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2198 Words
O resto da semana passou voando para Olívia, que após sair da lanchonete pouco depois das seis, sempre saia com uma melhor amiga, Hellen, fosse para dar uma passadinha no shopping ou simplesmente irem para a casa uma da outra, conversar e fazerem planos diabólicos juntas. Hellen e Olive eram consideradas garotas populares na escola, mas para falar a verdade, nenhuma das duas se importava com aquilo, e também não se consideravam "garotas populares", até porque a primeira coisa que sempre vinha à mente quando alguém pensava nisso eram aquelas patricinhas irritantes, que eram a verdadeira encarnação de uma pick me Girl surtada. "Temos que aproveitar essa fama, gatona". Isso era o que Hellen sempre falava para Olive quando tocavam no assunto, fazendo-a revirar os olhos e abrir um sorriso. A amiga sempre foi um pouco maluquinha, e das duas, praticamente era a única que gostava de zelar essa fama de ser popular. Hellen realmente era a típica patricinha da escola (apesar de ser uma versão super legal dela), era de família rica e líder de torcida. Olive também era líder de torcida, mas apesar de gostar bastante daquilo, não fazia tanta questão de permanecer na equipe e tinha várias outras prioridades, como seu emprego, e agora: passar de ano e não ter problemas com seus pais em relação a isso. Ela até já conseguia imaginar o gigantesco sermão que iria receber caso suas notas chegassem aos ouvidos deles. — Então... Quer dizer que você vai ter que fazer aulas extras agora? — Hellen perguntou, enquanto caminhavam para dentro da escola, na manhã de segunda. — Infelizmente. — Olive soltou um grunhido de desgosto, ainda sem conseguir acreditar naquilo. Ela e Hellen caminhavam lado a lado pelo longo e espaçoso corredor, cortando o mar de alunos, que abriam caminho para as duas e às observavam por longos segundos. Olívia lançou um pequeno sorriso para a amiga, que tinha um cabelo castanho claro cortado na altura dos ombros e era um pouco mais alta do que ela própria. Hellen fazia de tudo para deixar para trás aquele ar de "patricinha fofa", e isso incluía mechas coloridas no cabelo, batons escuros e sombras de cores frias nas pálpebras, além de roupas de cores neutras (deixando às cores vivas apenas para as mechas do seu cabelo, que eram mudadas quase toda semana). — Eu posso ir como você. Não tenho nada para fazer mesmo.— Hellen sugeriu, jogando o braço por cima os ombros de Olive e encarando-a com belos olhos azuis claros, que eram emoldurados por cílios longos e escuros. — Nah. Não precisa fazer isso. — Olive respondeu, negando levemente com a cabeça. Além de ter que passar por aquela tortura três vezes por semana, ela não precisaria levar sua melhor amiga para o mesmo barco também. — As suas notas estão muito ruins? Posso te ajudar se quiser. — Hellen sugeriu, fazendo Olive rir baixinho. Porquê a amiga definitivamente não era uma das pessoas mais inteligentes que ela conhecia (e geralmente fosse ela quem ajudasse Hellen) — Ei!! Não ria de mim, sua vaca! — Desculpa, amiga. — Olive disse, embora o seu tom fosse um tanto engraçado, enquanto ela se segurava para não rir novamente. — Semana passava você escreveu um texto com "casa" com Z, ele. CASA COM Z. — Eu sou burra, mas pelo menos não estou com notas vermelhas no boletim. — Hellen respondeu, batendo os quadris contra os de Olive, que revirou os olhos e continuou andando. A primeiro horário seria de inglês para as duas, e a sala onde aconteceria essa aula ficaria no fim do corredor, mas como aquela sirene irritante ainda não havia tocado nenhuma vez, elas ainda tinham bons minutos. — Como vão as coisas com Pedro? — Olive perguntou, não querendo mais conversar sobre as fatídicas aulas de reforço. Na verdade ela não sabia porque estava tão irritada sobre esse assunto. Só seriam quarenta minutos, não é? Se realmente à fizesse tirar notas um pouco melhores, talvez não fosse tão r**m. — Estão do mesmo jeito. Um passo para frente, três para trás. — Hellen deu de ombros. Pedro era o "ficante" da sua amiga, mas Olive sabia muito bem que os dois estavam nesse lance à mais dois anos, nenhum dos dois assumia o namoro, mas ficavam irritados quando o outro agia como se tivessem apenas uma amizade colorida. Olívia abriu a boca para