Início com o pé errado
Tateei minhas mãos debaixo do travesseiro ao meu lado em busca do meu celular que emitia o barulho irritante do despertado, arrancando-me um resmungo alto.
Apertei o botão da lateral assim que eu o encontrei, sentando-me na cama ainda de olhos fechados, porém bastante animado para o dia.
Era início de um ano novo — mais especificamente a segunda semana de janeiro do ano de 2027 — e eu sentia que esse, finalmente, seria o meu ano com coisas boas e positivas em todos os meus dias, pois eu estava extremamente determinado a correr atrás e conquistar meus objetivos e metas que tinha feito para aquele ano.
E eu teria que ser determinado, afinal eu tinha que está fazendo jus ao meu nome. Ares, o famoso deus grego da guerra.
Ares nasceu da nasceu da união de Zeus, de quem herdou a força, com Hera. Ele pertencia à geração dos 12 grandes deuses do Olimpo e também ficou conhecido por ser muito impulsivo e, como sua denominação indica, extremamente apaixonado por guerras e batalhas.
Isso porque, diferente da maioria dos outros deuses e graças aos seus impulsos violentos, Ares só encontrava a sua paz dentro de uma guerra e ele era determinado quando queria ter algo em sua vida.
Minha mãe, uma pessoa apaixonada pela a mitologia grega decidiu dar o nome do deus da guerra para o seu único filho. O mais engraçado disso tudo era que eu não me parecia com nada com ele, ou me parecia, é algo complexo e difícil de se afirmar.
Me sentia mais como a Fiona do filme Shrek, de dia uma pessoa e de noite outra pessoa completamente diferente. De dia o Ares Galanis, e de noite... Enfim.
Sou um jovem adulto, meio russo e meio americano, mas comum. Extrovertido ao extremo, imã de homens e mulheres por causa da minha aparência e confiança em excesso. Alto com meus um e noventa e oito centímetros, pele em certos meses branca ou parda, porém em outros bronzeada. Olhos azuis claro, quase como um oceano, lábios finos, rosados e macios, rosto marcante, um corpo definido de dar inveja e um p4u grande e grosso. Um pecado em pessoa, ou melhor, um deus grego fora do Olimpo.
Levantei-me da cama estremecendo de leve quando o cômodo frio entrou em contato com o meu corpo nu e rapidamente adentrei o banheiro.
Encarei-me no espelho com a cabeça levemente inclinada.
Meus olhos azuis claros estavam inchados, da mesma maneira que meus lábios finos e meu rosto em geral depois de uma boa noite de sono após beber até morrer na noite anterior. Minha sorte era que eu estava tão acostumado que não ficava com ressaca e muito menos querendo vomitar.
Peguei o elástico de cabelo que estava em cima da pia e prendi meus cabelos castanho acobreado natural, que iam até encima do meu ombro. Precisava cortar ele, sabia perfeitamente disso, porém ele só estava naquele tamanho por causa de uma maldita aposta que fiz comigo mesmo.
E qual é essa aposta? Deixar de ter uma tremenda paixão pela a presidente e CEO da empresa em que eu trabalhava. Estou nessa tentava a dois anos, esse seria o terceiro e eu nunca agradeci tanto a genética do meu cabelo demorar a crescer.
Sabia que eu só deixaria de gostar dela quando saísse da empresa, porém ver ela todos os dias me deixava ainda mais animado e com o coração batendo loucamente mesmo sabendo que ela nem sabia da minha maldita e insignificante existência.
Era quase inevitável não ficar babando em seus olhos, seu corpo e seu rosto quando ela passava ou parava próximo de mim. Ela com certeza deve já ter percebido, mas nunca mencionou nada ou melhor — pior também — me demitiu.
Aproveitei que já estava nu e apenas fiz xixi no vaso. Peguei um pedaço de papel higiênico para secar ele e em seguida dando descarga e descendo a tampa.
Lavei minhas mãos e aproveitei para jogar uma água no rosto. Voltei para o quarto e de dentro da minha cômoda peguei uma peça de roupa para a minha corrida matinal.
Com a roupa em corpo, os tênis nos pés, meu celular e meu fone de ouvido na orelha, sai do meu apartamento e peguei o elevador para o térreo. Como o habitual o mesmo porteiro ainda estava em seu turno mesmo sendo cinco horas da manhã ainda.
