DAMON FOX
Termino de ajeitar a gravata borboleta, quando minha campainha soa. Celina, minha secretária do lar, atende e já ouço minha avó invadir o ambiente.
— Impecável, como sempre. — Ela me elogia.
— Dona Sophia, o que faz aqui?
— Vim ter certeza de que não vai fazer besteira. Ouvi uma conversa do seu avô sobre a tal Isobel.
— Não se preocupe, eu sei o que estou fazendo.
— Deus no livre se sua sabedoria significar um casamento arranjado! Não faça isso com você e muito menos com essa moça.
— Eu não vou me casar com ela, vó.
— Mesmo que isso signifique perder o contrato?
— A condição contratual que os Hidalgo mais respeitam é a honradez do contratado. Apenas preciso ser honrado.
— E casado. Não se faça de t**o.
— Vó, não vou me casar com Isobel. Fique tranquila.
— Não faça besteira. Apenas isso ou eu mesma lhe darei umas palmadas.
— Não vai à festa?
— Deus me livre! Vou ajudar na festa de caridade da igreja.
— E fofocar com as amigas. — Brinco.
— Se a fofoca trouxer doações, está ótimo. Tem uma pessoa em especial que quero ajudar.
— Precisa de algo? — Não me envolvo muito com caridade, mas sempre que posso faço pela minha avó.
— Não. Essa família é orgulhosa demais e não aceitaria nada pelo qual não trabalharam.
— Orgulhosos, não?
— Tem gente que só tem isso na vida e é inegociável. Quem sabe não temos muito o que aprender com eles?
— Bem, espero que seja proveitoso. Estou de saída.
— Vamos e não se esqueça das minhas palmadas.
Assim que chego a festa, encontro James observando a todos em um canto. Ele sempre faz isso para testar os humores e saber quais negócios proveitosos uma festa pode render.
— Seu avô já perguntou três vezes por você.
— Essa noite irei testar o terreno. Quem sabe tenho a sorte de Isobel achar a ideia tão absurda quanto eu. Vimo-nos poucas vezes e ela nunca demonstrou qualquer afeto por mim.
— Até seu avô te oferecer em uma bandeja. Ela sempre te olhou querendo algo mais, Damon. Você quem estava distraído demais para perceber.
— Faça o seguinte. Se não tiver jeito, ligue para Lauren amanhã, mas não diga o motivo. Invente uma desculpa qualquer.
O evento é requintado em um grande hotel da cidade, no qual poderosos se juntam para demonstrar suas riquezas, enquanto a tal Isobel me encara com olhar predador. É, sem sorte, pelo visto. Minha fé em que ela não estaria interessada ruiu feito castelo de cartas.
— Senhorita Isobel, feliz aniversário. — Cumprimento-a sob os olhares acirrados de seu pai e meu avô.
— Que tal deixarmos as formalidades. Pode me chamar Isobel, apenas.
— Tudo bem. Damon, então. — Autorizo sem qualquer ânimo, mas me mantenho educado já que preciso do pai dela.
— Espero que possamos nos divertir juntos.
Insinua e eu lhe ofereço um sorriso, como se estivesse constrangido. A ideia de James é péssima, mas no momento me parece única, já que a aniversariante parece inclinada a achar que somos almas gêmeas.
— A noite é sua e espero que se divirta como merece.
— Que tal um drink, depois que todos forem embora? A vista da cobertura é incrível. — Direta. Isso seria ótimo em um encontro casual.
— Querida! Vejo que reencontrou Damon. — A mãe dela agora surge e seus olhos sobre mim gritam "genro", me salvando de responder o oferecimento de drinque que certamente terminaria entre lençóis.
— Senhora Hidalgo, bom revê-la.
— Aproveite a festa meu querido. Não vi sua avó.
— Não se sentiu muito bem essa noite, mas mandou-lhe lembranças. — Invento, pois dedurar dona Sophia indicaria desfeita.
— Pretendo visitá-la a qualquer hora. Agora, vão dançar! Aproveitem!
Dança que se deu com Isobel praticamente me convidando para uma f**a. Ah! Eu iria, com toda a certeza, pois a mulher é deliciosa. Mas quer casar. Esse detalhe não me foge. Tudo piora quando, durante o jantar, seu pai nos convida para viajarmos todos juntos como uma linda família feliz para as Bahamas na próxima semana.
O olhar malicioso de Isobel, o convite indireto de seu pai e o desafio que meu avô lançava silencioso, como se dissesse que uma união entre nós era inevitável, me lançaram a borda.
