BIANCA NARRANDO Acordei com a luz entrando pelas frestas da cortina blackout, aquela luz teimosa que insiste em atravessar até tecido grosso. Espreguicei devagar, estiquei os braços por cima da cabeça e senti o perfume do meu próprio hidratante ainda na pele baunilha com âmbar o único cheiro que me lembrava que, apesar do caos que se tornou minha vida, eu ainda controlava alguma coisa. Deslizei da cama com cuidado para não bagunçar o coque frouxo que dormiu comigo. Peguei meu roupão de seda rosa-chiclete bordado com meu nome nas costas — presente do Davi, de aniversário, de quando ele ainda lembrava das coisas — e amarrei na cintura. Enfiei os pés nas minhas pantufas de salto embutido, de plumas brancas, e caminhei até o banheiro como se estivesse entrando em cena. Abri a torneira, deix

