Primeiro Comando

MORENA Tenho tatuagens em lugares que estão marcados com cicatriz. Meu próprio pai, desconta suas coisas tudo em cima de mim. Pra proteger meu irmão, Enzo do meu pai, eu sempre aguento tudo calada, chorando a noite, só pra mim. Augusto- Cade a minha comida? - chegou já atrás de mim. Morena- Tá na geladeira, vou pegar pai. Ele me pegou pelos cabelos. Augusto- Por que Joca me disse que tu não foi ver ele hoje? Cê tá querendo levar uma? - ameaçou com os olhos vermelhos. Morena- Eu tenho a casa pra limpar e o Enzo pra olhar. Ele me deu um tapa na cara. Tirou a cinta da calça e marcou minhas costas, lágrimas grossas caíram pelo meu rosto. Augusto- Tu tem a obrigação de manter esse lance com ele, pra gente ter o que comer, sobreviver! TÁ OUVINDO? Ein? Morena- Eu tô. - afirmei com a voz embargada. Sai de casa pra ir trabalhar no bar do meu namorado, Joca. Engolindo a dor nas costas, as lembranças ruins que são constantes na minha mente. Renata - Cê tava demorando muito. Achei que não ia vir boba! Morena- Lá em casa não tem como ficar de boa, tem que arrumar tudo, olhar meu irmão. - reclamei colocando o avental. Renata - Cê devia fazer como eu, queria beijar um cara errado. Renata é doida, maluquinha. Porque o que ela quer é se envolver com gente perigosa. Morena- Renata, não leva essa coisa a sério! Ela riu. Renata- Tu fala isso porque tá bem comprometida, com o dono do bar. Eu não tenho nada, só levo tapa de família miga. Joca- Camila. Renata saiu, e eu fui até ele, cabelos escuros, olhos também. Morena- Oi amor. Joca- Por que tá me evitando? - pegou meu braço. - Cê tá com outro? É isso? - rosnou me apertando mais. Morena- Meu pai não sabe explicar, não é nada disso! Joca- Acho bom, se tu tem comida, se o i****a do seu irmão tem roupa, é por minha causa! - jogou na cara. Morena- Eu sei. Ele me fez encarar a minha aliança. Joca- Você é minha, de mais ninguém. Peguei uma coxinha pra comer lá no fundo do bar. Pelo menos isso, poder comer os salgados que servem. Joca- Tenho uma entrega pra ti. - apareceu me pegando no meu momento de descanso. Morena- Onde? Joca- No Gilberto. Ótimo, passar em uma viela, as seis e meia da noite. Terminei de comer e ele me pegou pela mão, colando nossos corpos. Joca- Dorme lá em casa hoje. Morena- Só vou pegar o Enzo na escola e a gente se vê na sua casa. Nos beijamos e eu peguei a sacola pra fazer a entrega. Odeio andar na rua sozinha a noite, tenho a impressão que tô sendo seguida. Um cachorro mexe no lixo, já levo um susto, quase cagando de medo. Ainda mais Gilberto, esse coroa folgado que tem carro e manda entrega. Claro, não é ele que tá saindo a essa hora pra entregar nada passando por uma viela.. Respirei fundo, olhando sempre pra frente. Segurei minha corrente de cruz, pedindo proteção. Quando tropecei bem na hora de atravessar a viela, ali na minha frente vi o que eu só via na tv. Três caras cercando um. Um loiro parece ser o chefe já que está intimidando o pobre homem que tá sozinho. Xx- Tu disse que não tem medo não é? E as dividas? Elas pagam sozinhas? Deu um chute bem no meio das pernas dele. Um soco no rosto dele. Ofeguei nervosa. Xx- O que temos ali? Um ratinho assutado.. - um deles me encarou. Levantei rapidamente, suando de medo. O loiro deixou os dois com o cara e se aproximou de mim. Os olhos azuis nos meus. Xx- O que tu viu? Morena- Nada, eu juro.. Xx- Mentira! Cadê a p***a da garantia? Ein? Peguei minha bolsa deixando cair no chão, meu celular, vinte reais, a chave de casa. Tirei minha corrente, estendi a mão pra ele. Morena- É o que eu tenho de mais