Faça o que tem que fazer.
Encaro James afastado de nós, com um sorriso debochado que me lembra que ele tinha a solução para isso e eu não aceitei. Bem, não aceitei porque não estava encurralado.
Odeio que façam isso.
Pego a taça de vinho e estendo em direção ao meu avô, como se o cumprimentasse pela excelente estratégia em me unir a uma das poderosas famílias do setor automobilístico no mundo.
Ele sorri, achando-se genial. Posso ouvir o badalar dos sinos e tenho certeza que a mãe de Sophia já enxerga-a como uma noiva. A vontade de sair correndo dessa loucura é imensa, mas faça o que tem que fazer. Não posso perder o contrato e para isso minha vida pessoal deve ser bem vista por todos.
Maravilha!
— O que nos diz, Damon? Vamos aproveitar uma folga nas Bahamas? Tenho certeza que jovens como vocês irão achar incrível. Será bom para nos conhecermos melhor, antes de falarmos sobre negócios.
— Sim, conheço as Bahamas e é realmente um paraíso. Mas infelizmente terei que declinar.
Silêncio. Um silêncio mortal se faz, como se todos me desafiassem a perder o contrato por uma estupidez. Os olhos do meu avô parecem querer saltar, Hidalgo tem a expressão de quem foi afrontado e Miller, meu rival nos negócios, apenas sorri, supondo que já ganhou essa competição.
James ri do outro lado, se achando um gênio. No outro extremo, eu quero morrer por dizer palavras que nunca sequer sonhei pronunciar.
O assassinato simbólico da minha vida de solteiro.
— Preciso ver com minha noiva se ela gostaria de nos acompanhar.
Ok, talvez a cara de choque de absolutamente todos tenha feito valer a pena essa frase absurda. Não tem noiva, não tem mulher alguma na minha vida e muito menos com planos para casamento.
Mas acho que dá para arranjar um até a segunda-feira, não dá? Bem, eu espero que sim, nem que eu precise contratar uma como a solução mais complicada que já tive em um negócio.
— Noiva? — Isobel pisca algumas vezes, como se seu idioma não comportasse a palavra que eu disse em claro e bom som.
— Não comentou sobre essa felicidade, Edmund. — Miguel afirma encarando meu avô, como se questionasse “como ousou ofertar casamento se o noivo em questão já era comprometido?”.
— É recente. Ainda não fizemos o anúncio oficial e ela gosta de discrição.
— E seu avô não a conhece? — Isobel tenta ser discreta, mas é nítida a sua insatisfação.
— Na verdade não. Precisava garantir que ela não fugiria de nós, por conta da velha raposa. — Brinco com o nosso sobrenome que significa raposa.
— Da forma que fala é como se sua família fosse assustadora. — A senhora Hidalgo tenta aliviar o clima em prol de sua filha. — Nós sabemos que não são. Mas ficamos felizes por sua felicidade, rapaz.
— Por que ela não veio? — Miguel insiste e tenta me encurralar. A expressão do meu avó o fez desconfiar que estou inventando. É, preciso ser mais convincente.
E arrumar uma noiva.
— Desculpem-me interromper. — James intervém para meu alívio. — Damon. para você. — Ele me estende o celular e fico mais perdido do que todos. — Sua noiva. Seu celular estava desligado.
— Com licença. — Digo pegando o celular, sem entender. Penso ter sido apenas um disfarce, mas quando olho a tela, de fato há uma ligação em andamento.
Minha avó.
— Vó?
— Você esqueceu completamente das palmadas não é?
— O que…
— Diga que sua noiva está comigo, pois não quis me deixar sozinha.
— James! — Exclamo, entendendo.
— Sim, me ligou para salvar a sua b***a, menino. Não sou adepta a isso, mas faço se tiver que livrar você desse absurdo casamento, sem que perca o seu contrato. Quando eu assistir você colocando um anel no dedo de alguém será por amor. Sim, sou uma santa e você me deve um favor.
Dever para minha avó é quase decidir pagar com a vida.
— O que vai querer em troca?
— Eu indico a noiva.
— Vó, você sabe que ela não existe, certo?
— Claro que eu sei. Mas preciso que arrume trabalho para uma pessoa e ela será excelente para esse papel.
— Sabe o perfil da noiva que meu avô espera não é?
— Claro que eu sei. Não se preocupe. Eu cuido de tudo.
— Sinto que vou me arrepender.
— Estou velha. Eu precisava de um pouco de diversão. Ela irá ao seu escritório na segunda.