01 - Him
A primeira vez que eu o vi, ele estava sentado no parapeito da janela do meu quarto. Eram duas da manhã, meus olhos ainda estavam sonolentos e turvos, mas eu o vi. Vi a silhueta dele sentada ali, de lado pra mim, suas mãos apoiadas na madeira e sua cabeça recostada na lateral da janela.
Era uma menino jovem, devia ter por volta dos seus dezoito anos, cabelos castanhos e pele branca. Ele vestia roupa comuns, uma blusa branca e uma flanela quadriculada por cima, calças escuras e um par de botas simples. Parecia real, ele parecia vir dessa dimensão, parecia ser de carne e osso, mas não era.
Eu tinha certeza.
Examinei-o por alguns instantes e engoli seco. Abaixei meu olhar e respirei fundo tentando pensar numa forma de espanta-lo dali. No entanto, quando eu ergui meu olhar, ele estava sentado na borda da minha cama, encarando-me.
Meu coração disparou e eu segurei um grito em minha garganta. Forçando o maxilar e desviando o olhar para o colchão, bocejando e fingindo não perceber sua presença ali.
Ele cerrou o cenho e aproximou seu rosto do meu, fazendo-me pressionar os lábios e fechar os olhos com força. Tentei fingir que não o via, mas foi em vão, pois a presença logo perguntou:
— Você consegue me ver?
Olhei em seus olhos e abri a boca, mas rapidamente hesitei e dei para trás, me escondendo debaixo do meu cobertor e fechando meus olhos com força.
— Por favor, vá embora! - Eu pedi apertando meu cobertor em minhas mãos.
— Não tenha medo! - Ele disse e suspirou. — Eu não vou te machucar.
— Eu não... - Mordi meu lábio inferior aflita e respirei fundo. — Por que você tá aqui?
— Vim visitar minha antiga casa, e enquanto eu tava ali na janela, percebi que você me olhava, e pensei que você talvez conseguisse me ver. - Ele respondeu rindo fraco.
Umedeci meus lábios e abaixei o cobertor, descobrindo meu rosto. Abri meus olhos e vi o menino sentado de pernas cruzadas, no final da minha cama.
— Você consegue realmente me ver. - Ele sorriu feliz se aproximando e eu me encolhi cobrindo-me novamente amedrontada. — A-Ah, desculpa, eu te assustei.
— Ouça, eu percebo pela sua aura que você é um espírito bom, mas eu ainda sim temo vocês, por favor, não se aproxime muito... - Eu impus abaixando a coberta.
— Tudo bem, desculpa. - Ele sorriu voltando para o final da cama. — Pelo menos você não saiu correndo gritando como a última pessoa que eu tentei me comunicar.
Corri ambas as mãos pelos meus cabelos e ajeitei meu pijama, afim de não deixar nada aparecer acidentalmente. Por que eu tô me preocupando com isso, ele é um espírito.
— Qual é o seu nome? - Perguntei recostando-me na cabeceira da cama.
— Jinwoo, Kim Jinwoo, o seu?
— Solari.
— Quantos anos tem, Solari?
— Fiz dezessete semana passada. - Respondi. — Quantos anos você... hm tinha?
— Dezenove. - Ele disse e se deitou na cama, deixando que o silêncio reinasse o quarto. — Você gosta desse quarto?
— Gosto, ele é espaçoso. - Respondi dando ombros.
— Era o meu quarto. - Ele sorriu fraco e se levantou rapidamente, sentando-se e olhando-me. — Oh, você sabe que existe uma passagem secreta aqui?!
— Passagem secreta? - Questionei desentendida e ele assentiu se levantando.
Jinwoo caminhou até meu armário, que não possuía nenhuma peça de roupa ainda, pois minhas roupas ainda estavam empacotados por culpa da recente mudança. Ele fez sinal e eu me levantei da cama me aproximando dele.
— Puxe esse fundo de madeira para a esquerda . - Ele pediu e eu pisquei rápido, confusa, mas assenti.
Fiz o que me foi pedido e o fundo, com certa dificuldade deslizou-se para esquerda, me dando a visão de uma escadaria estreita e de degraus pequenos que levava para um suposto andar de cima. Talvez seja um acesso secreto ao telhado?
