vamos falar disso – Eu olhei para Alex, que me olhou de volta sério. – Coloca o cinto.
Eu obedeci. Mas nada deixou minha curiosidade em saber do que falavam.
Queria alguém para conversar.
Estava solitário.
– Que animais são esses que precisam de formulário? – Houve silêncio e ninguém me respondeu, coisa que me deixou bem chateado. – Sou tão r**m assim pra merecer o silêncio dos dois? Uau!
No restante da viagem não falei mais nada, mas se perguntar se eles falaram no caminho, sim. Ainda por cima me ignoraram.
Assim que Alex estacionou o carro na garagem da escola eu agradeci aos deuses. Desci e fui direto para a entrada da secretaria, por ser novato precisei pegar um papel com o número da minha sala. Eu por ser cabeça dura podia ter seguido eles, mas não foi o que fiz, andei pelo lugar dando de cara com várias pessoas.
O r**m de se estudar a noite é que vai ter gente mais velha misturada com mais nova. Perde o charme desse jeito. Parei de estudar a dois anos, parei no último ano.
Não me arrependo, mas é r**m saber que seus amigos de fundo estão na faculdade ou fazendo algo mais interessante. O motivo da minha pausa chega a ser banal, então não quero falar nisso. Assim que entrei na minha sala, eu dei de cara com uma mulher alta e com óculos. Engoli um seco e passei por ela, em uma sala pequena havia cinco fileiras de cadeiras, na fileira da porta, na primeira cadeira estava meu irmão, atrás a garota e atrás dela não havia ninguém.
Por algum motivo fui direto pra lá, sem pensar muito me sentei ali e fiquei.
A partir do momento que as apresentações e as aulas começaram, ficou tudo muito chato.
A mulher alta de óculos era a professora de português, que fez questão de falar um texto motivação.
E muitas outras abobrinhas. Quando puxei o meu celular e liguei a Internet, eu fiquei ansioso para ver o que estava acontecendo de bom.
Estava esperando algumas mensagens, mas depois de dez minutos não havia nada. Ninguém havia me mandado mensagem, ninguém, de tantas pessoas, ninguém me mandou uma mensagem. Aquilo me deu raiva. Ignorado de novo.
Fui apagando aplicativo por aplicativo e quando estava guardando o celular a voz da professora soou na minha direção.
– Diga seu nome. – Ela tinha um sorriso simpático, o que fez eu reagir e mostrar meu sorriso também.
– Sou James, prazer, posso ir ao banheiro? – Falei rápido e me levantei de mochila e tudo. A mulher sorriu e afirmou que sim, quando estava na porta ela me chamou e eu olhei pra ela.
– Não quer deixar a mochila? – Ela perguntou.
– Não dá, meus absorventes estão aqui.
Eu respondi e algumas risadas foram ouvidas. Eu só consegui ficar sério e sair da sala e logo da escola.
Matar o primeiro dia de aula não é uma coisa r**m de se fazer.
O r**m era você sair da escola e não saber andar na cidade.
Se eu estivesse de volta quando a aula acabasse, estava tudo perfeito.
Quando eu consegui avistar e entrar em um mercado, eu fiquei feliz. Só pensei em entrar e comprar alguma coisa para beber e comer. Comprei uma boa garrafa de bebida e um pacote de salgadinhos. Muitas vezes as pessoas falam que as mulheres se sentem bem ao fazer compras, mas deixa eu falar uma coisa, a gente se sente bem quando compra também.
Tive que sentar em uma praça, deixei a mochila de lado e peguei a garrafa, o primeiro gole sempre era r**m, mas o segundo já ia melhorando, quando chegava em meia garrafa eu já ficava bem mais alegre. Quando se bebe é sempre bom você dar a pausa em meia garrafa e só depois você termina a garrafa completa.
Eu já havia bebido tanto que não era meia garrafa que fazia efeito.
Precisaria no mínimo três dessas.
Era quatro horas e meia, pra fazer vários nada.
Eu não estava na lama, mas estava quase nela. Vir pra cá não me parecia tão r**m, se eu soubesse que ia ser essa m***a de solidão e calmaria eu teria escolhido Alistamento e não ir para uma fazenda. Eu gosto de fazenda, morei por muitos anos lá. Mas eu não sou mais habituado a uma e não sei se quero ficar na fazenda. Acho que mamãe e papai estão adorando eu em uma fazenda, mas eu não estou.
Assim que terminei minha bela garrafa eu me levantei, olhei para as horas e fiquei paralisado.
Meia noite? Oi?!
Eu estava meia hora atrasado.