— Bom dia! — Exclamei com um largo sorriso.
— Bom dia sr. Galanis. — Retribuiu com um sorriso. — Boa corrida! — Agradeci.
Conectei o bluetooth do meu celular nos fones e dei play em minha playlist enquanto caminhava para o parque que havia logo em frente ao apartamento.
Começou a tocar Blinding Lights do The Weekend e eu comecei a me alongar sentindo meu corpo relaxar e estalar em determinados gestos. Aquecido o suficiente comecei a minha corrida matinal enquanto passava em minha mente o que eu deveria fazer naquele dia em específico, porém todas as vezes que pensava no trabalho, me minha vinha a presidente.
Venera Kim, uma mulher com nacionalidade meio coreana e meio americana. Não sabia a altura dela, porém próximo de mim ela ficava pequena e fofa, se eu abraçasse, sua cabeça ficaria em meu peito e ela poderia sentir meus batimentos acelerados somente por ela. Pele parda em certos momentos, porém na maior parte das vezes tão branca que eu me via pensando que ela deveria fazer o filme Crepúsculo.
Corpo definido e em formato violão com a barriga um pouco saliente — deixando-a ainda mais deliciosa — tão perfeito que eu simplesmente queria cair em cima deles e não sair nunca mais. Lábios grossos sempre com batons de cor nude ou rosado. E o que mais me tirava o fôlego, a cor dos seus olhos puxados.
Cerca de somente 1% da população tinha olhos violetas, e ela foi abençoada com essa porcentagem e eu poderia olhar para eles sem me cansar ou enjoar da cor, até por que quando eu os vi, violeta se tornou minha cor favorita.
Dependendo da iluminação ele ficava mais escuro, em ambientes claros se tornava um violeta tão claro que chegava que parecia que uma pessoa pegou o violeta e o misturou com branco, para chegar no tom mais claro. Literalmente, uma obra de arte, e independentemente da cor que ele ficava, arrancava bons suspiros de mim.
Eu estou praticamente de quatro pra ela, porém conviver todos os dias com Venera Kim, sendo que me apaixonei por ela à primeira vista, torna as coisas ainda mais difíceis pra mim e em certos momentos eu me sinto um lixo como homem e como pessoa.
O quarteirão era grande e enquanto eu via as pessoas se preparando para o trabalho, outras iniciando seu exercício matinal como eu, completei sete voltas correndo antes de voltar para o meu apartamento soando e completamente ofegante.
Passei pelo o porteiro, que era outro, cumprimentando-o calorosamente e fui em direção ao elevador olhando as mensagens que meu celular tinha recebido. Boa parte era notificações das minhas redes sociais, e as que realmente eram mensagens de pessoas, simplesmente ignorei e procurei apenas para ver se meu melhor amigo tinha me enviado algo, confirmado que não, bloqueei a tela no exato momento que o elevador se abriu em meu andar.
Digitei a senha e a porta do meu apartamento se abriram e eu já adentrei tirando meu tênis e a minha roupa molhada de suor.
— Hoje o dia vai ser ótimo! — Exclamei pra mim mesmo indo até a área de serviço, jogando a roupa que usei e suei durante a corrida dentro da máquina de lavar, ficando completamente nu novamente enquanto ia até o banheiro.
Coloquei para tocar Hearthens do Twenty One Pilots em uma altura nem muito alta e nem muito baixa enquanto tomava um delicioso banho quente que animou ainda mais meus ânimos, optando por escovar meus dentes após tomar meu café da manhã.
Sequei meu corpo e enrolei a toalha em minha cintura e outra em meus cabelos. Sai do quarto e fui diretamente até o meu guarda roupa, peguei uma cueca, uma calça social preta, uma blusa de frio com gola alta branca, e para fechar o look, um sobretudo preto pra combinar com os meus tênis.
Eram os últimos dias de inverno nos Estados Unidos, não estava muito frio como no início da estação e por isso era possível seguir com o cronograma tranquilamente, mas eu não via a hora de março chegar com a primavera.
Fui em direção a cozinha para preparar meu café da manhã enquanto a música soava, porém um estralo chamou a minha atenção e eu tive que baixar a música.