dizer que os dois deveriam parar de besteira e namorarem logo, para que assim essas briguinhas parassem, mas após pensar melhor, resolveu ficar calada, já que não adiantaria de muita coisa. A sirene tocou pouco antes de chegarem até a sala, indicando que o horário já estava para começar. Olive soltou um suspiro e entrou na sala, com Hellen logo à um passo atrás dela. O lugar já estava quase cheio, mas haviam duas cadeiras juntas, uma atrás da outra na fileira ao lado da parede. Olívia correu e pegou a cadeira que ficava logo atrás, fazendo Hellen praguejar baixinho, sentando na cadeira da frente logo em seguida. — Sua vaca. — Hellen rosnou, fazendo Olive agarrar um punhado do cabelo dela e puxar levemente. — E você, sua p*****a. — Respondeu ela, rindo baixinho e retirando o livro de inglês da mochila e colocando em cima da sua mesinha. Hellen olhou por cima do ombro e abriu a boca para dizer alguma coisa, mas antes que conseguisse produzir algum som, a professora da matéria entrou pela porta e caminhou em direção a grande mesa ao lado do quadro, silenciando todos que estavam conversando no momento. Até mesmo Hellen sabia que não deveria ficar conversando na aula da professora Jersey (conhecida por ser praticamente um carrasco, que junto com o senhor Gerald, fazia parte da dupla mais assustadora de toda a escola), então ela apenas virou para a frente e pegou o seu livro também. A professora Jersey começou a explicar a aula logo em seguida, sem enrolar ou dar sequer um "bom dia" para a turma. Olive sabia que suas notas não eram baixas nessa matéria, mas prestou bastante atenção na aula mesmo assim, não querendo ter mais uma mancha vermelha no boletim. [•••] Quando a sirene do último horário bateu, Olive levantou bruscamente da cadeira para colocar suas coisas dentro da mochila, mas então lembrou tardiamente que ainda iria precisar mais quarenta minutos ali, então soltou um grunhido de desgosto e observou todos correrem para fora como se a sala estivesse pegando fogo. Hellen teve que assistir a última aula em outra sala, então em questão de segundos, Olívia ficou completamente sozinha na sala, ainda tentando ajeitar seus livros e o caderno na mochila acinzentada. Considerando seriamente em sair correndo dali e ignorar as malditas aulas de reforço, Olive calculou mentalmente quanto tempo ainda tinha para ir para o trabalho caso ficasse. Ela tinha uma hora e vinte minutos antes de precisar aparecer na lanchonete após o término das aulas, mas subtraindo os quarenta da aula extra, ficariam apenas outros quarenta minutos, o que na verdade era tempo de sobra para almoçar, trocar de roupas e chegar até a lanchonete, então ela resolveu ficar pelo menos durante o primeiro dia das tais "aulas de reforço". Olive caminhou para fora da sala e percebeu que os corredores estavam praticamente vazios, e que todos os alunos que estavam caminhando por ele iam na direção contrária à que para onde ficavam as saídas. Soltando um suspiro rápido, ela começou a segui-los para onde quer que fosse a sala onde iria acontecer as aulas extras. Não demorou mais do que dois minutos para o pequeno grupo de adolescentes encontrar o diretor e o senhor Gerald parados do lado de fora de uma sala, que ficava no fim de um labirinto de corredores pouco usados. — Boa tarde, pessoal. — O diretor disse ao avistar os alunos, e Olive teve certeza de que ele olhou especificamente para ela, como se não acreditasse que ela fosse realmente aparecer alí. — Vamos, entrem. — O senhor Gerald disse, saindo da porta para abrir passagem para os alunos. Olive não conhecia praticamente ninguém alí (embora soubesse o nome de alguns caras e algumas garotas da equipe de líderes de torcida), mas entrou junto com todos mesmo assim, desferindo cotoveladas em quem quer que tentasse lhe empurrar. A sala era espaçosa e acomodaria facilmente o dobro de pessoas, mas Olive resolveu sentar numa das cadeiras da frente mesmo assim, observando o senhor Gerald encostar a porta logo após todos os alunos entrarem e sentarem nas cadeiras. — Bom, como vocês já foram previamente avisados, essa será uma pequena aula de reforço para aqueles que possuem notas abaixo das médias exigidas para passarem de ano no final desse último semestre. — O diretor explicou de forma calma, enquanto o professor Gerald pegava