Sai dali tão rápido que eu praticamente corri, mas, como pra mim tudo pode piorar, uma santa viatura da polícia deu de cara comigo e fez o sinal que eu conheço bem.
Eu fico parado, vendo os dois policiais descerem.
– Está com pressa meu rapaz? Posso saber o motivo da correria? – Peguei logo meus documentos e entreguei, depois o cara só fez o gesto para o parceiro me revistar, não só eu, como a mochila.
– Sai da aula e decidi beber alguma coisa.
– Hum, mora na cidade?
– Não, vi com meu irmão pra aula.
O policial ficou alguns minutos com o celular na mão até olhar pra mim.
– Sua ficha já tem registro, devo me preocupar? – Perguntou.
Por causa do meu pai eu sabia bem o que responder.
– Não, senhor – Então o colega dele entregou minha mochila e foi para a viatura.
– Está tarde, ache Alex e vá pra casa, a menos que tenha algo bem útil pra fazer essas horas na rua – Eu arregalei meus olhos e olhei para o policial. – Diga que mandei um oi pra sua mãe e seu irmão. Passar bem, James.
Fiquei parado sem acreditar.
Oh, Deus!
Quando caiu a ficha que minha mãe já havia sido mulher de policial eu voltei a caminhar direto para a escola, coisa que foi tempo perdido, tudo já estava fechado. Não havia carro nenhum no estacionamento.
E agora? Estou sem dinheiro e sem meios pra voltar pra casa, não sei o numero da minha mãe.
Ótimo.
Será que é hoje que vou dormir em um banco de praça?
Quando olhei para o lado, vi um táxi, meu anjo da guarda deve estar me dando uma luz.
– Pra onde?
- Preciso ir pra fazenda Hist Filer , conhece? Pode me levar? – O homem me olhou desconfiado.
– Cinquenta. Recebo primeiro pra depois fazer a viagem.
– Eu estou sem dinheiro, mas prometo que te pago lá.
– Lamento.
– Por favor, eu preciso ir embora, não conheço nada aqui.
– Desculpe, mas…
Eu tirei o celular do bolso e mostrei.
– Te dou meu celular para o senhor me levar.
Só depois dessa oferta i****a, que o homem destravou a porta e eu consegui entrar.
Se eu não tivesse gastado com aquela garrafa eu não passaria por isso.Meu celular valia bem mais que isso, muito mais. Foi uma hora e poucos minutos de viagem, parei na entrada da fazenda e saí daquele táxi com raiva de mim e de Alex.
Quando vi o carro dele parado, quis fazer papel de louco e quebrar tudo.
Mas não fiz, abri a porta de casa e bem na sala de entrada vi ele e mamãe. Mamãe estava lendo e ele deitado em um dos sofás.
Eu entrei e ele me olhou, eu já estava com raiva, pra piorar ele abriu um sorriso. E eu não aguentei, joguei a mochila pro lado e fui pra cima dele, segurando a gola da camisa dele e acertando um soco no lado direito do seu rosto.
– Por que me deixou lá?! – Quando fui pra cima dele de novo, senti uma mão no meu braço e desviei, na segunda tentativa de acertar ele.
Ele desviou e me acertou.
Olhei pra ele e comecei a rir.
– Isso é o seu melhor? – Perguntei rindo, voltei a ir pra cima dele quando as mãos e braço da minha mãe ficaram em volta de mim. – O i****a me deixou pra trás! Vou quebrar a cara dele.
– James, pare!
– Você fez isso pra ficar pra cima? Foi isso i****a? – Gritei em plenos pulmões.
Ele continuava parado me olhando, enquanto eu tentava ir pra cima dele. Dava um passo e mamãe me puxava pra trás.
– Não sou seu motorista pra ter que te esperar.
– Vai pro inferno Alex, vai pro inferno – Gritei, quando em vez de ir pra cima dele, eu tentei me soltar pra sair dali. – Vou pro meu quarto, pode me soltar agora.
Minha mãe me soltou e fui direto para o quarto, quando cheguei no meu quarto, eu comecei a andar de um lado para o outro.
– Alex me odeia, Alex me odeia, Alex me odeia – Sentei na cama e abaixei a cabeça. – Ele não pode me odiar.
AVISO - Mais um capítulo fresquinho pra vocês (finalmenteeee), para ficar por dentro adicione o livro na biblioteca, comente sempre nos capítulos para eu poder saber o que vocês acham do livro e deixe o seu voto maravilhoso ou me sigam para receber novidades e atualizações. Até amanhã com mais um capítulo fantástico. Att, Amanda Oliveira, amo-te. Beijinhos. Hehehehe até