Busquei pelo o som novamente, mas não o encontrei, foi quando eu olhei para o teto e vi que havia uma mancha nele que soou com o mesmo estalo de antes.
Soltei um grito tão alto quando o teto simplesmente desabou com o peso de uma banheira que transbordava. Minha garganta doeu no mesmo momento enquanto eu olhava para cima e via a moradora olhando com os olhos arregalados para baixo.
— MEU DEUS, VOCÊ ESTÁ BEM? — Gritou ela e eu apenas olhei para a banheira. — A i****a DA MINHA FILHA ESQUECEU A TORNEIRA LIGADA. MOÇO, VOCÊ SE MACHUCOU?
"Não, eu não estou bem porque uma banheira caiu do teto e poderia ter me atingido.", pensei suspirando.
— Estou bem sim, obrigado por perguntar! — Exclamei fazendo o meu melhor para sorrir, mas por dentro lamentava horrores, tanto pela a minha bancada nova que tinha comprado a pouco tempo e nem tinha terminado de pagar ela, quanto por agora temer morar em um apartamento.
No fim das contas perdi o meu horário do trabalho e fiquei ouvindo desculpas da moradora do andar de cima para mim ao mesmo tempo que o dono daquele prédio falava que não ficaria daquela maneira, que aquilo não deveria ter acontecido e que eles iriam arrumar tudo rapidamente e me mandar para uma casa enquanto as coisas não ficam prontas.
Meu celular vibrou em minhas mãos e eu olhei a tela sentindo a minha cabeça palpitar de dor. Era meu melhor amigo Daren Abasi Smith.
— Só um minuto. — Afastei-me deles e levei o celular ao ouvido assim que atendi.
— Pensei que tinha morrido por que não apareceu no trabalho! — Ele disse e eu suspirei alto desejando que realmente fosse esse o problema. — O que aconteceu? — Resumi o que aconteceu.
Quando eu terminei, ele começou a rir, mas vendo que eu não ria também, se calou e pigarreou.
— É sério isso mesmo? — Afastei a tela do ouvido e tirei a foto do caos que se encontrava meu apartamento, enviando-o.
— Olha suas mensagens! — Exclamei e ouvi um ofegar de surpresa dele em segundos.
— Car4lho, isso tá um caos! — Ele disse e eu concordei mesmo sem ele ver o gesto. — Senhorita Kim! — No mesmo instante meu corpo todo se arrepiou.
— Cadê o sr. Galanis? — Meu coração começou a bater loucamente quando a voz suave da Venera Kim soou.
— Houve um problema em sua casa... — Dito isso Daren começou a explicar o que tinha acontecido comigo.
— Posso? — A voz dela soou novamente. — Sr. Galanis! — Fechei os olhos com força contendo o arrepio que queria subir pelo o meu corpo. — Está tudo bem por aí? Precisa de alguma ajuda em relação a advogados ou processos?
— Bom dia presidente.... — Minha voz soou rouca e eu tive que pigarrear para ela voltar ao normal. — Está tudo bem sim, não precisa se preocupar se possível irei trabalhar ainda hoje!
— Arrume todos os problemas pendentes por aí, estarei esperando o seu retorno. — Ela disse e eu inspirei fundo sem saber se eu ficava aliviado por ela ter me dado carta branca ou preocupado por ter recebido uma carta branca.
— Obrigada presidente! — Exclamei engolindo o seco.
— No término no trabalho eu vou aí te ajudar! — Meu melhor amigo sussurrou e a chamada foi desligada rapidamente.
Fechei os olhos com força enquanto apertava a ponte do nariz sentindo minha cabeça querer explodir com toda aquela situação de m3rda
— Esse ano realmente vai ser meu ano? — Choraminguei baixo olhando para a banheira que ainda estava na minha cozinha.
•••
Pensei que iria demorar umas boas horas, porém tudo aconteceu tão rápido e com tanta eficiência que eu me vi surpreso. Provavelmente eles estavam com medo que eu abrisse um processo contra eles, por isso a eficiência.
Minhas coisas foram todas empacotadas e levadas para o caminhão que estava aguardando em frente ao hotel. A situação foi vazada e em minutos saiu nos noticiários, e de brinde, repórteres com suas câmeras em frente ao local acabando completamente a minha paz.