Engoli seco e umedeci meus lábios sentindo um certo receio. Jinwoo notou e olhou-me.
— Não tenha medo, é só um acesso ao telhado, vamos, você vai gostar da vista, eu prometo. - Ele sorriu e foi na frente. Suspirei e o segui.
Me ajeitando para passar pela estreita escadaria, eu subi degrau por degrau até encontrar um alçapão. Jinwoo, com certo esforço o empurrou e logo a luz da lua iluminou-nos. Estávamos no telhado.
Havia uma área plana feita de pedras. No entanto, o que me chamou a atenção não foi a divina vista, ou a grande altura, mas sim os brinquedos espalhadas pelas pedras. Não eram muitos, mas estavam ali, desgastados pelo efeito da natureza.
— É uma linda vista, não é mesmo? - Ele sorriu apreciando o céu estrelado.
No entanto, eu não respondi. Meus joelhos estavam sobre as pedras. Peguei um bonequinho de pano, que quase se desfaleceu em minha mão e ergui meu olhar.
— Eram seus? - Perguntei e ele se virou vendo o brinquedo em minhas mãos. Um sorriso tenro surgiu em seu rosto e ele se ajoelhou na minha frente assentindo.
— Esse é o Jhonny, o pirata. - Jinwoo pegou o outro boneco do mesmo material, e pôs ao lado do pirata. — Esse é o Peter, seu fiel marujo.
Examinei os brinquedos e suspirei me sentando sobre as pedras. Um peso em meu coração o puxou para baixo, abaixei meu olhar e passei meu polegar sobre o corpo do pirata sentindo o pano desgastado que cobria o forro que saía pela falta de um de seus braços.
— O que foi? Está triste? - Jinwoo perguntou e eu senti minha visão embaçar.
— Não, eu só... - Uma lágrima pingou dos meus olhos caindo sobre o chão de pedras e eu limpei uma outra que tentava escapar de meus olhos. — Desculpe, eu sou sensitiva.
Ele me olhou tentando decifrar o significado da palavra e eu ergui meu rosto tentando fazer as lágrimas regressarem, enquanto secava-as.
— Eu sinto a energia dos objetos, entende? - Expliquei e desvinculei meu toque do boneco me afastando levemente e sentindo aquela tristeza ir se esvaindo aos poucos.
— Incrível. - Jinwoo sorriu bobo. — Será que você consegue me tocar?
— Provável que não, estamos em dimensões diferentes.
— Vamos, tente. - Jinwoo se aproximou e eu ri fraco erguendo minha mão na intenção de tocar sua bochechas.
No entanto, a mesma passou por seu corpo, como se fosse apenas luz e **. Ele suspirou entristecido.
— Pelo menos nos podemos nos comunicar, não é? - Ele disse levemente animado e eu assenti.
Movi meus olhos para o oriente e percebi que o sol já estava prestes a raiar. Deviam ser por volta das seis da manhã, eu tinha que ir a escola em uma hora. Então, me levantei.
— Daqui a pouco tenho aula. - Informei e ele assentiu se levantando. — Preciso descer.
— Tudo bem. - Ele sorriu. — Foi bom conversar com você.
— Digo o mesmo. - Sorri fraco e caminhei até o alçapão, abaixando-me e abrindo-o, foi quando ouvi Jinwoo perguntar-me:
— Tudo bem se eu estiver por aqui quando você voltar? Não quero incomoda-la.
Meditei por uns instantes e examinei a silhueta de Jinwoo. Seu sorriso esperançoso no rosto fez meu coração pesar. Tudo o que ele quer é alguém para conversar. Ele era inofensivo e talvez até mesmo ajudaria-me durante esses tempos difíceis...
— Tudo bem, você pode ficar.
— Obrigado. - Ele sorriu e curvou-se levemente.
E a partir daquele dia, Jinwoo se tornou meu melhor amigo imaginário. Entretanto, eu sabia que ele não era fruto da minha mente, ele estava lá.
~ P L A Y L I S T ~
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