valor. Minha mãe quem me deu. É de ouro. Ele pegou com tudo da minha mão. Xx- Tu nunca viu isso! Morena- Nunca, prometo. - afirmei com todas as letras. Xx- Vaza, anda! Peguei minhas coisas e sai dali as pressas. Os olhos cheios de lágrimas. Enzo- Tu demorou! Já ia com os caras.. - reclamou assim que cheguei na escola. Toda me tremendo. Morena- Enzo, eu vi uma coisa que não devia ter visto. Ele me encarou preocupado. Enzo- Morena cê tá pálida, o que foi? Cade sua corrente? Morena- Dei de garantia, o cara não vai vir atrás de mim. Enzo- É tu acredita nisso? Morena- Acredito, eu dei uma corrente pra ele. Enzo- p***a, cê tá se arriscando! Cade o merda do seu namorado nessas horas? Morena- Vamos embora Enzo. Dormi tão m*l, meu cérebro tava ainda na viela e na cena que eu presenciei. Joca- Que foi? - perguntou saindo do banheiro. Morena- Fui assaltada na viela ontem. Nunca mais vou lá a partir das cinco, levaram minha corrente! Joca- E por que tu escondeu isso de mim p***a? Só falou agora! - me encarou irritado. Morena-Cheguei cansada, cê queria o que? Tava com sono! Levantei irritada. Joca- Foi m*l, mãe tá aqui, tô preocupado com ela. Morena- Não precisa descontar em mim, ok? Joca- Não vou mais te mandar pra lá tarde não. Agora, cê procura né? Pra que ir pegar Enzo na escola? Ele já é grandinho.. Morena- Eu não quero que ele vá pra um m*l caminho! Olha o exemplo de pai que ele tem em casa! Sai de perto dele, nervosa, com o jeito que ele trata os meus problemas, ele só pensa no umbigo! Tomei um banho com pressa. A mãe dele tava na cozinha comendo pastel, dona Joana é um amor, não parece ser mãe do Joca. Joana- Camila minha linda! A abracei sorrindo. Morena- Como a senhora tá? Joana- Tô melhor fia. Joca disse que tu tava aqui e eu vim correndo, cê pouco vem aqui. Morena- Tenho o Enzo, meu pai, o trabalho. Joca- Ela foi assaltada na viela e só contou agora mãe! Ontem me deu gelo.. O encarei chocada com o teatro de "filho coitadinho." Joana- Meu Deus Camila! Morena- Tava perturbada, nunca tinha acontecido isso comigo. Joca- Quero casar logo, trazer ela pra cá, não vai demorar nada. - avisou ganhando meu olhar. Encontrei com Mel e Renata na praça, tem comida pro Enzo, minha preocupação é quando ele sai da escola. Renata- Assaltada ali na viela? Credo Morena! - levou a mão no peito. Mel- Ali depois das cinco e meia não tem boa coisa. Pego outro caminho, mas não passo por ali, nem pagando! Morena- Não dormi nada, o sono secou. Agora chegar em casa, tenho que enfrentar os mesmos problemas de novo.. Renata- Mel tava falando da mudança dela. Olhei pra Mel, curiosa. Mel- O aluguel onde estava não dava mais, família jogando coisa na cara. Uma colega falou de ir morar no morro.. Renata- Cê já se mudou? Qual? Tem vários gente! Morena- Cê tá doida? É muito perigoso! Mel- Rocinha, é enorme véi. O aluguel em conta, lá tem lei, quem entra, quem sai, morador não rouba morador. - seu olhar encontrou o meu. - Agressão é proibido, Morena, lá seu pai não ia encostar um dedo em ti! A ideia parece até surreal. Morena- Não tenho como ir morar lá, tem o Enzo, meu pai não larga a casa velha. Renata- Pois eu tô pensando em ir pra lá. O Enzo ia amar.. Morena- Lá tem coisa errada. Mel- Tu vai aguentar seu pai pro resto da vida? Cê tá de maior, pode morar sozinha! - incentivou. - Morena, tu pode vir trabalhar, fala com o Joca, seu pai bajula ele. Cheguei em casa encontrando meu pai na cozinha, comendo um pão com mortadela. Augusto- Demorou! Morena- Joca e a mãe dele são os culpados. Augusto- Não importa, limpa a bagunça vagabunda. - me encarou irritado.