A empresa que comandava o hotel alugou uma casa para mim e para a mulher do andar de cima, com tudo pago desde o aluguel a conta de água e energia, enquanto o problema não fosse resolvido. Eles até contrataram um decorador de interiores pra mim com medo de que eu fizesse alguma denúncia ou processo contra eles.
Minha cabeça até aquele momento pulsava tanto que eu tinha tonturas em certos momentos, e ela só piorou quando meus pais viram a notícia e começaram a me ligar horrores. Recusei as dez primeiras, mas tive que atender ao ver que não iriam desistir.
— Eu estou bem, não precisam ficar me ligando dessa maneira! — Exclamei assim que atendi olhando para a fachada da casa que agora iria morar por tempo indeterminado enquanto meus móveis eram colocados para dentro da casa.
— Se tivesse atendido antes, não teríamos insistido! — A voz do meu pai soou na linha ao mesmo tempo que o som de concordância da minha mãe.
— Talvez eu estivesse ocupado demais pra atender vocês, não? — Indaguei olhando os detalhes azul escuro que a casa possuía da mesma cor que o teto, enquanto as paredes eram brancas com uma porta tradicional americana em uma madeira escura.
Ainda não entrei dentro da casa e nem fiz questão de ir e olhar, não quando sentia que a qualquer minuto iria surtar com as pessoas e com toda aquela situação de m3rda.
Havia uma garagem com portas de ferro e o meu carro já estava parado na frente dele enquanto minha moto era trazida por um guincho. Não entendia o porquê, mas eu sentia que algo iria acontecer com ela.
— Ocupado para atender seus pais que estão preocupados com você? — Meu pai disse e eu revirei os olhos ouvindo uma gargalhada de deboche dele. — Pelo menos foi para o trabalho hoje?
— Sério isso? — Soltei uma risada anasalada. — Uma banheira quase caiu em cima de mim por falta de manutenção no prédio, e você está perguntando se eu fui trabalhar? — Passei a mão em meus cabelos exasperado.
— É só voltar a morar conosco! — Ele retrucou e eu simplesmente desliguei a chamada e em seguida o meu celular.
Senhor Anatoly Galanis e senhora Margaret Galanis, são casados a trinta anos. Eles trabalhavam na mesma empresa e no mesmo departamento, de início se odiavam, mas começaram a ver que não era ódio e sim um sentimento mais profundo que logo descobriram que eram amor. Casaram um dois depois que começaram a se relacionar, e depois de um dois veio a descoberta da minha gravidez.
O mais engraçado dessa história toda é o local em que se conheceram. Ambos trabalharam na empresa Cosméticos Kimoy, vulgo empresa que eles me fizeram entrar só porque eles trabalharam lá e criaram bons vínculos com a dona da empresa, uma velha — e que não aparenta ter a sua idade — coreana chamada Jihyen Kim.
Em certos momentos sinto que não consegui a vaga de Editor Chefe por conta própria, mas sim por que meus pais criaram uma história naquela empresa que ficou marcada no local e nas memórias da CEO, e por isso, consegui passar na frente de pessoas mais capacitadas.
Eles criaram uma história na empresa, aquele era o local deles, não meu, e eu não queria o mesmo que eles. Eu só quero fazer a minha história sem a sombra dos meus pais me seguindo em todo canto em que eu vou ou olho!
Poderia ter recusado a ideia dos meus pais e o cargo quando fui aceito, porém eu estava desempregado, desesperado por um emprego e com o diploma de design gráfico, que meus pais não queriam que eu fizesse, e queria que pelo menos uma vez eles pudessem sentir orgulho de mim. Fui burro e inocente de ter aceitado.
Como aquele ditado, se arrependimento matasse, eu já estaria morto a anos.
O guincho chegou e eu observei de longe mesmo o motorista descer a minha moto, porém, no momento em que desviei o olhar o barulho de algo caindo soou.
Meu coração se apertou e eu realmente quase chorei quando vi o motorista olhar de olhos arregalados para mim.
— Hm... Ouve um probleminha aqui! — Fechei os olhos com força e olhei para o céu nublado assim que os abri.
— Parece em breve vai nevar! — Murmurei com a voz rouca e como previsto um floco de neve caiu no meio da minha testa.