ISABELA NARRANDO O quarto ainda estava impregnado daquela tensão que só pai e filho conseguem criar quando se amam demais e se entendem de menos. O Antônio saiu batendo a porta não com força, mas com aquela autoridade de quem acha que resolveu alguma coisa. Só que não resolveu nada. Ele só deixou um silêncio pesado ali dentro, e eu fiquei parada, com a bandeja vazada nas mãos, olhando para o Davi como quem olha para um furacão prestes a quebrar a própria casa. Ele fingiu que eu não existia. Pegou o celular, virou de lado na cama e ficou ali, impassível, como se a vida estivesse acontecendo longe dele. Eu respirei fundo. Se eu fosse tímida, já tinha ido embora naquele segundo. Mas não sou. E se eu estou ganhando 45 mil pra lidar com monstro, eu vou lidar com monstro falando como gente.