um giz e já começava à encher o quadro com cálculos gigantescos e equações de centésimo grau que tinham mais letras do que números, o que deixava Olívia completamente atordoada. — Esperamos que aproveitem o máximo às aulas extras, e não exitem em tirar dúvidas com o professor, pois tudo que for passado para vocês aqui irá cair nas provas finais. A cada palavra do diretor, Olive ficava ainda mais nervosa. Se aquelas contas enormes fossem realmente o que iria cair na prova, ela estava total e completamente fodida, já que matemática não era o seu forte. — Algum de vocês pode vir aqui responder alguma dessas equações? — O professor perguntou, pouco tempo depois do diretor sair da sala. Ele começou a fazer contato visual com nada um dos alunos da sala, então Olívia desviou rapidamente o olhar, fingindo demência, torcendo para não ser escolhida, até porque se isso acontecesse, ela sabia que iria passar uma vergonha danada ao dizer que não sabia. — Você alí do canto... — O professor começou, mas foi interrompido quando a porta foi aberta e o som das dobradiças ecoou pela sala. — Desculpe pelo atraso, professor. — Disse o rapaz eu entrar. Ele era alto e magrelo, e como Olive estava sentada na primeira cadeira da fileira ao lado da parede, conseguia ver perfeitamente o seu rosto. Ele tinha um cabelo liso absurdamente dourado, que caia ao redor da sua cabeça como uma cascata sedosa. Apesar de estar com óculos de grau, Olívia conseguiu ver perfeitamente os seus olhos verdes, emoldurados por cílios longos e loiros, da exata cor das sobrancelhas grossas e meio assanhadas. O cara tinha lábios pequenos, como se estivesse sempre fazendo um biquinho, além de um nariz reto e empinado. Além disso, ele estava todo engomadinho, com uma camisa social azul de botões e mangas curtas, além de uma calça escura e vans desgastados. — Ah, Caleb. Estava me perguntando se você viria hoje. — O professor disse para o Tigelinha, antes de abrir um pequeno sorriso. O carrasco da escola simplesmente SORRIU para o rapaz, fazendo Olive ficar de boca aberta, sem acreditar naquilo. Era possível ver naqueles olhos claros de nerd através dos óculos que aquele cara não estava alí porque precisava de aulas de reforço, e parar ganhar um SORRISO daquele demônio em forma de professor, Olívia desconfiava que ele deveria ser um garoto prodígio. — Turma, esse é Caleb Ward. Ele é assistente dos professores, e vai ajudar vocês no que precisarem aqui na sala. — O-oi, gente. — O Tigelinha respondeu, corando um pouquinho ao perceber que toda a atenção da turma estava sobre ele. — Agora, Caleb, por que não responde para a gente essas equações? Talvez ver você fazendo isso motive os seus colegas à tentarem também. — Sugeriu o professor, então o cara loiro assentiu levemente com a cabeça e deu dois passos para mais perto do quadro n***o, pegando o giz da mão do professor e analisando a primeira equação por no máximo cinco segundos, antes de começar a rabiscar no quadro com uma velocidade simplesmente impressionante. Olive observou aquilo, completamente abismada, enquanto Caleb enchia o quadro de letras, números, parênteses, radicais e inúmeras outras coisas aleatórias, que para Olive simplesmente não fazia sentido nenhum, mas depois de lançar um rápido olhar para o senhor Gerald, viu um pequeno sorriso de orgulho no seu rosto, o que só podia indicar que tudo naquela confusão de letras e números só podia estar certos. A primeira equação foi resolvida em menos de um minuto, depois a outra, depois a outra, depois a outra... Até que cada centímetro do quadro estivesse completamente cheio de pequenas letras e números. O Tigelinha parou de rabiscar e colocou o pitoco de giz no descanso do quadro, antes de soltar um suspiro rápido. — Pronto, senhor. — Disse ele, enquanto o professor Gerald analisava as respostas, como se nem ele estivesse acreditando que tudo aquilo havia sido respondido em tão pouco tempo. — Viram como se faz, turma? Espero que aprendam à ser pelo menos tão bons em equações quanto Caleb, até porquê teremos uma prova no fim da semana que vem, e o resultado delas pode melhorar, ou deixar ainda mais feia a situação dos boletins de vocês. — Disse Gerald, abrindo aquele sorriso maligno da qual todos estavam acostumados.
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